sábado, 25 de julho de 2009

Ó pá gente tã modernos - I

O programa eleitoral do PS promete um projecto de formação e apoio à integração profissional de 25.000 daqueles jovens que deixaram de ter direito ao subsídio de desemprego porque o governo do PS alterou a lei respectiva, e depois chumbou as propostas de outros partidos para que a situação fosse corrigida.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Esquerdas, eleições e vinhos monocasta - II

Acerca do tema deste post, fiquei agora a perceber melhor algumas coisas.
Sem, com isso, ficar menos surpreendido.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Esquerdas, eleições e vinhos monocasta

Há uns dias atrás, uns amigos holandeses trouxeram-me, de uma expedição enoturística pelo alto Alentejo, um par de garrafas que achavam o máximo.
Eram de um vinho monocasta, feito com tinta caiada.

Anfitrião e amigo, lá preparei um jantar à altura das suas expectativas vinícolas. Superiores às minhas, confesso, devido a experiências anteriores.

Chegado o grande momento da prova, titubiei um pouco - pois, afinal, eles tinham trazido entusiasticamente as garrafas e o sabor na minha língua não me levava a dizer aquilo que eles gostariam.

Que o vinho era excepcional era evidente; mas apenas no sentido de ser diferente do mais habitual.
Quanto à qualidade (e talvez parte da culpa fosse da comida escolhida, que jogava no contraste e recombinação de paladares, quase como a vida ou a política), o vinho até tinha um sabor interessante, quase um concentrado de vinho alentejano. Mas tornava-se excessivo pela monotonia de um sabor forte e marcante, mas isolado, sem subtileza ou surpresa, complexidade. Ao contrário do desejado pelo produtor, parecia um vinho inacabado, que reduzia um mundo de interacções a um quase vazio, de tão concentrado num único ponto. E era pena, dada a base de que partia - mas a que se limitava.

É muito difícil transmitir experiências sensoriais em palavras. Sobretudo numa língua que não é nossa e com um copo na mão. Os meus amigos ouviram-me, mas creio que não consegui transmitir-lhes o que tinha em mente.

E nem lhes podia indicar, como metáfora, esta posição recente, que muito me surpreendeu, e esta resposta a ela.
Eles não lêem português.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Será?

Há cerca de mês e meio que este modesto blog é regularmente visitado a partir das Astúrias, e sempre através do post 3 Páginas de Luis Sepúlveda, que transcreve quase totalmente um dos contos do seu livro As Rosas de Atacama.

Com a repetição sistemática, cada vez mais se me instala uma dúvida pouco verosímil mas insistente: já que é nessa região que Sepúlveda reside, será que é ele mesmo quem aqui vem espreitar?

Se for mesmo esse o caso, Luis, deixo duas mensagens para ti:

Desculpa ter terminado a transcrição do conto um pouco antes do fim, onde me pareceu que o efeito seria melhor.
São liberdades de leitor - afinal, é a minha desculpa, liberdades de quem se torna 'dono' do que foi escrito, a partir do momento em que leu e gostou.

E, quando voltares a Lisboa, vê se arranjas uma noite para jantar cá em casa. Seria um imenso prazer.

domingo, 19 de julho de 2009

Antropovistas pelo Vietname e Kruger Park

O Antropovistas foi finalmente actualizado, com fotos do Kruger Park (Ana David) e do Vietname (Luís Patta).

A todos vós, o convite a que por lá passem.
E, já agora, mandem fotos.

E ontem, aniversário de Nelson Mandela

O que quer que seja, está transformado o planeta deles.
(por Zapiro)

Estas coisas é que nos fazem velhos!



Passam hoje 30 anos sobre a entrada vitoriosa dos guerrilheiros da Frente Sandinista em Manágua.


sábado, 18 de julho de 2009

A minha alma está parva


Na minha passagem de rotina pelo meu "armazém" no 4shared, tive a surpresa de verificar que são já 635 as pessoas fizeram downloads de artigos que lá disponibilizei, com links a partir do Antropocoiso.

Para além de me surpreender, isto alegra-me por duas razões:

Em primeiro lugar, porque suponho que quem escreve artigos o faz para que eles sejam lidos, e no pressuposto (certo ou errado) de que essa leitura vale a pena.
Ora, para quem ouviu o director de uma respeitadíssima revista científica esclarecer que, salvo casos excepcionais, nos devemos dar por satisfeitos se 20 pessoas lerem com atenção um artigo nosso, é muito agradável ver 3 deles ultrapassarem os 100 downloads e 7 outros serem descarregados de 50 a 90 vezes.
Para quem esteja habituado a publicar muitos milhares ou milhões, isto é motivo para rir. Para mim, é uma indicação de que valeu a pena escrevê-los e de que valeu a pena criar este blog.

