terça-feira, 29 de setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Votemos. Pois...


Nas últimas eleições, tive a rara alegria de fazer eleger, de uma vez, o político com cujas posições mais me identifico e o comentador com quem mais concordo.

Com eles agora "degredados", confesso que o entusiasmo com que irei votar no domingo é bastante menor - mesmo se estas eleições são, em princípio, bastante mais importantes que as anteriores.
Será que, com a idade ou qualquer outro fenómeno de estragação, me deu para personalizar a política?

Pensando bem, acho que não é isso.
É claro que preferiria contar, para defenderem aquilo que acho necessário, com as pessoas com quem mais me identifico.
Mas não apenas (nem, talvez, sobretudo) por simpatia, amizade ou abstracta confiança.

Creio que esta súbita necessidade passa, antes, pela consciência de que estaremos, a partir de 2ª feira, perante um quadro bastante volátil de relações de forças e de táticas negociais.
E aí (suponho que é humano, se é que tal coisa existe), sentir-me-ia mais à vontade sabendo que as decisões acerca de o quê e do como fazer seriam tomadas por pessoas cujo carácter conheço e cujas formas de pensar e decidir se aproximem das minhas.

Isto, particularmente, porque existem dois equívocos cuja sedimentação se tem vindo a tornar evidente.

Por um lado, se seria muito surpreendente que o PS não ganhasse com maioria relativa e em forte quebra, enquanto o BE cresce fortemente e o PCP mantém ou mesmo reforça posições, nada disso garante minimamente que essa marcada "maioria de esquerda" se venha a traduzir em políticas públicas, convergências previlegiadas ou dependências parlamentares.
Após 4,5 anos de autismo autoritário, cria-se de facto uma situação radicalmente diferente, na qual talvez Sócrates nem sequer saiba fazer política.
Mas NADA torna essa lógica e desejada abertura à esquerda mais provável do que acordos, deste PS e deste Sócrates, com o CDS (de que houve antecedentes em alturas mais absurdas) ou com o PSD.
Esta última possibilidade é, aliás, dramaticamente reforçada pela necessidade que os porta-vozes das duas forças têm tido de, desmentindo-a, enfatizarem divergências tão supostamente insanáveis quanto irrelevantes na lógica governativa do centrão.

Ou seja, a incerteza e confusão que aí vem irá exigir uma manipulação muito judiciosa da flexibilidade e da firmeza, para a qual gostaria de contar com pessoas em cuja capacidade de o fazer confiasse plenamente.

Um segundo equívoco em marcha tem, temo bem, a ver com o significado, a prazo, dos previsíveis aumento marcante do BE e solidez eleitoral do PCP.
A actual lógica de esperada deslocação de votos e erosão do PS lembra-me singularmente, apesar das inúmeras diferenças, aquela que ocorreu nas eleições em que a APU/CDU teve a sua maior votação em legislativas.
Contra os meus desejos, intuo muito fortemente que, na ausência de uma radical mudança no relacionamento entre BE e PCP (ou de um terramoto social), a votação do BE neste domingo será um pico inigualável durante muitos e bons anos, enquanto à do PCP se seguirá uma erosão bem menos marcada, mas continuada.
Mas aquilo a que assistiremos daqui a umas horas será, quase certamente, a um embandeirar em arco por parte dessas duas forças políticas - que muito provavelmente continuará nos próximos 4 anos, julgando seguras novas subidas futuras.

Também para minimizar essa tendência mútua para o "orgulhosamente sós" e para o auto-comprazimento com as superioridades em relação ao outro (superioridades que ambos os partidos têm, em aspectos diferentes e, afinal, complementares e complementarmente necessários), gostaria, então, de poder votar nas pessoas em quem mais confiasse.
Porque não é por aí que passa uma efectiva alternativa de futuro.

Mas, com o menor entusiasmo que estas preocupações me provocam, lá estarei de caneta em punho, daqui a umas horas.
Quanto mais não fosse, para contribuir para que Portugal seja, na 2ª feira, um país politicamente diferente.

post scriptum: o boneco foi roubado ao Carlos Serra.

Promessas feitas para não serem cumpridas

Juro que não volto a ir a dois aniversários infantis na mesma tarde!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O "Companhia de Moçambique" está vivo!

Ontem, fui dar uma voltinha ao "Companhia de Moçambique" para, como de vez em quando faço, clicar aleatoriamente num qualquer ponto do seu arquivo e me maravilhar com as fotos e postais antigos, a maioria das vezes acompanhados de dados historicos e documentos.

