Imaginem que, algures no último milénio e até há uns 50 anos atrás, alguém escrevia um livro onde, entre outras peripécias picarescas:
- Um respeitado chefe de família e de comunidade tivesse o hábito de copular com a criada em cima da barriga da esposa;
- A nora de outro respeitado chefe de família e comunidade, a quem o marido não queria engravidar, se vestisse de prostituta e engatasse o sogro, saído em viagem de negócios;
- Uma cidade fosse destruída por um cataclismo de que só se salvava a família do único homem justo, sendo que a esposa dele (que durante décadas resistira ao deboche generalizado) era morta por a sua curiosidade a fazer olhar para trás, enquanto as filhas o embriagavam e violavam repetidamente, para que as engravidasse?
- A nação heroína do livro conquistasse uma cidade, massacrasse todos homens enquanto estavam acamados e escravizasse todas as mulheres, por ter conseguido convencer o rei local a casar-se com a sua princesa, o que obrigava a que ele e todos os seus fossem circuncisados;
- Os príncipes dessa nação vendessem um irmão como escravo, por inveja, e convencessem o choroso pai de que ele tinha sido comido por animais ferozes;
- O senhor da primeira peripécia decidisse degolar o filho, por andar a ouvir vozes.
O que teria acontecido ao livro e ao seu autor?
Será que alguém diria dele que era "um manual de maus costumes e um catálogo do pior da natureza humana"?
Será que alguém diria, como o tal juíz norte-americano, que "reconhece a pornografia quando a vê"?
Vem isto, claro, a propósito da polémica acerca das polémicas palavras de José Saramago, no lançamento do seu novo livro Caím.
(aqui, aqui, aqui ...)
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
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