segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Já que perguntas, Miguel...

O meu amigo Miguel Portas pergunta urbi et orbis, lá pelos facebooks, o que é que os outros pensam que o Bloco de Esquerda deve aprender com a derrota nas autárquicas.
Já que ele pergunta e que eu me puz para lá a responder desalmadamente, aproveito para transcrever aqui no Antropocoiso:

Em Lisboa, as pessoas que votaram BE e CDU para a Assembleia Municipal e PS para a Câmara Municipal (6.062 e 5.402, respectivamente) representarão na maioria dos casos voto útil contra Pedro Santana Lopes - embora não representam só isso, particularmente, creio, no caso do BE.
Mas, para além desses, a votação do António Costa também só é possível por deslocação de anteriores votantes do BE que, agora, votaram PS para ambos os orgãos.

Nessas coisas, os candidatos contam. Por exemplo, eu nunca votei no Sá Fernandes, por lhe achar uma visão passadista da cidade, apesar dos aspectos muito positivos que tanto ele como o programa tinham.
Mas a questão desta fuga de votos não terá muito a ver, creio, especificamente com a figura do Luís Fazenda.

Também me parece que a ruptura do BE com Sá Fernandes terá acabado por não pesar muito nos resultados.
Mas senti desagrado, em muita gente, com duas coisas que aconteceram na campanha eleitoral:

(1) a recusa de Luís Fazenda em assumir pelouros, independentemente dos resultados.
«Vai lá para se armar em justiceiro, tipo Sá Fernandes inicial nº2, para denunciar o peso dos interesses económicos no PS, em vez de os contrariar e construir uma plataforma de futuro?»
Não é isso que as pessoas querem, numa altura em que há tantas coisas sensíveis para decidir acerca da cidade, e desejam influenciar as decisões na melhor direcção.
Querem boas decisões para a zona ribeirinha, o aeroporto e a mobilidade, e não a denúncia a posteriori de más decisões do PS.

(2) A omnipresença de Francisco Louçã e o apagamento mediático dos candidatos, num partido que construiu a sua imagem e atractividade com base na diversidade de competências e de alternativas possíveis de indivíduos.
Essa técnica resultou na fase inicial do consulado de Paulo Portas no CDS, mas em grande medida por isso reforçar a imagem de salvador da pátria, isto num partido de direita (que gosta dessas coisas) e que parecia não ter mais ninguém.
No BE, uma situação destas projecta duas impressões para o eleitor comum: Ou a liderança do Bloco acha que os candidatos não são competentes, ou aquilo deixou de ser um espaço plural e vital, para se transformar num feudo do coordenador.
Ambas as sensações são muito desagradáveis para aquele potencial votante do BE que não anda com a bandeira às costas. Em Lisboa e no resto do país.

Em termos mais gerais, a lógica do votante autárquico é muito mais pragmática e virada para resultados concretos do que em quaisquer outras eleições.
Isso pode transcender opções políticas e (como se viu casos de Isaltino Morais e de Valentim Loureiro) até morais.

O candidato que assume que não quer resolver (e subordina isso a questões políticas gerais), ou não convence o eleitor de que é capaz de resolver, "está fora".
A segunda questão (a credibilidade) ganha-se por demonstração prática de capacidade, ou pela criação de uma imagem forte de que essa capacidade existe, mesmo se não teve ainda oportunidade de ser demonstrada.
Quanto à primeira questão, se não é para resolver aquilo que pode ser resolvido no delimitado âmbito autárquico, porque é que se há de votar nele?
E, talvez mais importante, para que é que se concorre?

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu penso que os votantes do BE são mais inteligentes (elitistas) que os dos restantes partidos e por isso notam a farsa mais rápidamente!!!

micas disse...

Gostei da sua análise Paulo.

Gostei mesmo

marceano disse...

Quando se participa publicamente na política... ou se assume o "jogo" continuando hasta al fin ou fica-se na "campanula" que o líder do BE escolheu. Deve estar já satisfeito..no ego.
O BE desiludíu. O Luís também.. Muitissimos "observadores" a nível nacional tais como eu reagiram, exactamente como o Paulo disse. Exactamente. Fui sempre ppd, desde 75 e fui um desses observadores..embora na província de um pequeno País... O be agora perdeu muito, nacionalmente, ...mais 4 anos numa posição sem força. A consequencia será interna, tal como noutros.
Esta opinião é sincera.
Um abraço para si.