quarta-feira, 14 de março de 2012
Cada um se orgulha daquilo que a sua cabecinha permite...
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Constatações polémicas - 3: Aniversário de pais incógnitos
Isto porque, é bem sabido, o objectivo de uma guerrilha não é vencer militarmente no terreno, mas levar o opositor a não ter vontade e/ou condições para continuar a combater.
As independências vieram depois, por vezes com enormes sobressaltos até lá. Mas a sua estrondosa vitória deu-se na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974.
Uma vitória de pais incógnitos. Por lá, porque deve ter havido quem achasse que o objectivo estratégico da sua luta armada não seria suficientemente heroico, quando vertido no discurso público. Por cá, porque reaparecem ciclicamente umas alminhas carunchosas a clamar que as guerras não estavam militarmente perdidas, como se isso fosse o relevante em guerras como aquelas.
Entretanto, combatentes dos movimentos de libertação, obrigado pela vossa contribuição para a nossa própria libertação.
Constatações polémicas - 2: Refazendo a história
Mas, aqui entre a gente, mesmo que ele tivesse saltado fora, ou nem sequer tivesse sucumbido às insistências do Duran Clemente para ir à sua primeira reunião com o Movimento, suponho que não teria sido complicado arranjarem outro gajo qualquer para coordenar operacionalmente o golpe.
Tal como arranjaram o Otelo para substituir o Vasco Lourenço, quando este foi desterrado para os Açores…
Constatações polémicas - 1: Liberdade, coisa "natural"
Não me desagrada, porque isso quer dizer que, para eles, a liberdade é uma coisa natural, um dado adquirido que sempre conheceram e que, por isso, nem sequer justifica celebração.
É claro que não é assim, que a liberdade só é “natural” nas abstracções de alguma filosofia política e que nunca é um dado adquirido.
É claro que a liberdade que conhecem é resultado de milénios de lutas, expressão de um equilíbrio mutável de poderes e um bem permanentemente ameaçado.
Mas estará menos apetrechado para defender a sua liberdade (e para se aperceber quando ela é posta em causa) quem a sinta como natural?
Duvido muito. Não se aperceberão de como é fácil perdê-la; mas, mais do que quem se habituou a conhecer a sua ausência, encararão essa perda como inaceitável.
A aparente indiferença dessas pessoas mais novas é, afinal, a maior das comemorações, o mais forte hino à liberdade – e, saibam-no elas ou não, àqueles que contribuíram para que ela se tornasse normal.»
Maputo, 25 de Abril de 2008
quarta-feira, 16 de março de 2011
O nojo!
Que o professor jubilado Aníbal Cavaco Silva nunca tenha dito uma palavra contra a ditadura do "Estado Novo" e justifique isso por não ser um menino rico e não se poder dar a esses luxos, revela-nos um cobardolas como muitos milhares, capaz de esconder essa característica por detrás da desvalorização e insulto aos que não se calaram.
Que, para aceder a um emprego, tenha escrito preto no branco estar em consonância com o regime vigente (o tal da altura), até pode ter constituído uma mentira ou semi-verdade, reveladora da falta de espinha vertebral ou da sua capacidade de fazer a sua vidinha, fosse qual fosse o regime político em que vivesse.
Que o presidente da república (desculpem a ausência de maiúsculas mas, hoje, não as consigo escrever) Aníbal Cavaco Silva tenha chamado ao 10 de Junho "Dia da Raça", até poderia ter sido, com muito boa vontade da parte de quem ouvisse, um lapso de quem tão facilmente se adaptou aos tempos da outra senhora.
Mas que em 2011 exorte "os jovens" (essa vaga entidade que de novo se tornou politicamente apetecível) a empenharem-se «em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar» vai para lá de qualquer imbecilidade, falta de cultura democrática ou de visão histórica.
