quinta-feira, 29 de setembro de 2011

É já só o que falta

É extraordinária a força que a hegemonia (não no sentido coimbrão de "supremacia", mas na acepção gramsciana de integração, pelos dominados, do discurso da ideologia dominante que justifica a sua dominação) tem vindo a demonstrar no país dos Galos de Barcelos.

Não contem a ninguém, mas começo a ter pesadelos recorrentes com rebanhos que se dirigem pelo seu pé para o matadouro, balindo rezinguices e comentando as vantagens dos choques eléctricos em comparação com a degola, ou o esventramento.
Nalgumas noites, a coisa dura mais um pouco até acordar. Então, carneiros muito subitamente emagrecidos desatam à cornada aos outros e entre si, para júbilo de outros marchantes, que se entusiasmam a tentar acertar uma cornada nos cães do pastor. O que, por sua vez, enche de júbilo uns terceiros, que nisso imaginam futuros radiosos.
E a marcha continua. Por entre o som incessante de balidos de resignação, de indignação, de justificação, de ira e de exortação.
Por vezes, ao acordar, procuro assarapantado certificar-me se não me terá, entretanto, crescido lã.

Entre tais terrores nocturnos e fotos de certeira ironia, como esta, vem-me por vezes um amargo à boca.
É que, por certeira que a ironia seja, faz-me também pesar a ameaça de outros pesadelos.

E passa-me pela cabeça: Se a tal de hegemonia continuar a funcionar tão bem, a que é que ainda assistiremos - por exemplo - num país da minha predilecção em que 50 a 60% do orçamento de estado é pago por governos da "Europa em crise", e em que todo esse dinheiro é apenas 25 a 30% do que por lá entra em "ajuda ao desenvolvimento"?

Que os seus governantes repetissem entre si a frase da foto, em jeito de prece, pouco me surpreenderia.
Mas... e se a coisa hegemonicamente se espalha?
Será que ainda vamos ver miúdos de calção rasgado a escreverem na terra, agora em português (já que a escrita das línguas locais só em altos estudos se aprende), «Por favor salvem os bancos»?

É já só o que falta.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Nesta primeira sociedade na história em que se morre à fome havendo comida de sobra...


... a frase desta senhora (para quem tenha mais dificuldades com o inglês, diz «Um dia os pobres não terão mais nada para comer a não ser os ricos») talvez seja mais metafórica que factual.

Antes disso, terão ainda a possibilidade de "apreender" a comida a que os ricos e os menos pobres lhes vedam o acesso, por não terem dinheiro, e a riqueza dos ricos e dos menos pobres que eles, para a transformarem em acesso à comida.

É bastante plausível que por aí passe um futuro em que se continue a agravar o empobrecimento, precarização e incerteza de vida da grande maioria, a par de uma progressiva concentração de riqueza - cuja obscenidade se torna tão mais evidente e violenta quanto maior é o seu contraste com as dificuldades gerais.



Algo que as "elites" e as "classes médias-altas" de muitos países africanos aprenderam a ignorar no seu quotidiano (até aqueles dias em que pneus são queimados e os seus armazéns saqueados), e que os detentores do dinheiro e do poder na Europa tentam aprender a ignorar. Confiantes na ignorância, resignação e capacidade de sofrimento dos outros, confiantes na sua própria capacidade repressiva.

Voltarei ao assunto.




(A foto da senhora foi pilhada do 5 Dias)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um euro de boa surpresa



É inevitável que nos vão escapando alguns livros de um escritor muito activo de que gostemos.
A "Parábola do Cágado Velho", de Pepetela, foi até à semana passada um desses casos.

Passando no quiosque dos jornais, lá estava ele, nessa colecção que vai saindo a 1 euro.
Tenho? Não tenho? Será que li emprestado?
Mas como, há coisa de um ano atrás, andei a correr quiosques e tabacarias até açambarcar o número de exemplares do "As Duas Sombras do Rio" (do João Paulo Borges Coelho) que fosse suficiente para colocar esse meu mui amado romance em cada uma das casas a quem dou presentes de natal, lá pensei que, mesmo que tivesse, não se perdia nada.