Em segundo lugar, esta procura alegra-me porque defendo que a produção científica deveria ser entendida como um património social, livremente acessível a todos.

Isto porque, por um lado, para que alguém seja cientista houve um enorme investimento da sociedade, que tem, por isso, o direito de usufruir do conhecimento que produza - mesmo que esse investimento social venha a ser aplicado numa instituição privada.

Por outro lado, porque mesmo as mais criativas e inovadoras teorias e análises, que só aquela pessoa específica poderia pensar, só são possíveis devido a um longo processo colectivo de produção de conhecimento, em que o mais genial dos cientistas é apenas mais um elo de uma longa cadeia.

E, assim sendo, aqui vos deixo (por ordem de 'downloadagem') a lista de artigos que disponibilizo em acesso livre:

O linchamento como reivindicação e afirmação de poder

Antropologia à porta de casa (parte do Posfácio deste livro)

Determinismo e caos, segundo a adivinhação moçambicana

Gémeos, albinos e prisioneiros desaparecidos: uma teoria moçambicana do poder político

Saúde, doença e cura em Moçambique

Quando a identidade é um perigo: consequências das mutações identitárias na Refinaria de Sines

Posfácio analítico do livro Um Amor Colonial

Moçambique actual, continuidades e mudanças

Tecnologia industrial e curandeiros - partilhando pseudodterminismos

Poder, morte e linchamentos em Moçambique

Há uma cultura do risco?

O lobolo do meu amigo Jaime

Crónicas dos motins: Maputo, 5 de Fevereiro de 2008

Wining back our good luck - bridewealth in nowadays Maputo

Dragões, régulos e fábricas: espíritos e racionalidade tecnológica na indústria moçambicana

«It's just the starting engine» - the status of spirits and objects in south Mozambican divination

The homecomer: postwar cleansing rituals in Mozambique


Entretanto, quase outros tantos artigos estão (ou estarão em breve) disponíveis para download livre aqui.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Never ending painting

Segundo informa o Patrick, em Buenos Aires.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gripe A, aviões e combustível

Em comentário ao post anterior, Relógio Adiantado expressou a sua discordância em relação à minha "denúncia", disponibilizando o link para este interessante artigo e perguntando em que dados me baseava.

Creio que a questão tem suficiente interesse geral, particularmente neste tempo de receios da gripe A, para afixar aqui a minha resposta.
Não para 'falar grosso', mas na esperança de que ela possa ser o ponto de partida para um debate mais vasto, feito dentro do espírito com que começo o meu 'comentário ao comentário':

«Antes de mais, muito obrigado pelo seu comentário.
Espaços como este só são úteis (para além de, eventualmente, alimentarem o ego dos 'donos' dos blogs) se estimulam o debate, a transmissão de experiências e, com sorte, algum aprofundamento mútuo.
O que é muito difícil se os intervenientes tiverem experiências e opiniões semelhantes, limitando-se a dizer "amen" uns aos outros.

Entrando na questão, gostaria antes de mais de chamar a atenção para o facto de, perante qualquer problema de segurança pública que envolva actividades e interesses financeiros de grande monta, há sempre peritos tecnicamente habilitados que se pronunciam a favor da inexistência de perigos significativos por parte dessas actividades.

E não têm que "estar comprados", que ter conflitos de interesses, ou sequer que estar a mentir.
Podem fazê-lo por convicção técnica e cultura profissional.
E podem (como no caso cujo link envia, ou no caso do perito que ouvi na televisão) estar a falar verdade, embora apenas parte da verdade.

Os filtros de ar condicionado dos aviões são do melhor que há e o sistema de renovação externa de ar funciona como é explicado no artigo que refere.
Mas é preciso que seja ligado em voo - e não apenas para testes como o referido.

Ora as empresas petrolíferas notaram uma significativa redução do consumo de combustível por parte das companhias aéreas, sem alteração de aparelhos e rotas que a pudessem justificar, a partir da proibição de fumar nos aviões.
Um dado que, no caso de Portugal (e incluindo, claro, as muitas companhias que aqui operam ou fazem escala) me foi transmitido numa conversa de trabalho acerca de outro assunto.

