É extraordinária a força que a hegemonia (não no sentido coimbrão de "supremacia", mas na acepção gramsciana de integração, pelos dominados, do discurso da ideologia dominante que justifica a sua dominação) tem vindo a demonstrar no país dos Galos de Barcelos.
Não contem a ninguém, mas começo a ter pesadelos recorrentes com rebanhos que se dirigem pelo seu pé para o matadouro, balindo rezinguices e comentando as vantagens dos choques eléctricos em comparação com a degola, ou o esventramento.
Nalgumas noites, a coisa dura mais um pouco até acordar. Então, carneiros muito subitamente emagrecidos desatam à cornada aos outros e entre si, para júbilo de outros marchantes, que se entusiasmam a tentar acertar uma cornada nos cães do pastor. O que, por sua vez, enche de júbilo uns terceiros, que nisso imaginam futuros radiosos.
E a marcha continua. Por entre o som incessante de balidos de resignação, de indignação, de justificação, de ira e de exortação.
Por vezes, ao acordar, procuro assarapantado certificar-me se não me terá, entretanto, crescido lã.
Entre tais terrores nocturnos e fotos de certeira ironia, como esta, vem-me por vezes um amargo à boca.
É que, por certeira que a ironia seja, faz-me também pesar a ameaça de outros pesadelos.
E passa-me pela cabeça: Se a tal de hegemonia continuar a funcionar tão bem, a que é que ainda assistiremos - por exemplo - num país da minha predilecção em que 50 a 60% do orçamento de estado é pago por governos da "Europa em crise", e em que todo esse dinheiro é apenas 25 a 30% do que por lá entra em "ajuda ao desenvolvimento"?
Que os seus governantes repetissem entre si a frase da foto, em jeito de prece, pouco me surpreenderia.
Mas... e se a coisa hegemonicamente se espalha?
Será que ainda vamos ver miúdos de calção rasgado a escreverem na terra, agora em português (já que a escrita das línguas locais só em altos estudos se aprende), «Por favor salvem os bancos»?
É já só o que falta.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Nesta primeira sociedade na história em que se morre à fome havendo comida de sobra...
... a frase desta senhora (para quem tenha mais dificuldades com o inglês, diz «Um dia os pobres não terão mais nada para comer a não ser os ricos») talvez seja mais metafórica que factual.
Antes disso, terão ainda a possibilidade de "apreender" a comida a que os ricos e os menos pobres lhes vedam o acesso, por não terem dinheiro, e a riqueza dos ricos e dos menos pobres que eles, para a transformarem em acesso à comida.
É bastante plausível que por aí passe um futuro em que se continue a agravar o empobrecimento, precarização e incerteza de vida da grande maioria, a par de uma progressiva concentração de riqueza - cuja obscenidade se torna tão mais evidente e violenta quanto maior é o seu contraste com as dificuldades gerais.
Algo que as "elites" e as "classes médias-altas" de muitos países africanos aprenderam a ignorar no seu quotidiano (até aqueles dias em que pneus são queimados e os seus armazéns saqueados), e que os detentores do dinheiro e do poder na Europa tentam aprender a ignorar. Confiantes na ignorância, resignação e capacidade de sofrimento dos outros, confiantes na sua própria capacidade repressiva.
Voltarei ao assunto.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Um euro de boa surpresa
É inevitável que nos vão escapando alguns livros de um escritor muito activo de que gostemos.
A "Parábola do Cágado Velho", de Pepetela, foi até à semana passada um desses casos.
Passando no quiosque dos jornais, lá estava ele, nessa colecção que vai saindo a 1 euro.
Tenho? Não tenho? Será que li emprestado?
Mas como, há coisa de um ano atrás, andei a correr quiosques e tabacarias até açambarcar o número de exemplares do "As Duas Sombras do Rio" (do João Paulo Borges Coelho) que fosse suficiente para colocar esse meu mui amado romance em cada uma das casas a quem dou presentes de natal, lá pensei que, mesmo que tivesse, não se perdia nada.
Afinal, não tinha.
E foi o livro que mais prazer me deu ler no último par de meses.
Por 1 euro, o que é que querem que vos diga?
Vão até à tabacaria da esquina, enquanto há!
