domingo, 31 de maio de 2009

Mais uma petição, mais uma questão de cidadania

Acabo de assinar esta petição, pela igualdade no acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Uma questão com que concordo desde que surgiu como questão, e isto independentemente das minhas antipatias ou simpatias para com a instituição casamento.

Há coisas mais urgentes, sobretudo em tempos de crises e de eleições, dirão alguns.
Talvez.

Mas, para mim, a cidadania é sempre urgente.
E a cidadania dos outros é, também, parte da minha.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Que pena!

Depois de ser empurrado a isso por toda a gente neste país que sabe da sua existência (e de ter estoicamente tentado fazer de conta que não via), Dias Loureiro finalmente renunciou ao seu cargo de Conselheiro de Estado.
Diz ele que o fez para contrariar a ideia de que o Conselho de Estado o estava a proteger.

Bem... independentemente do crédito público das suas palavras, que diminui de cada vez que abre a boca, seria talvez bom explicarem-lhe que, cá por fora, ninguém acha que o Conselho de Estado o estivesse a proteger.
Parece, pelo contrário, que todos os seus membros o queriam ver de lá para fora, fosse por razões éticas, políticas, ou para evitar que a sua lepra se lhes pegasse.
O que toda a gente acha que o estava desesperadamente a proteger não era o Conselho, mas o seu cargo de Conselheiro...

Mas é uma pena.
Assim, há uma relevante fatia da "sociedade civil" que deixa de estar representada no Conselho de Estado: a dos craques dos negócios no mínimo escuros, facilitados por relações políticas dúbias, que foram promovidos por Cavaco Silva (quando primeiro-ministro) a decisores dos destinos do país. Por, claro, serem geniais tecnocratas empreendedores e pragmáticos, sem essa mancha ética de serem políticos...
Mas, sabe-se lá, pode ser que venha a ser substituído por um irmão siamês, ou por um primo de outra cor política, que mantenha a representação da espécie, no seu todo.

Entrementes, os patuscos da Sociedade Lusa de Negócios reclamam (em contrapartida desta ansiada renúncia?) uma indemnização pela privatização do BPN, onde o estado já enfiou mais dinheiro, para tapar as suas ilegalidades e incompetências, do que o valor do banco...

Será que não perceberam que, nos tempos mais próximos, nem acerca do BPN nem acerca do Freeport convém aos envolvidos fazerem ondas?
Que, de vez em quando, convém aos que se acham usufrutuários de impunidade por direito natural (ou divino) evitarem esfregar isso na cara dos outros?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

As bombinhas dos meninos

Depois do teste de míssil balístico, há um mês e picos atrás, a Coreia do Norte realizou hoje um teste nuclear subterrâneo.

Infelizmente, se a atitude é algo infantil e serôdia, as preocupações que suscita são bem mais graves do que sugere o título deste post...

Uma prenda póstuma ao João Benárd da Costa

A curta-metragem Arena, do jovem João Salaviza, saiu vencedora doFestival de Cannes.

Talvez, assim, venha a ser projectada nos cinemas cá do burgo.
Ou não.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Lá nos vão roubando os fazedores de memórias...

... frame a frame.

Há dias, Vasco Granja. Hoje, João Benárd da Costa.

Só me apetece protestar «Que merda!»
E mandar um abraço bem apertado à Ana.

domingo, 17 de maio de 2009

Santinhos, espíritos e diversão

Ontem, duas iniciativas se desenrolaram em Lisboa, muito perto uma da outra.

No Terreiro do Paço, muitos milhares de pessoas deram largas à sua legítima mas teologicamente discutível idolatria, acompanhando devotamente uma estátua.
Foi trazida de Fátima, para comemorar os 50 anos de uma outra estátua, em Almada, mandada erguer pelo episcopado português da altura, em evidente declaração de apoio divino a um dos maiores temas propagandísticos do salazarismo: a não participação portuguesa na II Guerra Mundial, atribuída à clarividência e "ratice" de S. Exª o Presidente do Conselho.

Uma estátua que, curiosamente, foi erguida 14 anos depois do fim da tal guerra, numa altura em que a capacidade do salazarismo se auto-propagandear andava pelas ruas da amargura e o país estava cada vez mais óbvia e orgulhosamente só, devido à sua política colonial - que iria levá-lo, 2 anos depois, não a uma mas a 3 guerras, que se arrastariam por 13 anos, em vez de 6.

Uns pormenores que talvez não sejam completamente irrelevantes, mas que não vi serem referidos em nenhum jornal ou televisão.
É normal, suponho. Afinal, somos um país de brandos costumes para com os poderosos, sejam eles indivíduos ou instituições.

