Carlos Serra dá-nos desde ontem conta de um recrudescimento nos linchamentos urbanos e periurbanos em Moçambique, com 7 mortos nos últimos dias.
Com uma sequência impressionante nos primeiros meses do ano, estes linchamentos (embora não os rurais, que parecem ter dinâmicas e sentidos diferentes) tinham-se tornado relativamente raros desde o momento em que os emigrantes moçambicanos se tornaram vítimas de violência e linchamentos xenófobos na vizinha África do Sul, em Maio deste ano.
Que esse efeito traumático tivesse estancado os linchamentos domésticos era, aliás, coerente com a minha sugestão de que eles constituiam, também e entre outras coisas, formas ritualizadas de reivindicação e afirmação de poder sobre a vida da comunidade, num quadro de incerteza e de sensação de abandono por parte do estado.
Se essa minha sugestão de leitura do fenómeno tem algum mérito, justifica-se perguntar que razões puseram fim à acalmia dos últimos meses.
Será que a mera passagem do tempo neutralizou o efeito traumático dos acontecimentos de Joanesburgo, permitindo de novo pôr em prática formas extremas de punição pública e de expressão política?
Será que alguma coisa fez agravar o sentimento popular de abandono e de que são irrelevantes para os mais poderosos e ricos?
E, a ser assim, será plausível que a catadupa de casos de corrupção e desvio de fundos (onde se destaca o de um ex-Ministro do Interior e vários generais durante o exercício do cargo) possa ter sido uma nova gota de água, num país onde é popularmente aceite que os dirigentes "comam mais", mas não que "comam sozinhos" e à custa da fome de quem administram?
Pedem-se e aceitam-se hipóteses e opiniões!
sábado, 11 de outubro de 2008
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