É cuspir nos jovens de hoje, é cuspir nos jovens de ontem que foram obrigados a travar essas 3 guerras, é cuspir nos mortos e mutilados físicos e psicológicos que delas resultaram, é cuspir nos povos tiranizados pelo colonialismo e naqueles que contra ele se levantaram, é cuspir naqueles que derrubaram a ditadura tendo o fim dessas guerras como um dos seus três objectivos fundamentais, é cuspir no regime democrático que disso resultou e que este senhor é suposto presidir e representar.
Também por lá andou, como muitos? Sim. Mas isso não desculpa (tal como a sua declaração escrita de apoio à ditadura não o justifica) o branqueamento da história, desconfortável mas nossa, com base no próprio discurso fascista.
Este presidente não é apenas um erro de casting pela forma como se comportou antes de 1974 e pelas discordâncias políticas que com ele se tenham no presente.
De cada vez que abre a boca acerca do passado (ou de qualquer coisa que com ele esteja relacionada), fica mais claro que não foi apenas uma pessoa demasiado cobarde para criticar a ditadura, ou sequer demasiado conformista para se sentir desconfortável por viver nela.
Fica mais claro que é lá que estão as suas referências políticas e sociais profundas, e não no Portugal democrático em que, com todas as suas limitações, vivemos.
Nem vale a pena, suponho, lembrar as consequências que declarações como estas teriam em qualquer país democraticamente decente.
E, afinal, elas fazem com que saudar, no mesmo discurso, os «militares de etnia africana» pareça quase uma calinada irrelevante.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Balas, gases, estilhaços e tifo, sim. Vergarem a mola é que não.
Parece que. mesmo morrendo que nem tordos nas trincheiras (a maior parte das vezes por incompetência, pedantismo e desumanidade dos seus aristocráticos generais), havia quem precisasse que fossem pessoas com a pele mais escura a fazerem o trabalho braçal.
Isto, pelo menos, na perspectiva dos tais generais e dos poderes públicos.
Porque (facto normalmente pouco conhecido hoje em dia, talvez devido ao peso simbólico da longa e heroica epopeia anti-apartheid), havia por essa altura na África do Sul um forte movimento operário e sindical "branco" que, metralhado em insurreições revolucionárias pelos mesmos generais que os tinham mandado para a morte na Europa, se tentou unificar com os operários "negros".
Parece que levaram um pouco de tempo de mais a perceber que, numa sociedade tão capitalista como era já a África do Sul no início do século passado. a classe importava mais do que a cor.
Tivessem percebido mais cedo, e talvez o apartheid nunca tivesse existido, e talvez o colonialismo tivesse durado muito menos tempo, em África.
Mas a vida passada é o que foi, não o que poderia ter sido...
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Papers in english
I will add the ones on lynchings, on the Maputo riots and on Portugal as soon as I find them.
On industry and danger:
"The mine come to town - historic memory and the most recent Mozambican industry"
"Working at Mozal - the construction of a border culture"
On twins, albinos and folk politics:
"Twins, albinos and vanishing prisoners - a Mozambican theory of political power"
On divination and chaos:
"Determination and chaos, according to Mozambican divination"
"«It's just the starting engine» - the status of spirits and objects in south Mozambican divination"
On cleansing rituals and veterans' reintegration:
"Cleansing rituals and veterans' reintegration in Mozambique"
"The homecomer - postwar cleansing rituals in Mozambique"
On bridewealth:
"The lobolo of my friend Jaime - an old language for innovative conjugality"
"Wining back our good luck - bridewealth in nowadays Maputo"
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Uma prenda africana
Agora que estão todos, aqui vos deixo a lista, com um grande obrigado e um ainda maior abraço ao Carlos.
I - Metodologia e pré-história da África
II - África antiga
III - África do século VII ao XI
IV - África do século XII ao XVI
V - África do século XVI ao XVIII
VI - África do séc. XIX à década de 1880
VII - África sob dominação colonial, 1880-1935
VIII - África desde 1935
sexta-feira, 25 de junho de 2010
35 anos
Parabéns, Moçambique!
