Finalmente, vai entrar em funcionamento, no meu cantinho à beira mar plantado, um curso de medicina destinado a pessoas já licenciadas noutras áreas de saúde - permitindo um currículo mais curto e uma formação mais rápida, devido aos conhecimentos que já possuem.
É justo, trivial e necessário.
Como tantos outros países, Portugal tem um deficit crónico de pessoal de saúde, "justificativo" (ou possibilitador) de serviços públicos frequentemente medíocres e do pulular de medicina privada a preços proibitivos, quantas vezes com os mesmos médicos que chegam tarde e cumprem a correr os seus deveres nos hospitais.
Claro que há muitíssimos médicos extremamente conscienciosos no serviço público, capazes de milagres de eficiência no seu trabalho e no das suas equipas.
Mas o ethos profissional de impunidade, sobranceria, relaxe e mercenarização deve muito ao tal deficit crónico, mantido artificialmente pelas estruturas corporativas e pelas corporativas decisões das faculdades, na restrição do número de vagas.
Afinal, os médicos perceberam essa história da oferta e da procura e há décadas que a gerem com mestria.
Não é, por isso, muito surpreendente que o principal comentário do bastonário da Ordem dos Médicos seja de preocupação com o aumento do número de vagas.
Por essas razões económicas e de poder, ter médicos que cheguem é, para esta gente, excessivo.
E eu diria que isto é socialmente obsceno.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
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3 comentários:
Esta parece ser uma excelente notícia para a falta de médicos em Portugal, bem como para encurtar o tempo da sua longa formação.
Em tempos fiz algum trabalho de campo sobre a profissão médica em contexto hospitalar e tudo aquilo que refere é a mais pura verdade... existem excelentes médicos no serviço público, mas também existem os outros (incumpridores de horários, improdutivos, com pouca ou nenhuma disponibilidade para os doentes, conflituosos entre pares, erros grosseiros de apreciação de certos casos clínicos, desleixados – nos casos mais graves -, para além da crónica actuação promiscua entre o sector público e o privado, e por aí adiante). Mas será este leque de defeitos uma especificidade da profissão médica? Infelizmente não! Penso que isto é transversal a todas as profissões; em todas existem “bons e maus” elementos.
De facto, o problema mais grave da profissão médica em Portugal está no corporativismo da sua “classe”, em diversos níveis. É aqui que as coisas se tornam politicamente inaceitáveis e socialmente obscenas!
Plenamente de acordo.
Acrescentaria que o ethos profissional de desumanização e mercantilização (cuja imagem também cai injustamente sobre quem não o pratica, embora noemalmente partilhe a auto-defesa corporativa) não vem de uma qualquer maldade congénita dos médicos abusadores.
Vem da reprodução de uma cultura profissional que, nos seus aspectos mais negativos, encontra sustentação económica e social, precisamente, na manutenção artificial de uma escassez relativa de médicos.
PS: estou a fazer o meu melhor para voltar aos posts-forum. Mas, de cada vez que tenho tido tempo para aqui vir, aparece uma notícia que merece um comentário...
“Troca de galhardetes”... Também estou totalmente de acordo consigo.
E eles até continuam a fazer o juramento de Hipocrates (ethos profissional), mas, de facto, a transmissão e reprodução da cultura profissional acarretam tudo aquilo que dissemos anteriormente.
Relativamente ao fórum, não fique minimamente preocupado, haveremos de voltar a ele com mais tempo. Até lhe faço uma pequena sugestão... Talvez seja melhor aguardar até meados de Setembro, pois, caso contrário, corremos o RISCO de ficarmos a falar sozinhos, devido ao período de férias. Pode ser que o descanso de Agosto traga novos participantes ao debate!
Um abraço.
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