domingo, 27 de fevereiro de 2011

Diz que é noite de Oscares



"Coelho e EUA, o mesmo combate" a.k.a. "O próximo anti-americanismo do CDS-PP"

A ressacar das submissões de projectos ao concurso da FCT, lá me cruzei, de saquinho de compras na mão, com a parangona do Expresso: «Wikileaks Portugal - Negócios da defesa arrasados: ministério move-se pelo desejo de ter brinquedos caros»

Visto o texto, não há nada de muito revelador sobre as eventuais questões de corrupção, nem acerca das altitudes a que elas chegaram.
A coisa até que parece varrida para o lado, por esta frase que quase reduz um mundo de transacções mortíferas ainda mais lucrativo que o das drogas ilegais a uma questão de volição infantilizada de uns quantos meninos mimados.

Mas que diz isso, diz. Tal como o disse o patusco do Manuel Coelho, lá para o Largo do Caldas.

Nada de muito original como ideia, de facto.
Estaria até capaz de apostar (embora já faça mesmo muitos anos que estou afastado de tais lides) que há de ter corrido pelos quarteis algum panfleto sigiloso, com o boneco do então ministro Portas na banheira, de chapéu de almirante na cabeça e a brincar com um submarino.
E, se não correu, é porque os militares estão a perder o seu rude sentido de humor castrense e a sua capacidade de gozarem de forma óbvia com aquilo que é evidente. O que seria uma grave perda para a cultura nacional.

Claro que é chato isto vir dos mesmos cámones que nos obrigaram a gastar fortunas em inúteis fragatas caça-submarinos e que nos pagam o uso das Lajes com material militar maningue fino, em segunda mão. Mas, enfim... cada um tem os amigos e a coluna vertebral que pode.

Contudo, há algo que me cheira, e a que acho alguma piada.
É que, para o senhor dos submarinos, ser assim tratado, pelo amigo americano, como um infantil paisano salivando perante brinquedos caros deve ser pior do que a revelação de suspeitas do foro criminal.

E como "Le partie c'est moi", será que ainda vamos ver o CDS-PP dar uma súbita guinada, tornando-se resolutamente anti-americano?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os eunucos...

... no reino do Bahrein e na Líbia.

"E quando os mais são feitos em fatias, não matam os tiranos, pedem mais."


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um Ministério mariconso


Dois serviços do Ministério da Educação bloquearam uma campanha contra a homofobia e o bullying homofóbico nas escolas.

É caso para dizer que, ao contrário dos gays e das lésbicas, o Ministério "não tem tomates".

Ou, então, é ainda pior do que isso.

É no sábado

“A partir dos mais diversos pontos, de Roma a Tunes, do Cairo a Oakland, de Londres a Beirute, de Buenos Aires a Atenas, de Maputo a Sana, um conjunto muito significativo de lutas, manifestações, greves, ocupações tem vindo a ter lugar. Um elemento comum, além da assinalável capacidade de mobilização, parece ser o facto de muitas dessas acções assumirem, formal e substancialmente, não só o questionamento da ordem estabelecida, mas também o padrão normalizado de luta política legal e confinada aos limites do poder de Estado. Num contexto de crise do capitalismo global, a ordem pública é confrontada com uma desordem comum que toma as ruas como o seu espaço, resgatando palavras como «revolução», «revolta», «motim». O debate que propõe a UNIPOP passa por procurar identificar que outros pontos de contacto têm estes diversos focos de luta, bem como quais são os seus limites, e perceber em que medida é que um certo efeito de arrastamento pode ou não ter como consequência a constituição de uma resposta emancipadora à crise de capitalismo global, ou seja, que articulação têm estes movimentos com o paradigma de «revolução» e de que forma o reconfiguram.”