Boa sorte, moçambicanos!
domingo, 13 de junho de 2010
terça-feira, 11 de maio de 2010
Pecados e Crimes
Enquanto (segundo me vieram jocosamente informar) o Papa se dirige, por entre um arraial de segurança, para o Terreiro do Paço, parei o trabalho que estava a fazer, ao lembrar-me de uma leitura na revista Pública deste domingo.
Nela, eram apresentadas pitorescas informações acerca das alegres debochices de diversos Papas, desde o século X ao dealbar do século XVI.
Para além de ir sendo implícita e explicitamente explorado o contraste entre tamanha rebaldaria e a situação actual, o autor da recolha - um «historiador dos Papas e dos cristãos» de aspecto very british mas que se chama Laboa Gallego - acaba por avançar com um conjunto de frases que permitem perceber porque é que este artigo foi publicado nesta data:
«Antigamente, as pessoas aceitavam que a Igreja fosse, ao mesmo tempo, santa e pecadora. (...) Nós, pelo contrário, adoptámos uma postura boa na teoria, mas impraticável: víamos os sacerdotes todos como santos. (...) Mas isso não é verdade. Somos todos pecadores! (...) Depois do que passámos, vamos passar a ser muito mais humildes. (...) Temos que aceitar, não digo com tranquilidade, mas sim com humildade, as debilidades dos cristãos, dos clérigos e da Igreja.»
É, de facto, neste plano que o Vaticano e várias hierarquias da Igreja católica têm tentado colocar a questão, tanto da pedofilia quanto do seu longo e sistemático encobrimento.
E, curiosamente, parece que tem resultado - pelo menos entre os media e os opinadores de serviço nacionais.
Se não quanto aos próprios actos de pedofilia, pelo menos quanto ao seu encobrimento - reduzido a uma questão moral e de inversão de prioridades de valores, entre o sofrimento e reparação das vítimas e a proteção da imagem da instituição.
A pedofilia e o seu encobrimento não deixam de ser, certamente, questões morais, de valores e até (para quem partilhe essa noção religiosa) de pecado.
Mas, entretanto, a pedofilia e a violação de menores são também, nos países onde ocorreram no seio de instituições católicas, crimes.
E, na ordem jurídica desses mesmos países e de quase todos os restantes, encobrir um crime e conspirar para encobrir um crime são, também eles, crimes.
A Igreja Católica e os seus chefes têm toda a legitimidade para discutir moralidade e pecado, relativamente aos actos criminosos dos seus sacerdotes e ao seu encobrimento desses crimes.
Mas não têm, nem eles nem os poderes públicos seculares, legitimidade para assobiar para o lado e pretender esquecer que é de crimes que se trata.
Ninguém no seu perfeito juízo acredita, hoje, que toda a longa série de encobrimentos de crimes sexuais cometidos por sacerdotes sobre crianças à sua guarda - encobrimentos que chegaram, como não podia deixar de ser, à Congregação Para a Doutrina da Fé e aí foram incentivados - tivesse passado ao lado do conhecimento e concordância do poderoso senhor que então comandava essa Congregação e que agora desfila num carro branco e blindado, Avenida abaixo.
Ninguém no seu perfeito juízo acredita, repito, que aquele então Cardeal não fosse, afinal, o mesmo homem que sistematicamente usou com mão de ferro as suas prerrogativas de comandante da mais poderosa e central instituição ideológica da sua Igreja, mas um pobre banana a quem estas coisas passavam ao lado e a quem o seu próprio braço direito (de então e de agora) escondia instruções criminosas, dadas em nome da instituição que dirigia.
O cargo de líder de uma religião com implantação quase universal merece, necessariamente, todo o respeito institucional que essa posição implica.
Mas seria bom (não! imprescindível.) que, para lá da questão das promiscuidades entre Igreja e Estado a que temos assistido e assistiremos nos próximos dias, as autoridades portuguesas tivessem em mente um dado que não podem ignorar:
Com toda a probabilidade, o senhor que desce a Avenida de papamóvel é, para além de um Chefe de Estado e de um líder religioso, um criminoso.
