Ao contrário da maioria dos democratas da minha geração, não me desagrada que o pessoal 20 ou 30 anos mais novo se esteja nas tintas para as comemorações do 25 de Abril.
Não me desagrada, porque isso quer dizer que, para eles, a liberdade é uma coisa natural, um dado adquirido que sempre conheceram e que, por isso, nem sequer justifica celebração.
É claro que não é assim, que a liberdade só é “natural” nas abstracções de alguma filosofia política e que nunca é um dado adquirido.
É claro que a liberdade que conhecem é resultado de milénios de lutas, expressão de um equilíbrio mutável de poderes e um bem permanentemente ameaçado.
Mas estará menos apetrechado para defender a sua liberdade (e para se aperceber quando ela é posta em causa) quem a sinta como natural?
Duvido muito. Não se aperceberão de como é fácil perdê-la; mas, mais do que quem se habituou a conhecer a sua ausência, encararão essa perda como inaceitável.
A aparente indiferença dessas pessoas mais novas é, afinal, a maior das comemorações, o mais forte hino à liberdade – e, saibam-no elas ou não, àqueles que contribuíram para que ela se tornasse normal.
sábado, 26 de abril de 2008
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2 comentários:
5 estrelas.
Para além de ser sintético e bem escrito, como é habitual, lembra uma forma de olhar para a liberdade que nunca me tinha ocorrido. E olhar de uma perspectiva diferente para coisas que nos habituámos a não discutir é SEMPRE um grande contributo para o avanço na compreensão que temos dessas coisas.
Agora, quando algum jovem disser que não sabe muito bem o que foi o 25 de Abril, vou pensar no que escreveste...
E, já agora, como era de esperar, também acho que a foto, parecendo não ter nenhuma relação com «coisa», é afinal um grande achado.
Deixas-me "derretido" e orgulhoso.
A primeira pelas palavras, a segunda por prezar muito a tua opinião.
E, já agora, sentimos muito a vossa falta, nesse dia.
Um abração.
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