Entretanto, 100 metros ao lado, desfilavam as muy pagãs Máscaras Ibéricas, entre a Praça do Município e o Rossio.

Ele eram caretos, chocalheiros, marafonas, gaiteiros, minotauros, ursos e seres de musgo... até mascarados espanhois com evidente inspiração azteca.
Tudo isso dançando, pulando, metendo-se com as pessoas, bebendo os seus canecos no final.
Enfim: o ciclo das festas do solstício de inverno em todo o seu explendor, mesmo que um bom bocado folclorizado.

Confesso que tinha curiosidade de ver as duas iniciativas.
Mas ainda bem que escolhi a do Rossio. Foi, de certeza, mais divertida - e de uma humanidade mais viva.

Mesmo se, por lá, recebi uma má notícia.
O homem mais gentil, simpático e calmo da aldeia de Varge, meu solícito companheiro nas duas vezes que vivi com os caretos a sua Festa dos Rapazes, está preso.

Dizem-me que, perante a estupefação de todos os que o conhecem, deu duas facadas em alguém que (suponho) lhe terá feito alguma coisa que ultrapassava os limites da sua enorme tolerância.

Daqui vai um abraço com muita amizade, Vitorino.

Citações de café (18)

(Esta foi na minha auto-irónica e nem-por-isso-tão-plana terra)

O caracóli... esse animalêjo irrequieto.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Acompanhando a saga dos curandeiros do orgone

Pois é. Tenho andado desaparecido.
Em parte por muito trabalho, em parte porque, quando tenho tempo de me aproximar da net, procuro toda a informação possível acerca de um caso bem peculiar que está em curso em Moçambique:

Recentemente, 4 pessoas de pele clara e nacionalidades diversas foram detidas em Cahora Bassa, a atirarem uns produtos esquisitos e desconhecidos para a água.
Temeu-se primeiro uma sabotagem («Cahora Bassa é nossa!», pelo que certamente os estrangeiros estão invejosos), depois uma tentativa de envenenamento da água.

Mas os homens assumiram-se como "Guerreiros do Orgone", que estariam a mandar à água "orgonite", a fim de contrabalançar as energias negativas vindas da globalização, de produtos da modernidade como os campos electro-magnéticos e outras coisas que tais.
Assim a modos que uns curandeiros new age a efectuarem um ritual de limpeza do país, a fim de assegurarem paz, prosperidade harmoniosa com o universo e etc.

Se vocês se lembram dos neo-freudianismos do Wilhelm Reich e das suas alegadas descobertas, o orgone seria uma "Energia Cósmica Primordial", omnipresente no universo e a que se deveriam, por exemplo, a côr do céu, o insucesso da maioria das revoluções e o orgasmo.

Se esta expedição tendo em vista o resgate da felicidade dos moçambicanos através da purificação do Zambeze já é, por si própria, um bom motivo de curiosidade, estou interessadíssimo na reacção das autoridades, dos meios de comunicação social (sempre gozões para com as crenças e práticas locais que não compreendem) e da população a estes curandeiros 'brancos' cheios de tecnologias modernas e argumentações que procuram usar uma linguagem científica.

Cheira-me que isto ainda vai dar um belo artigo. Para além, claro, de umas belas confusões, antes disso.
Entretanto, se também vos interessar, vão acompanhando as informações que, sempre em cima da hora, o Carlos Serra vai disponibilizando.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vivó cota dos desenhos animados!

A minha filhosca cresce entre Shreks, Idades do Gelo, Madagáscares, Cars e Chicken Littles, pensando que foi sempre assim.
Abençoada infância! E ainda bem que ainda vai havendo dinheiro para a manter assim...

No meu tempo (e não é que, ao fim de 45 anos, lá me saiu o raio da frase?), só havia um programa de televisão (a preto-e-branco) de que eu sabia o horário. E estava pronto a aguentar estoicamente os desenhos animados checos, polacos e búlgaros, para ver os dois outros amores do cota que organizava a coisa e mandava umas bocas pelo meio: os filmes do Tex Avery e do Norman McLaren. Para não falar, depois, na curtida da Pantera Cor-de-rosa.

Também na banda desenhada, parece que o homem travou duras batalhas em defesa de um boneco "mal desenhado", segundo muitos leitores da revista Tintin: um tal de Corto Maltese.
Míudo mesmo miúdo, não acompanhei essas polémicas na própria revista, de que era assinante (obrigado, pai!). Eram muitas letras, com conversas do chacha.
Mas lá o tal boneco, adorava-o. E continuei a adorar, mesmo nas histórias que não me dissessem muita coisa.

