terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Quer longevidade? Mude-se para o Zimbabwe
O meu mais incondiconal amigo acusou-me amigavelmente, em 2008, de andar obcecado com a violência letal em torno das pseudo-eleições do Zimbabwe.
Dei-lhe como desculpa, para além do meu visceral internacionalismo solidário, o facto de estar então a viver a um milhar de kilómetros desse sítio (o que em África é, tal como no meu Alentejo mas em maior, "ali ao lado") e de aquela obscenidade ser sustentada por Mbeki e pelo governo do país onde estava - o que, depois da cégada do Kenia, trazia coisas muito preocupantes para toda a gente, naquela região.
Mas hoje, por "culpa" do Carlos Serra, lá volto ao tema, embora pela positiva.
Sente-se a envelhecer?
Doem-lhe as cruzes?
A líbido ou a capacidade de a concretizar já não são o que eram?
«No Problemo!» Apanhe um avião para o Zimbabwe.
Lá, mais de um quarto dos votantes estão mortos, o que lhe dará uma longevidade cívica invejável - embora pareça que, para se manter recenseado, seja mais fácil ter morrido a 1 de Janeiro de 1901.
Mais estimulante é o facto de 144.202 votantes terem de 100 a 110 anos, o que demonstra que o clima é bacano e passível de esticar bastante a longevidade física, para lá do dobro dessa mariquice da esperança média de vida.
Diz o Coelho que não é Coelhóne que na Madeira também é assim fixe.
Mas. como não consegui confirmar, não me comprometo e o mais seguro é mesmo poupar mais uns trocos para ir ao Zimbabwe.
Tanto mais que, segundo o Jardim, citado no telejornal a partir de um seu artigo naquele jornal que ele paga, também o Hitler era populista, sem qualificações, e teve bons resultados eleitorais.
Evidentemente, um brilhante e acutilante comentário em alguém que fez um curso em não sei quantos anos e à rasca, ganhando há quase 30 anos eleições com um discurso e prática sérios, democráticos e nada populistas.
O que, verdade seja dita, sempre é melhor que uma licenciatura encomendada ao domingo...
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Alternativas a sul
Já está disponível o número temático da revista Alternatives Sud dedicado ao "Estado das Resistências em África".
No índice (consultável aqui), consegui descortinar artigos acerca dos dois Congos, Camarões, Gabão, Etiópia, Quénia, Tanzânia, Benin, Burkina Fasso, Costa do Marfim, Guiné, Guiné-Bissau, Mali, Niger, Nigéria, Senegal, Togo, África do Sul, Angola, Botswana, Moçambique, Madagáscar e Zimbabwe.
Um largo cardápio, para o qual me honro de ter contribuído, e que me deixa a salivar, enquanto os Correios não me fazem chegar o exemplarzinho da ordem...
sexta-feira, 6 de março de 2009
Zimbabwe Blues
sábado, 6 de dezembro de 2008
Desgraça continua no Zimbabwe
Agora, foi raptada e presa (ou "desaparecida") a activista de direitos humanos Jestina Mukoko, no mesmo dia em que foram detidos mais de 70 sindicalistas, um pouco por todo o território.
A julgar por precedentes recentes, não é de excluir que o seu cadáver venha a aparecer dentro de dias. Entretanto, os juízes do Supremo Tribunal recusaram-se a tocar no assunto, por ser "demasiado quente".
Na África do Sul, o bispo (e prémio Nobel da paz) Desmond Tutu apelou à remoção à força de Mugabe e ao seu julgamento pelo Tribunal de Haia.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Deus moveu-se e falou
Finalmente, a África do Sul abandonou a "diplomacia silenciosa" para com o Zimbabwe, que mesmo assim sobreviveu alguns meses ao seu estratega Mbeki.
O governo sul-africano anunciou que suspende os programas de ajuda ao Zimbabwe até que um governo representativo esteja em funções.
De momento, estão apenas em causa 28 milhões de dólares de um programa de assistência agrícola, peanuts em comparação com as contas bancárias de qualquer membro da oligarquia zimbabuéana.
Mas, por vezes, quaisquer 28 milhões de dólares têm todo o peso do mundo.
Basta corresponderem à primeira sanção de um país da região e esse país ser a divindade local.
Os resultados não se fizeram esperar: amanhã, Mugabe e Tsvangirai vão reunir-se na África do Sul (!), para tentarem ultrapassar o impasse.
Parece que quem pode manda. Quando quer.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Ainda os albinos
Parte da rica informação que a jornalista Margarida Mota me transmitiu por telefone não coube nos limites de caracteres de que os jornais sempre sofrem, mas surge um dado que para mim é totalmente novo:
A ocorrência, na África do Sul e Zimbabwe, de violações de albinos por parte de seropositivos, que esperam com isso ficar livres do SIDA - tal como vem acontecendo há anos relativamente a raparigas virgens.
