sábado, 28 de novembro de 2009

Quando um homem dorme na valeta...

Hoje foi, simultaneamente, o Dia Sem Compras e o início da habitual campanha do Banco Alimentar Contra a Fome, para recolha de produtos nos supermercados.

Mais de que uma coincidência, acaba por ser uma desconfortável metáfora de um modelo de sociedade que faz ombrear a fome com o estímulo ao consumo excessivo e desnecessário, ainda encarando isso com naturalidade.
E quando escrevo «excessivo e desnecessário», não penso apenas nos sempre discutíveis e mutáveis critérios éticos (que nem por o serem se tornam menos importantes), mas também no mais elementar bom-senso acerca da sua sustentabilidade energética, hídrica, sanitária e ecológica.

Cruzaram-se hoje nos títulos dos jornais - tal como todos os dias se cruzam à nossa volta, de forma subreptícia e inquestionada - a maior capacidade de produção e consumo (incluindo de muito lixo) da história humana, a aparência da promessa de riquezas sem limite, e a naturalidade e rapidez com que se condenam à exclusão e fome massas de serem humanos, no próprio centro dessa abastança.
Sem sequer precisarmos de olhar para o lado para não vermos. Porque essas pessoas (que facilmente poderíamos e poderemos ser nós próprios) se nos tornam invisíveis.

No percurso dos seres humanos pela terra, houve e há comunidades inteiras a morrerem de fome devido a catástrofes naturais e/ou asneiras humanas.
Houve e há desigualdades capazes de lançar na morte partes de sociedades, em alturas de particular escassez.
Mas até os senhores de escravos os alimentavam de acordo com o humanamente necessário, desde que houvesse comida.
E não conheço antecedentes históricos, fora do quadro do capitalismo, para a paulatina fome de parte da comunidade, em tempos de abastança.
Nem antecedentes, com crises ou sem elas, para tanta abastança.

Tenho para mim que impedir a fome, havendo comida, é uma responsabilidade do Estado. Mas não o faz. E a fome existe.
Tenho também para mim que, no quadro societal em que vivemos, a caridade cara-a-cara é degradante para quem a dá e para quem a recebe. Mas é de solidariedade e de decência humana que se trata. E a fome existe.
Um mundo diferente só pode ser possível. Mas temos muito que andar e que fazer. E a fome existe. Hoje.

A meia dúzia de coisas e de euros que nos permitem encher o saco que entregamos ao Banco Alimentar não mudam o mundo. Não mudam sequer a vida de quem tem fome. Mas permitem a alguns comer.

Penso que vale a pena.
Desde que não nos sintamos, com isso, aliviados.
Desde que isso também contribua um pouco para que essas pessoas deixem de ser invisíveis aos nossos olhos. Não como situações, mas como pessoas.

E, já agora, desde que isso nos lembre de quando era inaceitável e insultuoso, para cada um(a) de nós, que um outro ser humano dormisse na valeta.

Pois a naturalização da valeta, da caixa de cartão, da fome, não é apenas uma mutilação de quem somos.
É, também, uma condição para que tudo assim continue.

Tinha marcação na manicura

Afinal, Cavaco Silva, aquele Presidente da República que nunca disse nada contra o regime derrubado no 25 de Abril porque «não era rico e tinha que trabalhar» e para quem dia 10 de Junho ainda é o Dia da Raça, não aceitou o convite para estar na enorme homenagem a Ernesto Melo Antunes porque já tinha uma coisa marcada.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Um Amor Colonial (para o Natal?)

Depois de um longo atraso que continua a ser para mim incompreensível, está finalmente impresso e encadernado o livro Um Amor Colonial, de que vos mostrei algumas pequenas transcrições aqui.

Desta vez, acredito e posso afiançar-vos, porque o estou a ver e a apalpar, com estes olhos e mãos que (dizia a minha avózinha) a terra há-de comer.

Ainda existem umas coisitas a resolver, pois os exemplares vieram acompanhados de uma minuta de contrato inaceitável.
Se, por esse lado, tudo correr a contento de ambas as partes, o lançamento será ainda na primeira quinzena de Dezembro.
Darei notícias.

