Enquanto os media se desdobravam infindavelmente em torno dos testículos decepados de um cronista social temido pelas celebridades-não-se-sabe-bem-porquê de cujos mexericos vivia, a morte de Vítor Alves teve direito a serviços mínimos jornalísticos.
Mesmo nos blogs "de esquerda" por onde costumo passar, com maior ou menor regularidade, só um seu velho oponente dos idos de 1975 se deu ao trabalho de, digna e justificadamente, o homenagear.
Quanto ao Estado, deixou há muito de ser razão para minha surpresa que este Presidente da República não o tenha mencionado, que o silêncio fosse extensivo aos restantes altos dignatários ou que, aparentemente, não tenha passado pela cabeça de ninguém decretar ao menos um dia de luto nacional por este membro e coordenador do Movimento das Forças Armadas - o tal que derrubou a ditadura, permitindo a instauração da democracia e do actual regime político.
Surpreende-me um pouco mais a ausência de vozes indignadas com isso, ou a surpresa da maioria de vós ao lerem "luto nacional", umas linha mais acima.
Mas ir por aí levar-nos-ia a longas e talvez infrutíferas conversas sobre ingratidão pública, tacanhez política, menoridades pessoais e selectividade da memória histórica.
E os testículos (ou, à falta de melhor, as cinzas) do outro malogrado senhor sempre têm o condão de suscitar maior glamour e menos auto-reflexividade desconfortável.
Entretanto, dei hoje com o título "Vítor Alves" na crónica que Vasco Pulido Valente assinava no Público.
Ingénuo que sou (e atirador em direcções aleatórias que ele por vezes é), corri a ler, na expectativa de alguma coisa digna e justa.
Mas fiquei a saber que os homens que derrubaram a ditadura «apoiaram a esquerda» porque «sem educação e com justo medo de represálias pelo abandono de África, não queriam a direita».
Fiquei a saber que é «verdade que Vítor Alves, uma pessoa civilizada, entrou nesse delírio contrafeito e que, em Novembro, com o "Grupo dos Nove", ajudou a restabelecer uma certa normalidade, sob tutela do MFA. Só que nem assim se tornou simpático. A brutalidade e cegueira dos militares não se esqueceram.»
Do que, suponho, serão prova sociológica e histórica as resmunguices de certos taxistas acerca da falta que Salazar faz, ou os níveis de abstenção suscitados pelos ocupantes do estado democrático que eles possibilitaram, ao mesmo tempo que possibilitavam outras coisas, como o tipo de carreira mediática de Vasco Pulido Valente.
Dizia-me há tempos um amigo que ser insultado ou caluniado por certas pessoas é o maior dos elogios.
Mas creio que o major de Abril passaria bem sem ele. E eu, mero leitor, também.
Uma pessoa civilizada, Vítor Alves?
Certamente.
Por exemplo, nunca escreveria uma crónica como esta que hoje li.
domingo, 16 de janeiro de 2011
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3 comentários:
Estou consigo e fico triste.
Será o Vasco Pulido Valente a escrever a história de Portugal e da revolução, a que ele chama golpe ? Irá ele entristecer a clara madrugada?
há libertadores corporativistas
libertam o povo
mas diziam dos sargentos que passavam para o oficialato durante as promoções feitas à pressão para colmatar a ausência de quadros
até um bruto chega a oficial
castro Fidel também foi durante décadas um santo e ainda hoje há quem diga bem dele
um cavalheiro, um do escol
assi era vitor alves
um militar intelectual.....
A visitor from Oliveira Do Bairro, Aveiro viewed "Antropocoiso: Os insultos de certas pessoas são elogios. Mas..." 0 secs ago
é um elogio....
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