Interpretar porque é que alguém se foi lembrar de mais esse horror é relativamente simples. Terá quase certamente a ver com o poder, atribuído aos albinos, de secarem as coisas à sua volta - neste caso, secar a doença, ou o virus seu causador.
Mas, antes que a coisa alastre pela região, convém compreender um pouco melhor o que é que se passa.
Alguém tem informações acerca deste novo fenómeno?
Pela minha parte, vou alertar os meus "colegas" da AMETRAMO, para estarem atentos e poderem combater esta crença, mal ela se revele em Moçambique.
Porque, ao contrário dos estereotipos habituais, os curandeiros estão muito longe de ser uns tradicionalistas acríticos imersos em superstições.
E, em assuntos como este, a palavra deles vale muito mais, junto da população, do que a de qualquer médico.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Diplomacia silenciosa volta a atacar
Desrespeitou-o, querendo "dar" ao MDC, após negociações infindáveis, apenas 3 ministérios irrelevantes.
Como obviamente não aceitaram, decidiu formar governo sozinho.
Espero com impaciência as leituras positivas da situação que desta vez irão fazer, em Moçambique, os apologistas da "diplomacia silenciosa" mbekiana.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Mbeki e Mugabe
- Já não era sem tempo. Algumas pessoas não conseguem perceber quando a festa acabou.
- Mais alguma coisa, Presidente Mugabe?
- Se precisar, eu digo.
sábado, 20 de setembro de 2008
Ontem já era tarde
Acontece que Zuma era oponente de Mbeki no último congresso do ANC, de que saiu vitorioso apesar do relançamento deste processo e de um anterior julgamento por violação. Nesse outro, foi inocentado de forma mais polémica e com a parte gaga de o ministro com a tutela da luta contra o SIDA (ele) ter declarado que, como a senhora em causa era seropositiva, tinha tomado depois um duche quente para se proteger do contágio.
Jacob Zuma é uma figura muito pouco simpática, em termos abstractos e absolutos.
Se a situação que levou ao caso de violação pode ter sido orquestrada, ele caiu nela. E, já que caiu por achar que ter uma correlegionária no quarto de hotel vestida só com uma capulana quer dizer que "ela está mesmo a pedí-las", isto diz-nos muito sobre a misogenia da personagem.
Ao mesmo tempo, se tem do seu lado as forças mais significativas e sérias do ANC, também apelou aos sentimentos mais violentos e tem como tropa de choque uma Youth League que parece por vezes liderada por hooligans.
Entre essas forças significativas e sérias, contudo, está a influente central sindical COSATU, que joga nele como alternativa de esquerda à política desnecessariamente neo-liberal (muito mais, nalguns aspectos, que no tempo do apartheid e sem que a potência económica do país a justifique devido a pressões externas) e não redestribuidora da riqueza nacional. Se Zuma, de facto, quererá e poderá sê-lo, isso já é outra questão.
Curioso é que, se quase todos os sul-africanos com antepassados europeus o detestam, a maioria deles ficou satisfeita que ele tivesse cortado o passo a Mbeki, que se preparava para eternizar-se no poder, mudando as restrições constitucionais ao número de mandatos do Presidente da República.
Thabo Mbeki, com o seu cachimbo e fixação no golfe, é assim a modos que um rapazinho mais ao gosto de uma certa Europa e América.
Muito mais ao gosto, no entanto, é a política neo-liberal deste ex-jovem-marxista-puro-e-duro e, sobretudo, essa coisa simpática (para quem tem os cifrões) de black empowerment significar, para ele, o acesso de uns milhares de pessoas com pele mais escura aos postos de chefia e às classes altas e médias-altas, ficando dezenas de milhões de desgraçados na mesma ou pior do que estavam.
O que tem, claro, que ser contrabalançado por uma imagem de africanista-puro-e-duro que, a par das solidariedades "de libertadores" e de histórias desconhecidas ou mal contadas, faz com que desde o início do primeiro mandato traga Mugabe e os seus militares rapaces ao colo, independentemente dos crimes que cometam contra os opositores e contra o seu povo em geral.
Uma posição que (talvez por menor necessidade de se afirmarem africanos, e/ou por maior apego aos funcionamentos democráticos e à perspectiva de mudanças sociais justas) não foi a da COSATU, de Zuma, da esquerda do ANC ou da maioria de população sul-africana.
O saldo foi e continua a ser terrível para os vizinhos zimbabuéanos, mas também em casa, para lá dessa coisa de os "negros" pobres continuarem tão ou mais pobres, há umas coisitas um bocado desagradáveis.
Num país onde infectados continuam a fazer sexo com virgens para se livrarem do SIDA, Mbeki não apresentou o duche quente como substituto do preservativo; expressou publicamente as suas dúvidas de que o SIDA fosse, de facto, provovado pelo vírus HIV.