Como havia, internacionalmente, referências pontuais ao facto de a proibição ter sido aproveitada pelas companhias para substituir a renovação de ar pela recirculação interna (o que já induziria uma poupança significativa, dada a redução da maquinaria envolvida e das necessidades de aquecimento do ar utilizado), tomei durante uns anos essa explicação como boa.

Calhou, tempos depois, isso vir a conversa com uma pessoa que trabalha como tripulante de cabine.
Olhou para mim com uma certa pena da minha ingenuidade e comentou: «Não. Nós já nem fazemos recirculação de ar. Só se a temperatura baixasse muito na cabine, mas isso nunca acontece com muitos passageiros e um avião com bom isolamento.»

Tive oportunidade, desde então, de confirmar essa informação com duas outras pessoas de tripulações de cabine e com um piloto, pertencentes a duas diferentes companhias aéreas e pouco à vontade com a conversa.

Estou, por isso, convicto de que essa é uma prática "normal" (se não generalizada), que a frio nem sequer me espanta muito, por ser semelhante a opções economicistas que encontrei noutros sectores económicos e grandes empresas.

Estou também convicto de que, constituindo ela um perigo para a saúde pública e estando instalados os mecanismos tecnológicos para limitar muito esse perigo (mecanismos cujo uso até talvez seja já obrigatório, embora se "fechem os olhos"), a situação é intolerável e terá que ser clarificada e controlada pelos poderes públicos e pelas instituições de controlo da actividade aeronáutica.

Tanto mais que esse controlo é neste caso fácil, dados os instrumentos de registo dos aviões, e que, perante a ameaça de doenças potencialmente mortais, o procedimento economicista que referi não se limita a ser imoral; é criminoso, á luz da legislação geral existente na larga maioria dos países.»

sexta-feira, 10 de julho de 2009

As mentiras da verdade aeronáutica

Ouvi hoje no telejornal um senhor dizer, com uma voz colocada para soar tranquilizadora, que não devem existir preocupações de viajar em aviões, mesmo quando a Gripe A atacar com força.

Dizia o tal senhor que os aviões comerciais estão equipados com filtros de ar condicionado capazes de filtrar partículas tão pequenas como a maioria dos virus.

O que é verdade.
Esqueceu-se contudo de acrescentar que, desde que se generalizou a proibição de fumar em aviões (e para poupar em combustível), primeiro deixou de se fazer renovação de ar a partir do exterior e, logo depois, deixou até de se fazer recirculação do ar interno. Ou seja, os tais filtros existem mas nada por lá passa. Isto em praticamente todas as companhias e mesmo em voos transcontinentais.

Ou seja, ainda, viajar de avião é hoje (por razões economicistas e á custa de uma suposta protecção da saúde pública) o mesmo que estar fechado durante horas numa casa hermética, a respirar o ar respirado por toda a gente que estiver lá dentro.

Apelo a duas coisas:

- a que algum membro de uma tripulação aeronáutica desminta o que acabei de escrever, se tiver "lata" e dados para isso;

- a que seja rapidamente produzida legislação, nacional e transnacional, que obrigue as empresas aeronáuticas a acabarem com esta prática que, já antes da ameaça pandémica, era um atentado à saúde pública. E que controle estreitamente o seu cumprimento.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Esta senhora não existe!

Isso de ser a vergonha das ciências sociais já foi chão que deu uvas...

Um ano depois de uma espectacular melhoria dos resultados de exames de matemática, com a adopção perguntas do tipo «será que 2 mais 2 são 4?», a ministra da educação vem explicar que a também espectacular quebra deste ano se deve à difusão, pela comunicação social, «da ideia de que os exames eram fáceis».

Dizem que há quem seja bipolar, mas não será o caso. Pois, a sê-lo, que é do outro polo?
Também dizem que há quem seja monomaníaco. Mas a senhora tem outras manias - como essa de que os profs são calões incompetentes que só podem ser domados a chicote.
Se calhar, deviam começar a dizer, simplesmente, que há quem não exista.

C'est la vie

Oliveira e Costa pode ser libertado a qualquer momento (7/7/2009).

Autor de assalto ao BES condenado a 11 anos de prisão (7/7/2009).