Sempre pensei que esse blog constituía, para o seu autor, um trabalho terminado, já que não havia um post novo desde 2005.
E parece que era esse o caso. Mas deixou de ser.
Sem prometer «muito movimento e produção», lá nos brindou com muito e interessante material sobre os navios das "linhas de África". E a coisa irá continuar.

Quem o conhece, fique a saber que o "Companhia de Moçambique" está vivo!
Quem não conhece, aproveite para conhecer.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um gajo em quem vale a pena votar

Fui hoje (ontem) participar, enquanto espectador entusiasta, nas acções de campanha eleitoral de um amigo de longa data.
Curiosamente, é candidato a deputado num distrito em que vivi durante alguns anos e que me continua a dizer bastante. Um distrito onde (curiosamente, ainda) um outro conhecido de longa data, que muito respeito, é também cabeça de lista, por outro partido.

Tirando a qualidade do almoço que constituia uma das acções, foi um dia de surpresas agradáveis, ou em que reforcei as boas imagens que já tinha.
Sobre a seriedade, a capacidade, o jeito, a pertinência e importância das propostas.
Será (assim o espero, mas para isso são necessários os papelinhos nas urnas, que a eleição não está certa) um deputado que, de facto, vale a pena.

Vivendo em Lisboa, não posso votar nele.
Mas, se estão no distrito de Santarém, pensam nisso.
Eu não hesitaria. E sem ser pela amizade.

domingo, 20 de setembro de 2009

Muito Bom Com Calinadas

A suspensão do processo de avaliação profissional do juíz Rui Teixeira, que foi instrutor do "Processo Casa Pia", está a fazer correr alguma tinta.

A razão tem a ver com o facto de apenas os membros do Conselho Superior da sua corporação que foram indicados pelo PS se terem oposto a que recebesse uma classificação de "Muito Bom".

Para muitos observadores, isso configura (ou levanta a suspeição de) uma interferência partidária no poder judicial. No que, provavelmente, até terão razão.

O que me espanta, contudo, é outra coisa.
Tendo esse meretíssimo juíz visto algumas das suas decisões fulcrais ser anuladas por instâncias superiores devido a "erro grosseiro" (ou seja, devido a um grau inaceitável de incompetência profissional - daqueles que a nós, vulgares mortais que não somos juízes, nos levariam ao desemprego ou à destruição da carreira), como é que apenas 3 membros do seu Conselho Superior acham que é um pouco de mais classificá-lo como "Muito Bom" - e, possivelmente, o fizeram por interesses partidários e não por mero bom senso, ou razões deontológicas?

Parece que os juízes vivem, ou pensam viver, num mundo muito diferente do nosso.
O que é um bocado chato, tendo em conta que ficamos à sua mercê, a partir do momento em que tenhamos que entrar numa sala de tribunal...

sábado, 19 de setembro de 2009

Mas há outra forma de recolher informações?


Sete ex-directores da CIA escreveram uma carta pedindo o fim dos inquéritos a práticas ilegais de tortura por parte da sua malta.

É uma cena que desmoraliza o pessoal, que até já se julgava ilibado por anteriores inquéritos-fantoches - dizem eles.

Especialistas mal-dizentes apontam duas outras razões de peso, para acabar com essas graves acções civilizacionais e de controle politico-democrático por parte do Presidente lá do sítio:

- Se os políticos dão em controlar a tortura, os agentes da CIA teriam que passar a recorrer a técnicas de recolha de informações que estão muito para lá das suas capacidades e QI.

- A tortura é um direito laboral adquirido. "Molhar a sopa" faz parte da tabela remuneratória, assim tipo ajudas de custo, automóvel de serviço ou cartão de crédito da empresa.

A julgar pelo que escreveu em livro quando era director do SIS, o nosso ministro da administração interna certamente concordará com estas preocupações.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

maningue Antropovistas

O Antropovistas foi actualizado com dose tripla:

Luís Patta no Cambodja
Vera Azevedo no Largo de São Domingos, Lisboa
este vosso criado na marcha do Dia Africano da Medicina Tradicional, em Maputo

Uma questão de bom senso

Gro Harlem Brundtland, uma senhora de nome difícil que foi primeira-ministra da Noruega e é paladina do desenvolvimento sustentável, considerou errada uma eventual adopção de energia nuclear em Portugal, aconselhando o investimento em energias renováveis e eficiência energética.