E que o respeito pelas crenças religiosas, próprias ou alheias, não nos faça tentar ocultar esse facto, de nós próprios e dos nossos concidadãos.
Até por respeito por essas crenças.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Vão pondo na agenda
Trata-se da história de vida de um homem criado em Angola, e do amor que perseguiu (e acabou por perder) por Portugal, Angola e Moçambique. Segue-se um posfácio analítico.
Para aguçar o apetite, alguns excertos estão disponíveis aqui.
sábado, 7 de novembro de 2009
Mistérios da memória
É curioso.
Estive hoje num debate em que pelo menos 1/3 dos presentes eram ex-comunistas, ou pessoas que ainda reivindicarão esse título, sem qualquer prefixo.
Ninguém se lembrou desse facto ou, pelo menos, o referiu.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
E não é que o homem é capaz de ter razão?
- Um respeitado chefe de família e de comunidade tivesse o hábito de copular com a criada em cima da barriga da esposa;
- A nora de outro respeitado chefe de família e comunidade, a quem o marido não queria engravidar, se vestisse de prostituta e engatasse o sogro, saído em viagem de negócios;
- Uma cidade fosse destruída por um cataclismo de que só se salvava a família do único homem justo, sendo que a esposa dele (que durante décadas resistira ao deboche generalizado) era morta por a sua curiosidade a fazer olhar para trás, enquanto as filhas o embriagavam e violavam repetidamente, para que as engravidasse?
- A nação heroína do livro conquistasse uma cidade, massacrasse todos homens enquanto estavam acamados e escravizasse todas as mulheres, por ter conseguido convencer o rei local a casar-se com a sua princesa, o que obrigava a que ele e todos os seus fossem circuncisados;
- Os príncipes dessa nação vendessem um irmão como escravo, por inveja, e convencessem o choroso pai de que ele tinha sido comido por animais ferozes;
- O senhor da primeira peripécia decidisse degolar o filho, por andar a ouvir vozes.
O que teria acontecido ao livro e ao seu autor?
Será que alguém diria dele que era "um manual de maus costumes e um catálogo do pior da natureza humana"?
Será que alguém diria, como o tal juíz norte-americano, que "reconhece a pornografia quando a vê"?
Vem isto, claro, a propósito da polémica acerca das polémicas palavras de José Saramago, no lançamento do seu novo livro Caím.
(aqui, aqui, aqui ...)
terça-feira, 22 de setembro de 2009
O "Companhia de Moçambique" está vivo!
Sempre pensei que esse blog constituía, para o seu autor, um trabalho terminado, já que não havia um post novo desde 2005.
E parece que era esse o caso. Mas deixou de ser.
Sem prometer «muito movimento e produção», lá nos brindou com muito e interessante material sobre os navios das "linhas de África". E a coisa irá continuar.
Quem o conhece, fique a saber que o "Companhia de Moçambique" está vivo!
Quem não conhece, aproveite para conhecer.
terça-feira, 5 de maio de 2009
Vivó cota dos desenhos animados!
Abençoada infância! E ainda bem que ainda vai havendo dinheiro para a manter assim...
No meu tempo (e não é que, ao fim de 45 anos, lá me saiu o raio da frase?), só havia um programa de televisão (a preto-e-branco) de que eu sabia o horário. E estava pronto a aguentar estoicamente os desenhos animados checos, polacos e búlgaros, para ver os dois outros amores do cota que organizava a coisa e mandava umas bocas pelo meio: os filmes do Tex Avery e do Norman McLaren. Para não falar, depois, na curtida da Pantera Cor-de-rosa.
Também na banda desenhada, parece que o homem travou duras batalhas em defesa de um boneco "mal desenhado", segundo muitos leitores da revista Tintin: um tal de Corto Maltese.
Míudo mesmo miúdo, não acompanhei essas polémicas na própria revista, de que era assinante (obrigado, pai!). Eram muitas letras, com conversas do chacha.
Mas lá o tal boneco, adorava-o. E continuei a adorar, mesmo nas histórias que não me dissessem muita coisa.