Afinal, não tinha.
E foi o livro que mais prazer me deu ler no último par de meses.

Por 1 euro, o que é que querem que vos diga?
Vão até à tabacaria da esquina, enquanto há!

domingo, 25 de setembro de 2011

Velhos discos de cabeceira (2)

Na minha cronologia pessoal, estes até vêm um pouco antes. Mas por cá continuam.
Lembrem-se, ou descubram - porque, de facto, já começo a ter uma idade desconfortavelmente respeitável.








(Estes vão para o Almiro Lopes e o João Moreira)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Velhos discos de cabeceira (1)



Leonard Cohen, in Songs of Love and Hate
(para o Jorge Amador, o Jorge Montez e a Paivikki Polonen)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Coisas que não se dizem em conferências finas sobre segurança (Diz, Mia. Diz!)



É verdade que o medo também tem as suas raras vantagens históricas. Afinal, foi o medo do comunismo que permitiu a construção do welfare state e umas décadas de mais justa distribuição da riqueza entre o capital e o trabalho.

Mas posto isto, se um dia juntarem o Mia e o Denis Duclos a falarem acerca do terrível perigo actual do medo (e da ideia de vivermos numa "sociedade do risco"), não se esqueçam de avisar.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

it'a a small, huge, worderful world. É mêmo, cara!


Passando por aqui, para ver em que paravam as modas, fiquei a saber que este modesto blog foi visitado por alguém de Cachoeiro de Itapemirim (diz que de Espírito Santo, Brasil).

Para além da minha sempre renovada e geral surpresa , plasmada no painel de bandeiras da coluna da direita, uma designação tão sugestiva e motivante (mesmo para mim, nascido no Alentejo, terra dos sobrenomes mais criativos e surrealistas do mundo, Brasil incluído)fez com que procurasse googlar umas fotos.

Existem! E são belas.



Abençoado país, que tanta vontade dá de visitar os lugares mais improváveis!...

Curiosidades quotidianas

Ao mesmo tempo que, esta manhã, eu ia recolhendo a roupa que secara no estendal, uma senhora tratava de reparar uma avaria no seu estore, na casa em frente.

Os papeis de género já não são o que eram...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Anda uma "Semana do livro" pelo Facebook





E cito: É a semana internacional do livro. A regra: pega no livro que está mais próximo de ti. Vai à página 56. Copia a 5ª frase para o teu post. Não indiques o título do livro e escreve também a regra no teu estado. Não vale fazer pesquisa no google.

«O que resiste à universalidade é a dimensão propriamente inumana do Próximo.»

Aceitam-se apostas.

domingo, 11 de setembro de 2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A ler



Uma elucidativa entrevista com o raper moçambicano Azagaia, aqui no Buala.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Discutindo convulsões sociais

Após vários pedidos, aqui fica o link para o programa "Discurso Directo" de ontem, onde pude falar um pouco de relações entre crise e convulsões sociais:

http://www.tvi24.iol.pt/videos/pesquisa/Discurso+Directo/video/13478949/1

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Olha! Um antropólogo a discutir convulsões sociais na TV...

Acabadas as férias e o trabalho escondido feito em casa, vou estar amanhã às 15 horas na TVI 24, para discutir a possibilidade de convulsões sociais violentas, em resultado da crise e (diria eu) das políticas que estão a ser aplicadas para a enfrentar.

Claro que virão à baila o Zizek, o Gramsci, o Brecht e as coisas que tenho andado a escrever ou a dizer acerca do potencial explosivo da generalização da incerteza/precaridade e do sentimento de ruptura do "contrato social" (diferente, em diferentes sítios e grupos sociais).

Mas... há alguém que queira começar já o debate, ou sugerir achas para a fogueira?



(acima, a belíssima foto do Toix que ainda um dia hei de conseguir convencer a IUP a "comprar", para capa de um livro em gestação)