É verdade que sou um mero leitor.
Mas é também verdade que a minha maior desilusão literária do ano passado foi o muito badalado Prémio Leya 2008.
Até o abrir, confesso, o lugar era ocupado pela odisseia do elefante do Saramago - que, bem escrita como sempre, não deixou de me lembrar uma versão aumentada e menos conseguida das poucas e belíssimas páginas em que nos contara a viagem daquela monstruosa pedra até Mafra. É chato, quando nos habituámos a esperar bem mais que isso.
Mas, com o pobre do jaguar, tive um encontro bem mais complicado.
Da minha experiência de leitor que, teimoso, insistiu em ir até ao fim e que, optimista, teve até à última página a esperança de vir a ser recompensado por esse esforço, retirei que aquele livro podia bem ter sido dois, sendo que um deles (o da velhice do narrador e das saudades da sua amada esposa) teria ficado melhor servido na gaveta do autor.
O livro que sobraria continuava a não me agradar por aí além.
A isso talvez tenha ajudado uma página temporã com uma digestão apressada de Levy-Bruhl, que o romancista parece não ter reparado estar em contradição com as outras seiscentas e tal.
Ou a permanente presença do bom selvagem, subliminar mesmo quando o texto pretende dizer o contrário.
Ou o mais fulcral dos mitos milenaristas da América do Sul ter sido trabalhado de uma forma tão limitada.
Ou constatar que tantas páginas não tinham levadoa lado nenhum.
Ou, pelo caminho, me ter cruzado com tantos episódios histórica e factualmente fascinantes e, de cada vez, ter parado a imaginar o que um bom escritor teria conseguido fazer com cada um deles.
Enfim... Já viram que foi traumático e perdi todo o interesse e consideração pelo tal de Prémio Leya.
Há um bocado, no entanto, li numa minúscula notícia, a um canto do Público on-line, que o premiado deste ano é o João Paulo Borges Coelho.
Gosto muitíssimo dele, quer como historiador, quer como pessoa, quer como escritor.
E gostei de todos os seus livros - embora, claro, não de todos por igual.
O meu favorito (desculpa lá, João Paulo) é o primeiro, "As Duas Sombras do Rio".
Aquele de cujo estilo gostei menos, pelo excesso de alegoria num tema tão forte, foi o "Campo de Trânsito". Mas sei, também, até que ponto escrever acerca daquela realidade recente, por muito ar de fábula com que se o faça, é um acto de coragem. E sei que, mesmo sendo o meu menos favorito, é um muito bom livro.
Ou seja: ou o João Paulo desaprendeu repentinamente de escrever e isso agradou ao júri, ou este premiado "O Olho de Hertzog" é mais um daqueles livros pelos quais se justifica esperar com impaciência.
O que me permite voltar a acreditar no Prémio Leya e, suponho, comprar o premiado do ano que vem.
Porque, quanto ao deste ano, não precisaria de prémio nenhum para correr a comprá-lo.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
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