Citações de café (20)

No Blue Note Cafe, única zona de fumadores do aeroporto de Memphis, um homem e duas mulheres envergam T-shirts dizendo "Rednecks to Amsterdam or burst".

Estão tão entusiasmados com a viagem, a cerveja e a sofrível música ao vivo que perdem o avião.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Estou a ficar velho

Só agora, dando uma voltinha pelos blogs, reparei que estamos a 25 de Novembro - a data que marcou, em 1975, o fim da revolução portuguesa.

E isto, em dois sentidos.
No mais habitualmente usado de final do PREC e num outro: o do rápido emprateleiramento dos que tinham saído à rua em 25 de Abril do ano anterior ou tinham preparado a coisa, fossem agora vencedores ou vencidos.

Dos 3 mais mediáticos vencedores, garbosos militares da foto, aquele que comandou o 25 de Novembro (e já tinha sido figura central na preparação do 25 de Abril) levou um chuto logo que possível.
O seu lugar-tenente operacional (que se tinha mantido cuidadosamente à parte do Movimento dos Capitães) virou Presidente da República.
O operacional que deu mais nas vistas (contrastando com o 25 de Abril, em que tinha assumido responsabilidades mas arranjou uma série de desculpas para não sair do quartel) tornou-se o único militar português a virar general depois de reformado.

Como me dizia, há anos atrás, um saliente e também ele mediático vencido de Novembro, «Não é o 25 de Novembro que eles não nos perdoam. O que eles não nos perdoam é termos feito o 25 de Abril.»

É assim até hoje.
E isso, enquanto cidadão português, é que não posso aceitar.
É algo de profundamente obsceno. Quer se celebre ou se chore o que aconteceu há 34 anos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Back from New Orleans

... mas ainda cansado da viagem.

As notas de reportagem ficam, por isso, para amanhã ou depois.
Por agora, esta foto junto ao Mississipi e estas outras no Antropovistas.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Acumulação de capital na África austral


Via o blog do Carlos Serra, cheguei a este interessante livro, de download gratuito.

Para compreender melhor algumas coisas que por lá se passam, e para lembrar aos apólogos do "bom selvagem" que o capital não tem cor.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Tintada eleitoral

O método de chapelada eleitoral observado por jornalistas televisivos na cidade da Beira teve, segundo se tem constatado na revisão de votos lançados como nulos pelas respectivas mesas, uma abrangência regional e um peso quantitativo bastante maiores do que se supunha.

A título de exemplo, só na cidade de Maputo, Deviz Simango terá visto 6.000 votos fraudulentamente anulados através do esquema da dedada de tinta colocada por membros da mesa durante a contagem dos votos.

Afonso Dhlakama ia, ontem com 22.000 votos "dedados" e a Renamo com 23.000, dos quais 17.000 só na província de Manica - o que, a brincar a brincar, lhes estava a dar menos 1 deputado, em benefício da Frelimo.

De onde se conclui:

1 - Não vale a pena estar a fazer já uma análise precisa e fina dos resultados eleitorais. É mais económico esperar pelo fim das surpresas - de que, para já, resultou a alteração dos deputados eleitos por dois partidos.

2 - Mesmo não tendo dependido disso a vitória folgadíssima da Frelimo e de Armando Guebuza, torna-se evidente a existência de uma acção partidária concertada, a nível nacional, de acções de fraude eleitoral.

3 - Juntando à "dedação" (em zonas menos favoráveis) as mesas eleitorais com quase ou mesmo com mais (!) de 100% de votantes (em Gaza e Tete), e juntando-lhes ainda as polémicas actualização do recenseamento e exclusão de listas do MDM, o quadro é muito preocupante. Sobretudo depois do Zimbabwe e das reacções que esse processo mereceu, entre outros, em Moçambique.
Desta vez não. Mas... e se/quando a Frelimo enfrentar, no futuro, um risco real de perder o poder? Como será?

4 - Pelo menos com jornalistas e delegados dos partidos à sua volta, assistindo ao processo, a CNE pode ser um efectivo instrumento de controlo da legalidade democrática e de correcção das chapeladas mais evidentes.