Eu continuo a apoiar a limitação razoável da prisão preventiva e a compreender a complexidade dos processos contra criminosos financeiros - desses que não assaltam bancos, mas os usam para assaltar.
Mas, raios! Às vezes isto faz um bocado de confusão.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Obrigado!

Parece que há 3 pessoas, para além de mim, que acham este blog talentoso!

O Que Diz o Pivô, o Navegador Solidário e os Canards Libertaîres tiveram a bondade e deram-me a honra de nomear o Antropocoiso para o Prémio Lemniscata.

E que é isso? - peguntam vocês, se ainda não se cruzaram com ele por outros lados.

Pois «O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores.»
E acrescenta-se que «o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente».

O meu enorme obrigado e, seguindo as regras, as minhas 7 nomeações, tentando diversificar os tipos de blogs e evitar quem já foi nomeado:

- ao Câmara Clara, pelo prazer que sempre me dá olhá-lo.

- ao Diário de um Sociólogo, por fazer pulsar Moçambique para quem lá está e para quem está fora.

- aos Ladrões de Bicicletas, por tirarem a economia dos calabouços da indigência intelectual do mainstream.

- ao Mundo Louco e Vida Podre, pela volta por cima.

- ao Rui Tavares, pela opinião.

- ao Uma Bugra Sulmatogrossense na Europa, pela beleza e pela revolta.

- e por fim, subvertendo o abecedário, ao De Lisboa (que já foi De África), por enriquecer mais a minha vida do que qualquer outra coisa.

Pequenos prazeres

Apesar dos avanços da imprensa digital, os livros mantêm sempre uma enorme vantagem.
É que, por muito trabalho e falta de tempo com que se esteja, dá sempre para os ler na casa de banho ou na cama.
Por vezes, é claro, à custa de umas pernas dormentes ou de umas horas de sono a menos, na ânsia de chegar ao fim do capítulo, ou de ler mais um...

Deixo-vos aqui os 3 livros que mais prazer me deram ler (ou, num dos casos, reler) nestas últimas 2 semanas cheias de trabalho:



Sempre uma maravilha de fluidez de escrita, precisão, inteligência e mistura de pequena e grande história, como quem conta estórias.



Uma investigação bem participante e (como sempre) rigorosa e inteligente, óptima para desempoeirar cabecinhas e para fazer pensar quem já as tenha desempoeirado.



Cinco casas de habitação projectadas por F. L. Wright (se é que se pode chamar isso ao "palácio Maia" de Los Angeles), incluindo claro a Fallingwater, com um detalhe que nos permite finalmente compreender como é que de facto são e como são as suas lógicas espaciais.
O livro é bem maior que o meu scanner, por isso não coube o nome da autora: Rebecca King.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Burgessos (para pôr a semana em dia)

por aqui tinha teorizado, com profusa análise de vernáculo, sobre o recurso parlamentar a palavrões capazes de fazer corar carroceiros, caso ainda os houvesse.
Hoje, acabada uma resma de testes escritos para classificar, cruzei-me com a versão gestual de insulto parlamentar, produzida pelo ministro Maizena.

Fico aliviado que o homem seja corrido (e desconfio que o nosso primeiro também achou isto uma oportunidade caída do céu), mas confesso que nada disto me parece significativamente diferente da arrogância e desrespeito com que este governo sempre tratou a oposição e, a reboque, todos nós cidadãos.

Essa reiterada arrogância e desrespeito causa-me, de facto, repulsa. E muita.
Esta sua manifestação particular, por seu lado, só me causa pena. Por eles e pelo país.

Se um ministro acha que deve insultar os outros quando dizem que ele está a mentir, isso quer dizer, entre outras coisas, que não percebe sequer que essa acusação faz parte da ocupação do cargo.

Agora, é chato que alguém chegue a ministro sem perceber, ao longo da sua vida, que isso de fazer pilinhas e cornos com os dedos já tem um ar um bocado infantil no ensino secundário.
Ou que alguém tenha o poder de tomar decisões importantes acerca das nossas vidas sem ter nunca percebido que, quando toca a insultar, isso pode ser feito de 1001 formas (irónicas, sarcásticas, metafóricas, you name it...) sem que o insultado tenha muito por onde reagir. E sem mostrar que somos burgessos e bimbos.

Já que a Natália Correia talvez seja refinada de mais para o senhor perceber a ideia, sempre lhe deixo aqui uma prenda:
Uma utilização bem mais insultuosa, inteligente e eficaz dessa coisa dos cornos, touros e campinos.