sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Representatividade e Participação


in Público de hoje

Escrevia-se aqui, já há alguns aninhos e a partir de uma extensa investigação, que os trabalhadores - estivessem mais críticos ou moderadamente satisfeitos em relação à forma como os sindicatos actuavam - cada vez menos se disponibilizavam a participar neles, embora os considerassem seus representantes e considerassem essa representação e defesa laboral um direito que lhes assistia, enquanto trabalhadores e cidadãos. Como um serviço público. Da mesma forma que se considera um direito ter escolas, hospitais, esgotos, policiamento e segurança social.

Com essa visão institucionalizadora por parte das pessoas, concluíamos, a própria noção clássica de representatividade sindical (com base na "contagem de espingardas" do número de sócios) era anacrónica, pela grande decalage entre quem aceita participar e o conjunto de todos aqueles que se consideram e exigem ser representados. Seria mais lógico pensar acerca da representatividade sindical de uma forma algo semelhante àquela que está subjacente às eleições primárias norte-americanas - não em função de uma filiação formal, mas em função do reconhecimento, por cada indivíduo, de uma representação preferencial.
Nada me indica que a situação se tenha alterado de forma significativa, nestes últimos anos.

Mas isto também quer dizer que, quando as pessoas participam e o fazem massivamente, essa participação é muito mais significativa (acerca da situação vivida e do seu descontentamento em relação a ela) do que nas alturas em que participar seja considerada uma coisa normal - como era, por exemplo, há uns 30 anos atrás. A excepcionalidade do acto demonstra a excepcionalidade do grau de descontentamento.

Poderá o nosso Primeiro querer ver em manifestações de descontentamento meras manipulações partidárias, e afirmá-lo publicamente de forma serôdia. Mas isso só o fragiliza e projecta uma imagem de odioso - não tanto junto dos manifestantes, mas sobretudo daqueles que não o foram.

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