Mais uma razão para admirar elefantes

O vídeo não dá para importar. Está aqui.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dicionário popular (suplemento do Borda d'Água)

Bazooca (ou bazuca):

Designação popular por que ficou conhecido, a partir da II Guerra Mundial, um lança-granadas-foguete de uso individual e grande simplicidade técnica.
É constituído basicamente por um tubo, um aparelho de mira e um sistema eléctrico de disparo accionado por um gatilho e que provoca a ignição do propulsor da granada.
Esta, embora de alcance limitado devido à modesta quantidade de combustível, tem um grande poder explosivo que, aliada à ponta oca em forma de cone invertido, lhe confere um grande poder perfurante e faz com que rebente com tudo à volta.
Convém, por isso, não deixar o pé na linha de tiro.


Notícias políticas::

Em bem menos que uma semana, o PSD ficou impossibilitado de apresentar moções de censura durante uns bons mesinhos. Consta que não está muito chateado. Acha que a coisa lhe saiu barata, pois não teve que se co-responsabilizar com governação nenhuma; bastou uma conversa de responsabilidade, irresponsabilidade e, assim como assim, já não interessava nada.

Fait-divers:

Um Sr. Portas que não é o que eu conheço anda radiante. Foi reeleito presidente da colectividade e diz que mandou nos chefes dos outros clubes todos. Há quem jure que tem razão.

A bolsa de valores de Lisboa deve ter encerrado em alta, pois foram vistos muitos senhores a circular pelas ruas circundantes afixando um irreprimível sorriso malandro na cara.

O Sr. José de Sousa, prometedor engenheiro reformado, conseguiu finalmente estabilizar a sua tensão arterial, ao garantirem-lhe que não será tão cedo despejado do apartamento que ocupa para os lados de S. Bento. Teve, no entanto, que tomar um comprimido quando o pároco local lhe lembrou que tem por lá umas facturinhas para pagar qualquer dia, aos altares de S. pedro e de S. Paulo.

Vida cultural:

Aguarda-se a qualquer momento uma performance de dramatização histórica, levada a cabo em local ainda não especificado, mas ali para os lados do Martim Moniz. Não se trata, contudo, do célebre episódio do entalão na porta, mas da reconstituição de uma declaração da APU em noite de descalabro eleitoral. Especulam os críticos se não se tratará, afinal, do lançamento encapuçado do episódio-pivot de uma segunda temporáda da aclamada série televisiva "Conta-me como foi".

Uma bela prenda que me deram ontem



Obrigado, Marta.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Moda zombie

Será mesmo verdade que a UDP regressou do túmulo e do além, para pôr o BE a fazer esta moção de censura?

(e já que se fala de zombies, vejam este texto dos Comaroff)
Adenda: a pedido de um comentador, afixei aqui uma explicação do porquê da pergunta.

Citações de café (30)

Numa tropical esplanada, um académico prepara-se para dedicar um exemplar da sua tese, editada em livro, a um colega e ex-aluno que por ali passava com um amigo.

- Pois é, pá! Mas isto são assuntos complicados. Se calhar, há muita coisa que não vais perceber.

- Sabe, professor... Se o livro é assim complicado de mais para mim, é melhor oferecê-lo a alguém que o consiga apreciar.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Balas, gases, estilhaços e tifo, sim. Vergarem a mola é que não.

Descobri através do Jonathan Hyslop este site fascinante, com fotos do "South Africa Native Labour Corps", na I Guerra Mundial.

Parece que. mesmo morrendo que nem tordos nas trincheiras (a maior parte das vezes por incompetência, pedantismo e desumanidade dos seus aristocráticos generais), havia quem precisasse que fossem pessoas com a pele mais escura a fazerem o trabalho braçal.

Isto, pelo menos, na perspectiva dos tais generais e dos poderes públicos.

Porque (facto normalmente pouco conhecido hoje em dia, talvez devido ao peso simbólico da longa e heroica epopeia anti-apartheid), havia por essa altura na África do Sul um forte movimento operário e sindical "branco" que, metralhado em insurreições revolucionárias pelos mesmos generais que os tinham mandado para a morte na Europa, se tentou unificar com os operários "negros".

