I.
Perderemos em breve a oportunidade de chamar "nosso primeiro" a José Sócrates.
É cada dia mais claro que se trata de um líder partidário (e, logo, de um PM) a prazo.
Para além dos zunzuns mediáticos, da observação do comportamento dos nossos representantes parlamentares mais rosados e dos súbitos silêncios de algumas personagens relevantes, vão surgindo umas coisas públicas em que se juntam os cheiros a balões de ensaio, a arroteamento de terrenos e a avisos à navegação.
Não serão muito sintomáticas desse estado de coisas as sempre desalinhadas e saudavelmente desbragadas observações de Ana Gomes.
Mas penso, por exemplo, num pequeno artigo de opinião de Ana Benavente, publicado há uns dias no Público, cujo conteúdo de "back-to social-democratic(-although-light)-basics" nada tinha, quanto ao tom, de reformulação no quadro presente, mas tudo tinha de um separar de águas num "depois" que já começou.
É verdade que aquilo que a sua leitura me trouxe à memória era (independentemente do impacto público que o livro que me recordou teve na altura) de uma pobreza política franciscana. E é também verdade que (ao contrário deste artigo actual) se tratava então de lançar uma personagem messiânica, e não de lançar um quase anónimo tiro de uma batalha de sucessão já assumida, mas de que a agora snipper não será certamente a cabeça de cartaz.
Mas, com todas essas devidas distâncias, o que o artigo me lembrou foi Portugal e o Futuro.
E, de recordação em recordação, também as súbitas e intensivas reuniões do nosso primeiro - usemos enquanto podemos - com as suas estruturas partidárias de topo me lembraram um acontecimento cuja imagem televisiva perdura como recordação dos meus, então, 10 aninhos: a "Brigada do Reumático".
O paralelo é inevitável, dada a necessidade e sofreguidão que denota em garantir declarações de lealdade por parte daqueles que se nomearam e promoveram, no salão de uma casa prestes a ruir.
Mas, dado o recente contexto stendhaliano de "O Rosa e o Laranja" e tendo em conta a ponta de véu levantada sobre os precoces e empenhados boys que enchameiam o aparelho de estado e as empresas por ele participadas, talvez seja mais apropriado falarmos de "Brigada do Acne"...
II.
No meio deste quadro, Fernando Nobre anunciou a sua candidatura à presidência da república, por entre generalizadas sensações de manipulativas vinganças soaristas.
O chato é, claro, a previsível fragmentação de candidaturas à esquerda, desde logo com o espaço aberto ao nosso moribundo primeiro - (re)usemos enquanto podemos -para lançar uma do PS "oficial".
Quanto ao discurso transmitido pelo agora candidato, creio que, no seu back-to-republican-basics em tempos de centenário, ele é bem capaz de ter pernas para andar.
Isto porque nem eu, que estou bem longe de sofrer de anti-partidarite e não acredito na existência da tal de "sociedade civil" (a que poderíamos continuar a chamar, como no tempo da outra senhora, "forças vivas da nação", agora acrescentadas das ONGs e com as dependências estatais e partidárias modificadas e talvez reforçadas), fiquei insensível às suas linhas de força.
E porque não é de substimar a velha tendência (a que tão pouco fui imune) para pressupormos que a competência numa área louvável é transferível para outras actividades.
Será que ainda vamos assistir a um "efeito Ramalho Eanes" em versão civilista e mais à esquerda?
É ainda uma vaga possibilidade.
Mas sempre daria para neutralizar aquela actual apetência, à direita, pela emergência e afirmação de um ainda inidentificável "salvador da pátria" - apetência apontada há tempos atrás pelo Miguel Portas (talves inspirado no Gramsci) e, creio eu, com toda a razão.
Entretanto, na mesma noite e no meio de toda a salganhada que nos rodeia, Manuel Alegre arranjou maneira de, lá por Coimbra, se insurgir contra o excesso de "intriga" política.
Uma formulação ambígua e que até poderia corresponder a uma louvável declaração geral de princípios mas que, dita por si e neste último par de semanas, tem um significado e um destinatário bem concretos.
Talvez. com isso, Alegre possa ter dado um passo para receber o apoio da direcção do seu partido, a par da bela quantidadede votos que tal arrasta - embora, no quadro actua, isso seja cada vez mais duvidoso.
Mas temo bem que tenha reduzido a quase zero a possibilidade de vir a receber o meu.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
A brigada do acne
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