Mais uma história antropogastronómica, desta vez a pedido:
(Entre parentesis, também para essas coisas é que serve a caixa de comentários. Escusam de comentar, debater ou fazer pedidos por telefone, e-mail ou cara a cara; ao menos, aqui a coisa é partilhada com os outros.)
Em Moçambique, a manga está muito longe de ser um produto de luxo. Quase todas as espécies, que são muitas, amadurecem ao mesmo tempo, há muito por onde escolher e o problema dos felizes proprietários de mangueiras (que, para além de darem mangas, são árvores com uma sombra agradabilíssima) é, muitas vezes, dar-lhes vazão antes que apodreçam.
Foi numa altura dessas que, juntando a fartura à sua natural simpatia, o meu querido amigo Rafael da Conceição chegou a um almoço no Mercado do Peixe com o carro carregado de sacos de mangas para os colegas.
No dia seguinte, passando um olhar lanzeirento de fim-de-semana pela cozinha, só vi as mercearias do costume, uma galinha halal made in Brasil e uma pilha de mangas cheirosas, para onde olhava com ar guloso o cágado Futzo (passe a redundância, para quem saiba changana).
Da generosidade do Rafael e da minha preguiça em ir às compras nasceu, então, este prato - que toda a gente acha muito africano, mas que só o é de nascimento e nada tem a ver com as tradições gastronómicas locais.
Corta-se uma galinha ou frango em 8 pedaços, retitando a pele e as pontas das asas.
Dá-se uns golpes em cada peça de carne, para absorver mais profundamente o molho, salga-se e junta-se meia cabeça de alho picada e duas mangas desfeitas - de preferência, das chamadas mangas douradas, pelo sabor e menos fios.
Mistura-se tudo, cobre-se com cerveja (ver sugestões de marcas em "Camarão à Antropólogo") e deixa-se umas horas em seu descanso.
Trata-se, então, de derreter margarina numa panela de bom tamanho, de forma a que fique uma camada generosa a cobrir-lhe o fundo. Aí, deitam-se os pedaços de galinha, escorridos mas ainda cobertos com o molho em que estagiaram.
Vai-se pseudo-fritando (pois esses restos de molho vão-se misturando à margarina) em lume forte, virando os pedaços de carne até nenhum deles ter zonas cruas à superfície.
Nessa altura, deita-se na panela o molho onde a galinha/frango estagiou, junta-se mais cerveja até a carne estar coberta e mexe-se um pouco, para homogeneizar.
Ficam as coisas assim, num lume brando apenas suficiente para manter fervura, continuando-se pontualmente a mexer, até o molho se tornar acastanhado e o cheiro mudar, lembrando o de fruta cozida.
Está então pronto para servir. O melhor acompanhamento é arroz basmati, cozido com um caldo de galinha.
Mas, para fazer juz ao nome do prato (em que o "Grão na Manga" é, claro, um trocadilho com o "grão na asa" de toda aquela cerveja), pode juntar-se também uma malga de grão com um cheirinho de coentros, que para mais até sabe bem.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Galinha com um Grão na Manga
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Croniquices,
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