Parece que levaram um pouco de tempo de mais a perceber que, numa sociedade tão capitalista como era já a África do Sul no início do século passado. a classe importava mais do que a cor.
Tivessem percebido mais cedo, e talvez o apartheid nunca tivesse existido, e talvez o colonialismo tivesse durado muito menos tempo, em África.

Mas a vida passada é o que foi, não o que poderia ter sido...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"O ex-presidente Hosni Mubarak"

É verdade que as coisas ainda estão longe de resolvidas e claras.

Mas deixem-me ter o prazer de escrever esta frase que está no título!

Qual Deolinda, qual caraças!



Também há a "geração esperta"!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Maus pressentimentos

Ouvindo Mubarak, fiquei na dúvida sobre se se tratava de uma fuga em frente, ou se ele tinha recebido um balão de oxigénio dos militares. O que em nenhum dos casos seriam boas notícias.

O discurso de Suleiman, mesmo que ainda mais eivado de tiques de PIDE do que o do presidente, parece indicar a segunda hipótese.

Tudo isto me inquieta, apesar do comunicado das Forças Armadas.
Mas se até aquelas duas alminhas falam da concretização das "exigências da juventude" (como se estas e os protestos não fossem contra eles) como ler o comunicado que, antes destes discursos, parecia tão claro, apesar das suas ambiguidades?

Como nada disto parece aceitável para quem protesta (os únicos que interessam, pois nunca tive vocação para treinador de bancada de revoluções alheias), cheira-me desagradavelmente a sangue nas ruas.
E é uma daquelas alturas em que desejo ardentemente estar enganado.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A crise e um ladrão melhor que nós

(obrigado à Marta, que o descobriu)

Antropólogos são outra loiça...

Uma pobre senhora que está a estudar para um teste duma licenciatura e universidade que não revelarei desabafou comigo:

- Até que enfim! É um alívio estudar um texto bem escrito!

No meio de uma montanha de papelada, lá estava um artigo do João Leal.

Vão pondo na agenda

“A partir dos mais diversos pontos, de Roma a Tunes, do Cairo a Oakland, de Londres a Beirute, de Buenos Aires a Atenas, de Maputo a Sana, um conjunto muito significativo de lutas, manifestações, greves, ocupações tem vindo a ter lugar. Um elemento comum, além da assinalável capacidade de mobilização, parece ser o facto de muitas dessas acções assumirem, formal e substancialmente, não só o questionamento da ordem estabelecida, mas também o padrão normalizado de luta política legal e confinada aos limites do poder de Estado. Num contexto de crise do capitalismo global, a ordem pública é confrontada com uma desordem comum que toma as ruas como o seu espaço, resgatando palavras como «revolução», «revolta», «motim». O debate que propõe a UNIPOP passa por procurar identificar que outros pontos de contacto têm estes diversos focos de luta, bem como quais são os seus limites, e perceber em que medida é que um certo efeito de arrastamento pode ou não ter como consequência a constituição de uma resposta emancipadora à crise de capitalismo global, ou seja, que articulação têm estes movimentos com o paradigma de «revolução» e de que forma o reconfiguram.”

Para desanuviar da crise...



... os 10 animais mais engraçados da internet.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Por vezes, até que vale a pena essa coisa de as democracias criarem entidades reguladoras independentes que, por vezes, tomam posições independentes

Em 2008, o Omar-Suleiman-a-que-temos-direito estava mortinho por se adiantar aos restantes países europeus, na criação de legislação (desnecessária, insultuosa e perigosa, defendi aqui) que criminalizasse a "apologia do terrorismo".

Em 2009, ele e o charmoso barbudo socrático também se quiseram adiantar às negociações que ainda se arrastam (e por muito boas razões) ao nível da União Europeia, e arremataram negócio para fornecer à discrição, aos paranoicos e Patriot-Actícos serviços estado-unidenses, todo o tipo de dados pessoais e antropométricos dos "seus" lusos cidadãos.