Uma questão de mero bom senso, dirá a maioria de nós - não só em termos ecológicos, como de segurança tecnológica.
Ao que acrescento um outro argumento:

Se até em indústrias como a refinação petrolífera pude observar, no nosso país, uma submissão do cumprimento das regras de segurança aos objectivos económicos e produtivos, como é que poderíamos sequer equacionar a possibilidade, bem real, de que tal acontecesse numa central nuclear?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Bipartidarismo à força

Por Moçambique, sabe-se agora que as razões alegadas pela Comissão Nacional de Eleições para excluir listas eleitorais do novo partido MDM também se verificam em listas da Frelimo e da Renamo, que foram dadas como válidas.

Mas, como mesmo em bipartidarismos forçados há uns mais iguais que os outros, a CNE só entregou ainda à Frelimo o subsídio de campanha que já todos os concorrentes deviam ter recebido... (vejam aqui)

Entrementes, um candidato a deputado por Tete declarou num comício que a exclusão de outros partidos se deveu a eles não reunirem condições para concorrer, pois «nós não vamos meter ladrões para dirigirem o país, mesmo que os doadores exijam que isso aconteça».

Trata-se de um ex-Ministro da Segurança que, há uns 15 dias, tinha dito ao jornal Savana que as pessoas fuziladas nos seus tempos de glória "estavam a pedir para morrer" e que os Campos de Reeducação não tiveram nada de especial, pois "também existem nos Estados Unidos".

Levanta-se assim uma curiosidade: será que o digno candidato irá manter, nos próximos tempos, a actual retórica à Robert Mugabe, ou será que irá alegar que também os Estados Unidos são bipartidários e ninguém os chateia por causa disso?

domingo, 13 de setembro de 2009

FRENAMO molha a sopa

Começada oficialmente a campanha eleitoral em Moçambique, a Frelimo passou da ameaça à violência sobre o MDM, na sua "reserva de caça" de Gaza.

Os ocupantes de 2 automóveis, em cuja liderança foram reconhecidos o filho e o genro do Presidente do Conselho Municipal lá do sítio, destruíram a sede do MDM no Chókwè, ferindo 3 dos seus activistas.

Jornalistas de O País estiveram no local e confirmaram os acontecimentos, mas a estatal Rádio Moçambique diz que se trata de "um boato".

Isto começa bem!...
E o Zimbabwe ali tão perto.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Humor "Sacana"

Relativamente ao tema final do post anterior, o "Sacana" (suplemento humorístico do jornal Savana) produziu esta interessante proposta, que visualizei através do Carlos Serra.

Note-se, no entanto, que a expressão "FRENAMO" devia pagar direitos de autor.
Já aparece no rap que Azagaia compôs para a candidatura de Daviz Simango ao município da Beira (vejam o videoclip aqui).

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O papão da novidade

Há um espectro que assola Moçambique.
O espectro de Daviz Simango e do seu novo partido MDM.

A uma só voz, tanto os ricos que governam o país e se tornaram ricos por o governarem ("com todo o direito", já que trouxeram a independência, conforme disse o "general do primeiro tiro"), quanto a oposição do costume (que não encontra espaço à direita dos governantes e cada vez mais recorda passados sanguinolentos que toda a gente quer mandar bem para trás das costas), se arrepiam, insultam, agridem e aldrabam.

Depois do choque de ver um "puto" da minha provecta idade ganhar o segundo maior Município do país como independente (aqui e aqui), após ser corrido pelo seu partido por demasiada honestidade e competência, continuou o abalo do status quo e da tranquilizadora ideia de que o eleitorado tem donos e estes têm bastiões intocáveis.

Até pode ser (e muito provavelmente será) que a transposição do fenómeno da Beira para o país se dê a uma escala muito mais modesta.
Mas, quando se está em posições instaladas que se imaginam para 1.000 anos, ver Daviz Simango entrar como em casa de família no centro rural do país e, ao mesmo tempo, suscitar o entusiasmo dos jovens urbanos (sejam eles altamente qualificados ou andem eles a desenrascar a vida no "caniço" maputense), a coisa assusta.
Mais ainda, quando até os velhos que continuarão a votar nos partidos em que sempre votaram demonstram ter por ele uma evidente simpatia.

Então, já não dá para imaginar que se é confrontado com um qualquer epifenómeno paradoxal.
Claramente, a imagem do homem e aquilo que o homem diz correspondem a uma necessidade que o "povão" e as "classes médias emergentes" sentem e querem ouvir.

E que coisa é essa?
Pelo que ouvi e li em Moçambique, a "receita" é simples - e, na aparência, nada ideológica.

Trata-se de exigir e prometer honestidade, competência, uma atitude serena e pacificadora que contrasta com o belicismo verbal dos partidos instalados, a par de algo que está entranhado nas visões mais tradicionalmente africanas de poder, economia e família: que todos (e não apenas muito poucos) beneficiem do desenvolvimento e do caudal financeiro que, todos os anos, desagua no país.