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Books,
Isto é que vai uma crise
domingo, 25 de setembro de 2011
Velhos discos de cabeceira (2)
Na minha cronologia pessoal, estes até vêm um pouco antes. Mas por cá continuam.
Lembrem-se, ou descubram - porque, de facto, já começo a ter uma idade desconfortavelmente respeitável.
(Estes vão para o Almiro Lopes e o João Moreira)
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Harmónicos e melódicos
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Velhos discos de cabeceira (1)
Leonard Cohen, in Songs of Love and Hate
(para o Jorge Amador, o Jorge Montez e a Paivikki Polonen)
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Harmónicos e melódicos
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Coisas que não se dizem em conferências finas sobre segurança (Diz, Mia. Diz!)
É verdade que o medo também tem as suas raras vantagens históricas. Afinal, foi o medo do comunismo que permitiu a construção do welfare state e umas décadas de mais justa distribuição da riqueza entre o capital e o trabalho.
Mas posto isto, se um dia juntarem o Mia e o Denis Duclos a falarem acerca do terrível perigo actual do medo (e da ideia de vivermos numa "sociedade do risco"), não se esqueçam de avisar.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
it'a a small, huge, worderful world. É mêmo, cara!
Passando por aqui, para ver em que paravam as modas, fiquei a saber que este modesto blog foi visitado por alguém de Cachoeiro de Itapemirim (diz que de Espírito Santo, Brasil).
Para além da minha sempre renovada e geral surpresa , plasmada no painel de bandeiras da coluna da direita, uma designação tão sugestiva e motivante (mesmo para mim, nascido no Alentejo, terra dos sobrenomes mais criativos e surrealistas do mundo, Brasil incluído)fez com que procurasse googlar umas fotos.
Existem! E são belas.
Abençoado país, que tanta vontade dá de visitar os lugares mais improváveis!...
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It's a small world
Curiosidades quotidianas
Ao mesmo tempo que, esta manhã, eu ia recolhendo a roupa que secara no estendal, uma senhora tratava de reparar uma avaria no seu estore, na casa em frente.
Os papeis de género já não são o que eram...
Os papeis de género já não são o que eram...
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Antropocenas rápidas,
É a vida,
Galos de Barcelos,
Tudo cambia
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Anda uma "Semana do livro" pelo Facebook
E cito: É a semana internacional do livro. A regra: pega no livro que está mais próximo de ti. Vai à página 56. Copia a 5ª frase para o teu post. Não indiques o título do livro e escreve também a regra no teu estado. Não vale fazer pesquisa no google.
«O que resiste à universalidade é a dimensão propriamente inumana do Próximo.»
Aceitam-se apostas.
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Books
domingo, 11 de setembro de 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Discutindo convulsões sociais
Após vários pedidos, aqui fica o link para o programa "Discurso Directo" de ontem, onde pude falar um pouco de relações entre crise e convulsões sociais:
http://www.tvi24.iol.pt/videos/pesquisa/Discurso+Directo/video/13478949/1
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Olha! Um antropólogo a discutir convulsões sociais na TV...
Acabadas as férias e o trabalho escondido feito em casa, vou estar amanhã às 15 horas na TVI 24, para discutir a possibilidade de convulsões sociais violentas, em resultado da crise e (diria eu) das políticas que estão a ser aplicadas para a enfrentar.
Claro que virão à baila o Zizek, o Gramsci, o Brecht e as coisas que tenho andado a escrever ou a dizer acerca do potencial explosivo da generalização da incerteza/precaridade e do sentimento de ruptura do "contrato social" (diferente, em diferentes sítios e grupos sociais).
Mas... há alguém que queira começar já o debate, ou sugerir achas para a fogueira?
Claro que virão à baila o Zizek, o Gramsci, o Brecht e as coisas que tenho andado a escrever ou a dizer acerca do potencial explosivo da generalização da incerteza/precaridade e do sentimento de ruptura do "contrato social" (diferente, em diferentes sítios e grupos sociais).
Mas... há alguém que queira começar já o debate, ou sugerir achas para a fogueira?
(acima, a belíssima foto do Toix que ainda um dia hei de conseguir convencer a IUP a "comprar", para capa de um livro em gestação)
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