O Vasco Granja, soube agora, morreu.
E quase nenhuma outra pessoa terá dado tanto a uma geração.
Um enorme obrigado!
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Comentar o quê?
Comentar o quê? Como?
Às vezes, só dá mesmo para dizer: «Porra!...»
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Motins e linchamentos
Estão à vossa disposição, com os nomes "Crónicas dos Motins" e "Poder, Morte e Linchamentos". Sirvam-se.
E, já agora, critiquem e comentem.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
É hoje, na 24 de Julho
Será às 17h. 30m., na Livraria Escolar Editora, da Av. 24 de Julho.
Depois de curtas apresentações por parte de Emídio Gune, João Pereira, Jason Sumich e este vosso criado, haverá tempo e espaço para debate acerca dos seus artigos, 3 dos quais já foram sendo conhecidos e objecto de polémica. A coisa promete, portanto.
Reparo agora que a rua parece ter sido escolhida a dedo, para corresponder ao título da obra.
O 24 de Julho da avenida referia-se, inicialmente, ao acordo firmado com Mac Mahon (que também dá o nome à cerveja 2M) acerca das fronteiras entre a África do Sul e a então África Oriental Portuguesa - que entre outras coisas levou a que Maputo faça parte de Moçambique.
É, agora, o Dia das nacionalizações.
Querem mais jogo de continuidades e mudanças?
domingo, 10 de agosto de 2008
Lobolo em debate
As formas de casamento que lhe são semelhantes (chamadas bridewealth em inglês) foram consideradas pelos seus primeiros observadores uma «compra de mulheres».
Foram depois visto como uma retribuição pela perda da capacidade de trabalho da mulher por parte da sua família, ou mesmo pelos seus «serviços sexuais» (sic).
Na antropologia, os bens entregues à família patrilinear da noiva são hoje consensualmente encaradas como uma retribuição pelo facto de os filhos que vierem a nascer do casal não lhes irem pertencer, mas à linhagem do marido.
Os estudos feitos acerca dessas instituições seguiram diferentes perspectivas e enfatizaram diferentes aspectos nelas envolvidos. Elas foram vistas, para além daquilo que já referi, como garantias de acesso do grupo "doador" a esposas para os seus homens, como instrumentos de controlo dos mais jovens pelos mais velhos, como formas de transferência de recursos ou até, quando o lobolo é sistematicamente pago "a prestações", como um sistema de segurança social que distribui o risco por diferentes famílias (aqui), ou como objecto de luta política em tempos de transformação revolucionária (aqui).
No caso de Moçambique, os estudos mais recentes enfatizam um aspecto anteriormente deixado na penumbra: o papel central não apenas dos parentes vivos, mas também dos espíritos dos antepassados.
Um dos autores que o fazem salienta que o lobolo estabelece uma ligação entre os vivos e os antepassados que cria ou restabelece a harmonia social e inscreve o indivíduo numa rede de parentesco e aliança (aqui).
Outro (este vosso criado), sustenta que esse putativo envolvimento dos antepassados legitima ideologicamente a descendência e, no quadro das visões locais de domesticação da incerteza, é um instrumento de protecção do casal contra os perigos e infortúnios (aqui, aqui e aqui).
Nessa perspectiva, sem deixar de ser um fenómeno económico, de poder e de regulação social, o lobolo (que é muito variável, mutável e adaptável) tem duas mais-valias muito importantes sobre as restantes formas de casamento disponíveis: legitima, como elas, a relação matrimonial e eleva o estatuto dos membros do casal, mas também regula a descendência e o aleatório.
Isso não o torna menos objecto de polémicas, na sociedade urbana.
Este post-forum resulta do interesse da Samya em compreender como se lida com a descendência em caso de concubinato e quais são as consequências económicas do lobolo no caso dos casamentos poligâmicos.
Darei, na caixa de comentários, as minhas contribuições para a esclarecer e espero o mesmo da vossa parte. Tal como espero que muitas outras dúvidas, polémicas e diferentes interpretações tenham aqui um espaço profícuo.