(Na Europa, falar-se-ia talvez de "justiça social".
No norte de Moçambique, exigir-se-ia que quem manda não coma sozinho.
No centro, que não se seja tratado como cão, a quem dão ossos dizendo que não gosta de carne.
No sul, que o pai não abandone os filhos.)


E trata-se também, claro e de forma imprescindível, de possuir a credibilidade, enquanto pessoa e enquanto político, para poder dizer essas coisas.

Mas, posta a esperança a rodar, mais os sustos se assustaram, em ambos os lados do establishment:

A Renamo disparou sobre ele em Nacala e vai-lhe agredindo activistas aqui e ali.

A Frelimo rodeou a sua comitiva, no Xai-Xai, com dois camiões cheios de bandeiras e de militantes a cantarem insultos e a ameaçarem a população para não se aproximar.

Os organismos estatais que gerem as eleições já haviam alcançado o prodígio de actualizar os cadernos eleitorais com material informático (fornecido por uma qualificada empresa de transportes pertencente a uma família ligada ao poder) que sistematicamente se avariava no centro do país e para cuja reparação só estavam disponíveis técnicos até ao Save.

Agora decidiram, inusitadamente tarde e sem explicações ou esclarecimentos, excluir as listas de candidatos do MDM em 9 dos 13 círculos eleitorais.
Curiosamente, as supostas falhas viriam da força política que, na apresentação de assinaturas para formalização das candidaturas a Presidente da República, entregou o menor número de processos considerados irregulares.

A resposta, conforme seria de esperar, não foi um esbracejar ameaçador.
Daviz Simango e o MDM interposeram recurso ao Concelho Constitucional (que, assim como assim, é formado por juízes) e farão a campanha eleitoral como planeado, enquanto aguardam por uma decisão favorável.

Mas, pela rua e pelos media, a indignação alastra.

Que vai sair daqui?
Não faço ideia.

Há quem diga que, após o peculiar recenseamento e com acções intimidatórias de ambos os lados ao MDM, talvez a Frelimo chegue aos 2/3 necessários para alterar a Constituição e eternizar o actual presidente no poder, através do desaparecimento do limite de mandatos.

Nos "caniços" de Maputo, muita gente prevê, projectando para as urnas as mudanças que observa no seu bairro, que Guebuza será facilmente reconduzido, mas a Frelimo perderá a maioria absoluta devido à votação do MDM, acabando o total "posso, quero e mando".

A uma cada vez mais vociferante e inconsequente Renamo, ninguém augura outra coisa senão uma forte quebra eleitoral.

Esperemos para ver.
E, esperemos, que sem mais violência e com tão poucas golpadas quanto possível.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Lapso freudiano, depois de Dupond & Dupont

Ainda em Maputo, sentei-me há dias para ver o debate entre Louçã e Jerónimo de Sousa.
Com diferenças de ênfase, imagem, retórica e pormenor, lá estavam um frente ao outro, tentando afirmar aqui e ali, quanto ao essencial, «eu diria mesmo mais».
A tal ponto que a cara séria que cada um fazia ao ouvir o outro surgia forçada e se parecia descortinar por detrás dela o pensamento «Este sacana já disse isto... O que é que eu vou dizer a seguir.»

Acabei por mudar de canal.
Não porque me impressionasse, em si mesma, esta performance Dupond & Dupont.
Antes por saber que, sendo evidente que uma alternativa de esquerda só pode ser pensada e feita a partir do debate, diálogo e eventual convergência entre as força que eles representam (na sua diversidade de perspectivas, potencial e experiência), a maior preocupação na sua relação mútua é contabilizar as pequenas ou grandes vantagens que cada um alcança, neste ou naquele campo social ou eleitoral, sobre o outro.
Afinal, um sprint de pequeninos, que inviabiliza objectivos bem mais ambiciosos numa estafeta de grandes. E, sobretudo, alternativas societais.

Ontem, mudei ainda mais rápido de canal, no debate entre Sócrates e Louçã.
Talvez tenha perdido, com isso, coisas que valessem a pena.
Mas uma das primeiras coisas que ouvi foi o nosso primeiro a dizer que se candidatava «a governar com os pés bem assentes no palco. Perdão... no chão.»

É demais, para quem acaba de chegar de Moçambique e, a certa altura, não percebe bem se realmente mudou de país.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Uma prenda que me deram

De volta ao tal de jardim à beira mar

... embora ainda em pleno processo de esquizofrenia cultural.

Espero afixar ainda hoje uma foto alusiva a esse confuso estado.