A antropologia tem, por vezes, resultados inesperados. Este é gastronómico.
Quando estudava a refinaria de Sines, convivia bastante com um operador de consola que fazia gala em falar comigo de tudo menos do seu trabalho. O Canotilho é uma pessoa muito assertiva e, durante um jantar em sua casa, soltou no seu estilo lapidar: «Isso de camarão cozido é só do pequeno. Camarão grande é para fritar em cerveja!»
A coisa ficou-me a marinar no bestunto e, na ausência de mais explicações, acabou por resultar na primeira receita que inventei, na tentativa de desvendar esse mistério do "fritar em cerveja".
A coisa faz-se assim:
Descasca-se um meio quilo de camarão de bom tamanho, deixando agarradas a cabeça e a ponta da cauda e dando um corte fundo ao longo das "costas" dos bichos.
Num wok ou numa frigideira alta, põe-se uma talhada de margarina a derreter (suficiente para fritar os animaizinhos, mas não para os afogar), com sal, meia cabeça de alhos cortados às tiras e duas malaguetas, daquelas pequeninas e mal-dispostas.
Quando essa mistura já frita em lume forte, metem-se lá os camarões e viram-se quando necessário, para levarem uma fritura ligeira mas geral, a toda a volta.
É nessa altura que se espreme limão (um pequeno, ou metado de um grande) e se dão umas borrifadelas de molho de soja.
Após umas rápidas voltas que vão homogeneizando o molho, deita-se cerveja (de preferência Super Bock ou, em Moçambique, Manica) até os camarões ficarem submersos. Mexe-se de novo e deixa-se tapado, agora num lume brando mas suficiente para manter fervura.
Quando o cheiro muda e se torna irresistível, ao mesmo tempo que o molho engrossa sem deixar de ser líquido, a coisa está pronta.
Sirva-se com arroz branco ou "à guloso", apenas acompanhado de pão para ensopar o molho.
Este prato, chamado "Camarão à Antropólogo" (era originalmente "à Antropólogo Industrial", mas os convivas achavam que isso dava uma imagem poluída ao assunto), foi crismado "Camarão à Pai" quando não se usam as malaguetas.
domingo, 30 de setembro de 2007
Camarão à Antropólogo, aka Camarão à Pai
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Croniquices,
Paparocas
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