Esperava muitos argumentos curiosos na discussão das propostas de Lei que pretendem abolir a proibição de casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas ainda a coisa não começou e já as minhas expectativas humorísticas foram ultrapassadas.
Leio que o PS, com disciplina de voto como se se tratasse do Orçamento de Estado ou de uma Moção de Censura ao governo, vai votar contra, com uma declaração de voto a dizer que afinal é a favor.
Leio também que não promete para a próxima legislatura a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas "um amplo debate nacional sobre igualdade e orientação sexual".
Mensagens que passam:
1 - O PS vota contra, porque está a favor. Mas... olhem: vocês não percebem, porque isto é política.
2 - Ou o partido que nos governa não percebeu que promete sujeitar a "amplo debate nacional" o princípio constitucional que proibe a discriminação com base na orientação sexual (entre outras coisas, como "raça", género ou confissão religiosa), ou então coloca a hipótese de o fazer e consequentemente, coloca a hipótese de o abolir, caso o "amplo debate" assim determine.
3 - Quando o nosso primeiro mete os pés pelas mãos nalgum assunto, a partir daí é cada cavadela sua minhoca.
4 - Como a bancada do PS parece estar cheia de pessoas que nada têm de imbecil, devem ter, como diz o povão, uma paciência de corno. Coitados.
8 comentários:
A expressão não é simpática, mas não imagina a paciência necessária.
Grata por não nos meter todos no mesmo saco, nestes momentos embaraçantes.
Os deputados do PS sabem perfeitamente que sem o voto da beatagem não terão hipótese de se manter onde estão. A alternativa seria ir procurar trabalho, o que é chato, sobretudo de costas voltadas para o partido no poder.
Viva Paulo
De facto tudo isto parece surrealista... é por estas e por outras que os políticos devem ser cada vez mais o motivo de chacota nacional. Não fossem os prejuízos que trazem para a sociedade e tudo isto até seria engraçado!
Um abraço!
Já algum tempo de me afastei da política precisamente porque vi coisas que não gostei, apesar de ser um homem com profundas convicções de esquerda (não a “esquerda” do PS obviamente)!
Relativamente ao último ponto do seu post... Eu conheço e até gosto bastante de algumas pessoas do PS da ala “Manuel Alegre”, só não consigo compreender porquê que lá continuam (no PS)? Enfim... nem tudo na vida se pode explicar racionalmente!
Vivam.
JF:
Não sei se o PS precisa dos votos de "beatagem", como diz, para ganhar as próximas. Creio até que vai de novo ganhar por "falta de comparência", espero que com maioria bem relativa.
E parece-me, até, que neste momento precisa bem mais do votos a que o "terceira-viismo" mais se adapta:
Os relativamente jovens que compram a ideia de que essa coisa do estado social é démodé e "pré-globalização", mas são progressistas nos costumes. Que podem, até, não ver neste assunto uma questão de equidade e de restrição ilegítima de direitos, mas um assunto modernaço, práfrentex e "fracturante", daqueles que são importantíssimos para a sua identidade de "portugueses do futuro".
É, se calhar, uma fatia eleitoral muito mais importante e volátil para o PS. Em termos eleitorais, creio que foi um valente tiro no pé.
É verdade: já conseguiu o contacto do Ricardo Teixeira Duarte?
JA:
Pela minha parte, não estranho muito a continuidade, tanto mais que as diferenças de opções políticas sempre foram grandes por aqueles lados e isso raramente foi um drama (basta lembrar que o PS passou num estalar de dedos e euforicamente do seu secretário-geral mais à esquerda para o mais à direita de sempre).
A submissão kim-il-sunguista é que, de facto, me impressiona.
Anónima aparentemente deputada:
De facto, não meto, de forma alguma, todos no mesmo saco.
Também por isso me impressiona particularmente esta quase unanimidade numa posição que também quase unanimemente consideram incorrecta e, como diz, embaraçosa.
Vistos os acontecimentos de fora, aliás, parece bem mais embaraçosa essa submissão às asneiras do líder do que a própria asneira.
Mas, não estando eu no seu lugar nem tendo sequer votado no seu partido, não terei certamente a arrogância de lhe "ensinar" como cumprir dignamente o seu mandato.
Confesso, no entanto, que mais uma coisa me impressionou particularmente:
que uma pessoa eleita por voto popular para a instituição que, no nosso ordenamento constitucional, é a primeira sede da democracia e da soberania nacionais se sinta na necessidade de recorrer ao anonimato para desabafar acerca de uma opção política.
Abraços para todos.
Não sei... pode ter razão. A mim parece-me que a juventude que se vê progressista e práfrentex lá no fundo não se mobiliza tanto com estas questões de cidadania (sobretudo quando não lhes toca a si) e que está mais preocupada com a questão do desemprego e do pagamento da sua renda/prestação mensal. Ainda que percam alguns votos desse eleitorado para o BE ou PCP, talvez o não levantar problemas com a Igreja e conseguir assim os votos dos católicos (sobretudo daqueles que ou votam no PS ou no PSD) seja mais proveitoso em termos eleitorais.
Não cheguei a procurar o contacto, visto que ainda faltam alguns meses. Mas obrigado por se/me ter lembrado. Começa a estar na altura.
Um abraço,
João
Paulo,
Concordo quase sempre com as suas ideias e com a sua forma de "ver o mundo", mas desta vez estou mais de acordo com a posição de JF (sobre a falta que os votos dos católicos fazem ao PS). Claro que a arte de adivinhar o futuro não é a minha especialidade, haverá sempre alguma incerteza nestre prognóstico, mas para mim a posição do PS está relacionada precisamente com este segmento mais conservador da sociedade. Talvez o futuro nos venha dizer qual de nós tem "razão".
Cumprimentos a ambos.
JA
A futurologia também não é o meu forte - ou nunca teria feito um empréstimo à habitação no BCP, dos tais com "vantagem accionista", numa altura em que as acções me custaram 4,20 euros cada uma...
Mas não vejo, de facto, o PS a perder votos à direita, sobretudo para Madame Silent Partner.
Para os saudosos da ordem, o homem é claramente autoritário e tranquilizante.
Para a incapacidade de gestão económica, já tem todas as desculpas, reforçadas por tosos os meios agora aceites pela UE - e, se tudo se afundar, é um afundanço conjunto e também é culpa da conjuntura externa.
Até a necessidade de tomar medidas intervencionistas, nos EUA e na Europa, lhe vem dar razão aos olhos populares distraídos - pelo nome do partido, mesmo se a prática o nega.
Parecem-me muitos trunfos, para enfrentar o vazio.
Porquê todo este "embaraçante" folhetim?
Por vezes pergunto-me se, em vez de leituras muito elaboradas, a resposta não poderá ser eventualmente mais simples: preconceito, insegurança de autoritário e inépcia política (fora do quadro dos joguinhos palacianos de poder).
Mas isso é quando estou de mau humor e começo a somar as várias atitudes e decisões menos compreensíveis num registo racional...
Olhem: desejos de uma boa semana.
Paulo,
Agora jogou forte na argumentação apresentada... já estou mais convencido! Afinal, talvez tenha mesmo razão.
Boa semana!
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