5 - Depois do verbo "rombar", Moçambique parece estar a caminho de encontrar a sua própria palavra, pera substituir essa portuguezisse da chapelada eleitorar.
A dúvida será entre "tintada" e "dedada".

Adenda: segundo informação do Carlos Serra que, infelizmente, tive oportunidade de confirmar, a notícia para onde remete o segundo link deste post foi removida ao início da noite do site do jornal "País".

Tomem bem nota

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Muros de Joanesburgo



Coisas simples que contam muito

Fiquei bastante surpreendido quando, ao abrir o Público de hoje numa dupla página sobre os resultados das eleições moçambicanas, dei de caras com uma frase minha que o jornalista escolheu para colocar em letras bem grandes:

«Mesmo que as coisas não melhorem como as pessoas gostavam, está-se em paz e consegue-se ir vivendo, e isso é valorizado.»

Não é, de facto, o tipo de questão que um jornal costume destacar, de entre as muitas outras sobre tácticas partidárias e estatais, mensagem política, usos de meios, and so on.

Mas depois percebi - ou, pelo menos, julgo ter percebido.

Aquela frase foi escolhida exactamente por sair fora do trivial analítico em que quase sempre se esgotam as declarações feitas nestas circunstâncias.
Foi escolhida por chamar a atenção para um factor que julgo ser fulcral, mas que não é equacionado, por não fazer parte do "manual do comentador".
Por ser algo a que, independentemente da sua importância bem real, só daria atenção um antropólogo praticante que se tivesse vindo a aperceber dessa relevância ao longo da sua convivência corrente com as pessoas.

E muito agradeço ao João Manuel Rocha (o jornalista em causa), por me ter feito lembrar essa coisa simples e essencial acerca da minha profissão.

Liberdade e movimento

Disse um ícone do século XX que «o primeiro dever de um revolucionário é fazer a revolução».

Acrescento eu que o segundo dever de um revolucionário é, vitorioso, grantir a liberdade e assegurar-se que existem condições efectivas de oposição ao seu poder.

Voltei a lembrar-me disto há dois dias atrás.
E volto a lembrar-me hoje.

sábado, 7 de novembro de 2009

Mistérios da memória

E lá se passou mais um 7 de Novembro, data inapelavelmente fulcral do século XX em que depreendo todos nascemos e, na esmagadora maioria dos casos, vivemos a maior parte das nossas vidas.

É curioso.
Estive hoje num debate em que pelo menos 1/3 dos presentes eram ex-comunistas, ou pessoas que ainda reivindicarão esse título, sem qualquer prefixo.
Ninguém se lembrou desse facto ou, pelo menos, o referiu.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Rampa para crocodilos


Sempre que estou uns tempos sem lá passar, dou sempre com alguma coisa que me surpreende.

Olhem só o sinal que o Toix foi descobrir na bendita África do Sul!

"Estado" escreve-se com "F". "Rádio" também

É pena não se conseguirem copiar as imagens, para vos poder mostrar.

Assim, têm que clicar para o site da Rádio Moçambique.
É, já agora, o único meio de comunicação que chega realmente à generalidade da população e é estatal - sendo, portanto, paga pelos poucos contribuintes moçambicanos e pelos dos países que financiam o Orçamento de Estado local.
Lá chegados, verão, no canto superior esquerdo logo abaixo do cabeçalho, uma sucessão de 5 bonitas fotos.

Como descrevê-las?
Não é fácil, mas tentemos.

A primeira é uma visão de conjunto de garbosos jovens com um ar simpático e determinado, empunhando cartazes de um dos partidos concorrentes às eleições parlamentares e provinciais. É, suponho que por acaso, a Frelimo.

A segunda é um ajuntamento de gente alegre, vitoriando um senhor sorridente que entre eles avança, um par de passos à frente da esposa, como deve ser. Também suponho que por acaso, esse senhor é um concorrente às eleições presidenciais, para além de Presidente da República e da Frelimo. Para quem não conheça, chama-se Armando Guebuza.

A terceira foto é um muito belo friso de mulheres sentadas num plano elevado, todas elas com vestes muçulmanas de um lindo tom de azul. Talvez por distração de quem assim quiz mostrar a diversidade do país, o tal plano elevado está debruado com duas filas de cartazes alternados, dizendo uns deles "Vota Frelimo" e os outros "Vota Armando Emílio Guebuza".