O Vasco Granja, soube agora, morreu.
E quase nenhuma outra pessoa terá dado tanto a uma geração.

Um enorme obrigado!

sábado, 2 de maio de 2009

Vital Moreira foi em demanda da sua Marinha Grande...

... e houve quem lhe fizesse a vontade

Não vi a coisa.
Estava bem mais acima, descendo a avenida com a família, ao encontro do desfile. Só por um amigo, dirigente da CGTP, vim a saber na Alameda o que se passara.

Foi, claro está, feio e democraticamente inaceitável.
Mais ainda, contraproducente.
Mas foi, também, um preocupante sintoma da presente situação social e da angústia e desespero que ela suscita em quem mais a sofre.

Porque, parece-me, Vital Moreira e Vitalino Canas não têm razão naquilo a que atribuem o que aconteceu.

Para além de as organizações não serem donas dos actos de umas dezenas de pessoas que reajam de forma mais agressiva a presenças que lhes desagradem, não me parece, de todo, que Vital Moreira tenha sido insultado devido à sua longínqua condição de ex-comunista.
Parece-me que o cidadão Vital Moreira é, neste caso, irrelevante.
Parece-me até que, em geral e enquanto indivíduo, é irrelevante para a maioria das pessoas.
Poderá ter sido um brilhante obreiro da nossa Constituição de 1976 e ser, hoje, um aspirante a Vasco Graça Moura do socratismo, mas nada que suscite ódios pessoais, mesmo ao mais sectário dos velhos comunistas da Cintura Industrial que deus tenha.

Também não me parece que se tratasse de um ataque ao PS, enquanto tal.
Que se tratasse de um ataque ao governo, que é do PS, que por sua vez tem em Vital Moreira a sua cara em campanha eleitoral, já fará mais sentido.
Mas ao governo, não simplesmente por o ser, mas por gerir nacionalmente um emaranhado de crises (uma de origem internacional, outras nacionais), de uma forma que multiplica em grande velocidade os dramas pessoais e situações sociais desesperadas, e de uma forma que é vista popularmente como distribuidora de benesses aos responsáveis pela situação.

Só quem limite o seu sentido da realidade actual àquilo que chega aos ecrãs dos telejornais será incapaz de compreender o que representa, para cada uma das suas vítimas, o despedimento colectivo (envolvendo muitas vezes toda a família), salários em atraso ou o encerramento 'profilático' de empresas - sejam elas de sectores económicos 'arcaicos' ou 'de ponta'.
E que essas situações se multiplicam a um ritmo assustador, abrangendo dezenas de milhares de pessoas e localidades inteiras, ameaçando todos os que têm emprego.
Isto, a par da aparente recompensa aos bancos - e não só aos geridos de forma incompetente e criminosa, mas também àqueles que muito competentemente vão sugando, a cada um de nós, todo o dinheiro que conseguem.
Multiplicam-se as situações insustentáveis e, com elas, os sentimentos explosivos de revolta indiscriminada, que em nada precisam de estímulos politico-partidários para se expressarem.

É verdade que, após 35 anos em liberdade, é esperada numa manifestação de 1º de Maio urbanidade e tolerância na expressão desses sentimentos individuais de revolta.
Mesmo se, ainda não há tanto tempo assim, o Porto assistiu à morte de manifestantes por parte da Polícia, a mando do governo da altura.

Mas, sendo a situação presente aquela que é, das duas uma:

Ou Vital Moreira e a direcção do PS estão de tal forma alienados das terríveis condições enfrentadas por esse país fora que, candidamente, não foram capazes de antecipar a possibilidade de reacções individuais agressivas a uma sua presença, também eleitoral, numa manifestação onde é inevitável a cristalização do descontentamento e revolta com a situação actual;

Ou, então, Vital Moreira e a direcção do PS apercebem-se bem dessa evidência, e a deslocação ao Martim Moniz dos seus candidatos ao Parlamento Europeu jogou com essa possibilidade, que se veio a concretizar.

Não fazendo eu a Vital Moreira e à direcção do PS a injustiça de os considerar estúpidos, irresponsáveis ou alienados, acredito que se tratará da segunda hipótese.
E o tratamento que têm dado ao assunto reforça esta convicção.

Vital Moreira foi em demanda da sua chapada da Marinha Grande - como aquela que, há muitos anos, catapultou Mário Soares dos últimos lugares nas sondagens para o palácio de Belém.
E houve quem lhe fizesse a vontade.