Agora, veio a Comissão Nacional de Protecção de Dados vetar o acordo tão invertebradamente conseguido...

Lembra aos simpáticos, colaborantes e securitários governantes que, estando em causa direitos fundamentais acerca de dados pessoais, lhes tinham, por lei, que pedir parecer antes de firmarem o acordo, e não ano e meio depois.

E criticam minudências como, por exemplo, que:

- o acordo abranja todos os crimes que prevêm penas superiores a 1 ano (o que é que sobra?);

- não esteja assegurado que da "partilha" de dados não resultem condenações à morte (o que é inconstitucional, para além de um bocado chato, sobretudo para o cidadão português que venha a ser morto);

- seja pouco oportuno um acordo bilateral, quando está em preparação um acordo-quadro entre a UE e os EUA (que, é verdade, e mesmo sendo escrito em Bruxelas, deverá ter a desvantagem securitária de proteger bem melhor os direitos dos cidadãos europeus).

Claro que a procissão ainda vai no adro.

Mas justifica-se, desde já, reafirmar o título deste post: por vezes, até que vale a pena essa coisa de as democracias criarem entidades reguladoras independentes que, por vezes, até tomam posições independentes.

O que eles dizem e cantam

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Olha!...

Neste dia em que coisas bem mais importantes se passam, descobri que o meu leãozinho de estimação chegou à imprensa escrita, pela mão do Inimigo Público.

Um dia destes, ainda dou com ele na capa da Caras, o traidor!...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Economia e revolta política

Os dados sobre os países magrebinos e árabes que são apresentados aqui justificam que sejamos cada vez mais cépticos quando nos cruzamos com a explicação preguiçosa que costuma aparecer a cada revolta ou motim em países pobres, fiquem eles no sul do mediterrâneo ou na África sub-sariana:
A de que "aquilo" aconteceu devido à pobreza e ao desemprego, que são revoltas mais económicas do que políticas.

Esta interpretação habitual tem subjacente, para além do desconhecimento, um preconceito: o de que os pobres pensam com a barriga e a sua política é o estômago.
Por sua vez, esse preconceito passa por "natural", face ao economicocentrismo aparentemente tecnocrático do discurso político hoje dominante - enformado pelas visões económicas neo-clássicas e neo-liberais, mas que parece fazer sentido a quem partilhe uns fragmentos mal digeridos de marxismo de manual de divulgação.

Mas dizem-nos os tais dados que a actual onda de protestos árabes começou no país com, de longe, a menor taxa de pobres da região (3,8%) e que está a ter a maior visibilidade num país que, embora com 20% de pobres, tem a segunda menos alta taxa de desemprego (9,8%).

Convidando-nos a pensar - sem, para isso, termos que recorrer a coisas esquisitas como a teoria do caos - que a pobreza e os aumentos de preços podem ser um caldo de cultura, um catalisador ou uma faísca para a revolta (e, desta vez, a faísca até foi um acto simbólico), mas nem bastam para que ela ocorra, nem são a única coisa que ela expressa e contra a qual se insurge.

Podem variar muito as visões acerca do que é a dignidade, do que são os direitos, do que o poder político é e deveria ser. Mas só muito excepcionalmente (se é que tal pode acontecer) uma revolta popular ou amotinação pública poderá não ser, na sua génese, mobilização e desenvolvimento, uma expressão e reivindicação política.
Mesmo que, ao contrário de agora, só explicitamente se insurja contra questões económicas e não reivindique o afastamento dos detentores do poder estatal.

É assim nos países árabes (em cada caso diferentes), como foi assim nas revoltas de 2008 e 2010 em Moçambique, e assim foi um pouco por toda a África sub-sariana, nos últimos anos.

O que, por outro lado, nos obriga a conhecermos cada situação e cada caso, na complexidade dos muitos factores envolvidos, para o podermos compreender.
E nos "proíbe" generalizações simplistas, ou a redução das pessoas ao seu aparelho digestivo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011