Segue-se a já clássica foto de mulheres Macua com o seu branco produto de beleza facial, belas e sorridentes como sempre. Por um qualquer acidente, apresentam os lenços de cabeça adornados com grandes autocolantes da Frelimo.

Por fim, a sempre necessária foto de uma bela e rechunchuda bébé. Infelizmente, não se lhe vê parte da cara, que calhou estar tapada por um panamá com um enorme autocolante. Não é que isso interesse, mas diz "A Frelimo é que fez, a Frelimo é que faz".

É belo e instrutivo.
Lembra-nos que "Estado" se escreve com "F".
E que "Rádio" também.

Não havia, mesmo mesmo, nexexidade

Enquanto espero pelos resultados finais das eleições moçambicanas para vos fazer uns mapas e quadros todos bonitos, acompanhados de uns comentários todos inteligentes, aqui vos deixo a descrição circunstanciada da chapeladinha eleitoral que foi glosada há uns dias pelo meu colaborador Diácono Remédios.

Conforme refere o autor da notícia, quando a anulação a posteriori de votos é feita com dedadas de tinta, provar o que aconteceu (e que será crime) está a cargo da Polícia de Investigação Criminal, «se o desejar e se lhe for permitido».

Estamos, então, perante um jornalista que conhece a genial máxima política que uma vez ouvi a um meu conhecido do Xipamanine: «Na democracia, posso dizer o que quero, mas ninguém liga ao que eu digo.»

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Era uma vez um senhor

Claude Levi-Strauss faleceu este domingo, depois de 100 anos muito bem aproveitados e que marcaram o pensamento (e não apenas a antropologia) do século XX.

É uma ocasião tão boa como outra qualquer para que quem não o leu o faça agora.
Como forma de homenagem, ou de matar curiosidade, ou de descobrir um tipo de raciocínio fascinante.

O seu primeiro livro que li (lembro-me muito bem, e muito longe estava então de imaginar que viria um dia a ser antropólogo) foi este A Oleira Ciumenta.
Foi uma experiência única e, por isso, aconselho quem me queira ouvir a que faça o mesmo.

Da minha relação ambígua com a sua obra, feita de fascínio e admiração que, ajudada por isso, por vezes se torna em irritação com alguns dos abusos que comete, talvez fale um destes dias.

Mas isso pouca relevância tem.
Perante gigantes como este, o que menos interessa são os estados de alma de pigmeus como eu.

Leiam-no, pois.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Rosa e o Laranja

(e etc.)

Nos tempos de Stendhal, jovens provincianos que fossem ambiciosos, chico-espertos e fura-vidas como o protagonista de O Vermelho e o Negro tinham dois caminhos para, espezinhando aqui, traindo ali e sacaneando acolá, tentarem chegar àquilo que considerassem "subir na vida": a carreira militar e a carreira eclesiástica.

Nestes sombrios tempos de classes em vez de ordens, em que a tropa voltou a ter lepra e até a Opus Dei se arma em selectiva, o caminho escolhido pelos modernos gémeos do Julien Sorel é só um, embora com duas vias paralelas (que não obstante, veja-se o nosso primeiro, se podem cruzar antes do infinito): o Rosa e o Laranja.

Se o aspirante a grande homem teve a ventura de nascer periférico, integra desde bem cedo uma juventude partidária governante (mudando se naquela não estiver a dar) e vai treinando as suas potencialidades espezinhadoras, traidoras e sacaneadoras até chegar, com reduzida concorrência, ao pináculo distrital da coisa.
Jovem com horizontes mais largos do que o enriquecimento de clocher, numa Câmara assim como assim já ocupada por algum tubarão de aquário mas com dentes afiados, não faz concorrência a essa fauna. Antes lhe demonstra a sua modéstia e utilidade, acabando por entrar para o parlamento, num dos últimos lugares elegíveis lá do sítio.

