sexta-feira, 1 de junho de 2012

Epistemologias e pobrezas envergonhadas


Talvez o que a antropologia tenha de mais útil e eficaz, enquanto forma de descobrir e fazer perguntas, e forma de tatear o que está por debaixo do pulso, seja a atenção ao significado e peso de acontecimentos por vezes fugazes.
Há uns minutos, cruzei-me na rua com um casal "normalíssimo" (i.e., com aspecto mediano e vestido de uma forma que qualquer um podia utilizar para ir trabalhar) a acabarem de revolver, com cuidado para não se sujarem, o caixote de lixo de um supermercado.
O homem, que carregava ao ombro uma daquelas sacolas de compras grandes e reutilizáveis que os supermercados agora nos vendem, dirigiu à mulher um qualquer comentário satisfeito, julgo que com os resultados da noite - que já devia ter passado por outros caixotes comerciais, pois a sacola tinha um ar anafado. Ela, estava mais preocupada em não olhar na minha direcção, em que mais ninguém senão eles estivesse naquela rua.
Depois de um encontro como este, quem é que poderia levar a sério sondagens, inquéritos, estatísticas, tretas sobre princípios macroeconómicos, ou a excelsa senhora que os deu à luz?

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