Conforme seria de esperar, houve uma escalada na situação da Ossétia do Sul.
Há confrontação directa entre forças terrestres da Rússia e da Geórgia, que estão, na prática, em guerra. Fala-se de mais de 1.600 mortos, só em Tskhinvali e a coisa promete aumentar.
A desagregação de estados multinacionais, ou mesmo de carácter imperial, traz sempre a tendência para novas divisões e reorganizações, trazendo à superfície desejos, desagradados e identidades antes submergidas por esses estados.
À imagem do que dizia Max Gluckman relativamente aos costumes, é a altura em que identidades antigas são enfatizadas, perante a continuidade e reemergência de conflitos antes escondidos ou controlados pelas correlações de forças anteriores.
Deparamos, então, com separatismos de motivações bem menos económicas e políticas que a invenção do Panamá ou da região latifundiária da Bolívia, mas que jogam com os conflitos de interesses e brios dos grandes estados sobrantes que resultaram da desagregação anterior.
Face a isto, há sempre quem diga que o território em litígio pertence historicamente a um determinado estado (o que é a mera constatação factual duma relação de poder ultrapassada), que os grupos em confronto sempre se deram bem e até casaram reis entre si (como se todos os outros países não o tivessem feito), ou procure legitimar uns pelo mal dos outros («se a Tchetchénia é russa, a Ossétia do Sul é da Geórgia»).
Tendo na memória os massacres na Jugoslávia ou entre "etnias" inventadas pelos Belgas no Ruanda, as "boas vizinhanças históricas" deixam-me sempre uma pulga atrás da orelha.
Mas, sobretudo, preocupações de futuro.
Talvez nem todos consigam reagir como a Boémia às reivindicações separatistas da Eslováquia: «Ah sim? OK. Chauzinho e amigos como dantes. Como é que vai ser a vossa bandeira? bonita?»
Mas, quando se "comparam pilinhas" entre estados vizinhos e partes deles, normalmente para consumo interno, acaba sempre por acontecer como no velho adágio:
«As crianças atiram pedras aos pássaros na brincadeira. Mas os pássaros morrem a sério.»
sábado, 9 de agosto de 2008
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