Nova liga, novo jogo.
E lá busca este Heroi do Nosso Tempo gémeos cúmplices, contra inevitáveis gémeos inimigos, e algum patrono por conta de quem vá mordendo umas canelas (ou, de preferência, barrigas-da-perna) e calcando alguns cadáveres.
Se o patrono é bem escolhido, há boas hipóteses de que a coisa esteja lançada. E nem foi preciso perder tempo e concentração com essas mariquices dos estudos - que, para os mais formalistas, poderão sempre vir mais tarde a ser feitos, por fax, que dá muito mais jeito.

Entrementes, o capital de influências vai-se alargando e, se não for trucidado antes disso pelos seus semelhantes, a alternância democrática lá lhe abrirá um lugarzinho no governo - e, com um bocado de sorte e dentadas certeiras, sem ter que ser assessor antes de secretário de estado, ou secretário de estado antes de ministro.

A chatice é que essa mesma alternância (ou alguma calinada mais escandalosa) de lá o tirarão e que, normalmente, as capacidades que lá o meteram não chegam para lá voltar.

É galo, mas é a vida.
Resta capitalizar todo esse percurso e conhecimentos (pessoais).
Para os mais megalómanos, à frente de empresas mirambolantes ou com o lucro assegurado por favorecimentos estatais.
Para os mais modestos ou queimados, uns discretos lugares de gestores públicos, assegurados por cavalheirescos adversários ou por solidários correlegionários - que, as mais das vezes, se tornaram difíceis de diferenciar.

Mas há sempre a possibilidade de ter mais olhos que barriga, ou de não ter perdido os hábitos mixurucas dos velhos tempos de ascensão e ribalta.

E lá acaba o pobre Sorel da Merdaleja, apesar de todas as tentativas de adversários-e-correlegionários para olharem noutra direcção, por deixar apodrecer em público a galhinha dos ovos de ouro, ou por ser gravado pela bófia a pedir subornos para mexer uns cordelinhos.



E será que não há por aí nenhum Stendhal disponível, para fazer deste O Rosa e o Laranja um grande romance para as gerações vindouras?

domingo, 1 de novembro de 2009

Previsões de deputados

Já que a esperada vitória de Armando Guebuza é evidente e muitíssimo folgada (desde o primeiro encerramento do escrutínio nacional, dia 29, que apresenta resultados em torno dos 77%), olhemos para o que aproximadamente será o novo parlamento moçambicano.

E, já agora, para o que seria sem a proibição de candidatura do MDM a 9 dos círculos eleitorais.

Os primeiros três valores correspondem aos deputados já eleitos.
Os seguintes correspondem a projecções a partir dos resultados agora conhecidos.
Quanto a estes, deverão ter em conta que nas principais províncias do norte ainda só há de 41 a 55% de mesas apuradas. No entanto, só em Nampula as percentagens têm variado de forma significativa ao longo destes 3 dias, mas sempre em benefício da Renamo.

Excluindo os círculos da emigração (onde habitualmente ganha os 2 deputados), a Frelimo deverá vir a obter cerca de 192 deputados, o que constitui um aumento de 34 e passa a corresponder a mais de 3/4 do parlamento.

A Renamo deverá ficar-se pelos 48 deputados, o que constitui uma quebra de 42 representantes, ou seja, de 46,7% do seu actual grupo parlamentar.

É quase impossível que o MDM venha a eleger, nas duas províncias que lhe sobram, mais alguém para se juntar aos 8 deputados que já assegurou.

Utilizando como base de projecção os resultados presidenciais, o quadro seria sensivelmente diferente (embora não de forma radical) caso o MDM pudesse ter concorrido em todo o país.


A ser assim, o MDM elegeria mais 9 deputados, atingindo um total de 17, retirados tanto à Renamo quanto à Frelimo.
Teria, para além disso, uma bancada bem mais representativa a nível nacional, visto que só não obteria representação em Gaza, Inhambane e Niassa.

Assim, retiraria à Renamo o seu deputado pela província de Maputo, dois pela Zambézia e um por Cabo Delgado, por Nampula, por Tete e por Manica.
Retiraria, por sua vez, à Frelimo um deputado por Nampula e outro pela Zambézia.

Dessa forma, se o affaire CNE não revolucionou os resultados eleitorais, também esteve muito longe de ser irrelevante.