E, com o país cheio de 3 milhões de refugiados zimbabuéanos (em grande medida, por causa da sua política internacional) e perante as terríveis hordas de linchamentos xenófobos em movimento este ano, praticamente esperou pelo refluxo da onda para tomar medidas de restauração da segurança pública.
Pois é... Um cantava «tragam-me a minha metralhadora» e o outro olhava para o lado, para que os amigos do outro lado da fronteira a usassem contra as suas próprias populações.
O homem vai ser corrido?
Para o Zimbabwé, ontem já era tarde.
Para os zimbabuéanos, moçambicanos e outros estrangeiros "negros" chacinados há meses atrás na África do Sul, há muito tempo que já era tarde.
Para os sul-africanos, se calhar, também.
21/9: Está oficializada a demissão.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Acordo no Zimbabwe - II
Que importa? Como dizia um visitante lá do blog dele, é «Genial!»
O autor chama-se Dave Brown.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Acordo no Zimbabwe
Foi finalmente assinado, ontem, um acordo de "partilha do poder" no Zimbabwe.
O que é que isso vai querer dizer, ainda pouco se sabe.
Apenas que quem perdeu fica Presidente e fala grosso e que quem ganhou fica Primeiro-Ministro, coisa que não existia, e tem discurso de estadista.
Bem... pelo menos é de esperar que deixem de ser mortos e presos os deputados e dirigentes do partido maioritário, a que os jornais continuam a chamar "oposição".
Pelo meio, Mbeki lá se pode convencer de que fez alguma coisa útil e que não foi uma parte importante do problema, em vez de parte da solução. A linguagem corporal da foto diz-nos, aliás, muito acerca disso.
Pelo meio, também, ficou mais institucionalizada a nova e emergente "via africana para a alternância democrática":
Fazem-se eleições, o governo tenta TUDO para ganhar e, quando perde, cria o caos e a violência generalizada, até que alguma boa alma há muito amiga venha intermediar um governo de unidade que mantenha as oligarquias no poder.
Agora, talvez só Moçambique venha a escapar desta sina, já que até os negócios privados de quem manda (e não apenas as despesas correntes do Estado e o funcionamento da economia) dependem da boa vontade dos "doadores" internacionais.
Mas também, com a oposição a desacreditar-se cada vez mais, à custa de tiros no pé como o das autárquicas na Beira, a questão não se irá colocar durante uns bons anos.
Entretanto, o texto do acordo ficou disponível aqui (cortesia de Carlos Serra).
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
O regresso dos Pretorianos
Rezam as crónicas que este já tinha, há poucos dias, traído o presidente, orquestrando a demissão conjunta de 48 deputados eleitos nas suas listas.
O chefe não gostou e demitiu-o.
Ele não gostou e "demitiu" o chefe...
Depois de os pretorianos tomarem conta do Zimbabwe, a moda (re)pegou do outro lado do continente.
Mas com uma tomada de posição muito mais rápida e decente por parte da União Africana: a imediata condenação.
Entretanto, os portugueses que por lá estejam são aconselhados a dirigir-se à Embaixada de França.
A julgar pela minha experiência recente, é melhor é.
Essa, ao menos, deve estar aberta.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Directiva do retorno
Julgo que pelo nojo e cansaço que este novo episódio da telenovela me suscita - da mesma forma que, ontem, me cruzei com o sul-africano Sunday Times e não o comprei, apesar (ou por causa?) dos títulos «Mbeki volta a levantar o polegar para Mugabe» e «Mugabe avisa os outros líderes africanos para que não lhe apontem o dedo».
Alinhavo-o agora, devido ao e-mail que recebi de uma amiga, com este mordaz cartoon a reboque.
Esta Directiva do Retorno traz novas obscenidades.
A maior de todas, creio, a incrível possibilidade de se deter alguém até 18 meses pela ousadia de ter tentado viver na "nossa" terra.
Mas, desculpem-me, é apenas mais um passo na obscena visão que de si tem a Europa "direitinhas", mesmo que com governos que exibem simbologias "de esquerda".
Porque, desculpem-me de novo, obscena é já, para mim, a própria ideia de negar a alguém a circulação pelo mundo. Os vistos. As fronteiras barradas. Os pequenos ditadorzinhos do carimbo. Em qualquer fronteira e em qualquer país.
Aceito que um estado negue entrada a criminosos e apenas a esses. Mesmo aí, contudo, tenho orgulho em que a Constituição lá da "minha" terra proíba o repatriamento de acusados por crimes que, lá na terra "deles", permitam pena de morte ou prisão perpétua.
É por essas águas que navego.
E, por isso, também não reconheço no bisavô de ninguém um cartão de entrada - tal como, noutros sítios, uma razão para negar entradas.
O cartão de entrada, inalienável, é a meus olhos a simples condição de ser humano.
Mas lá que o cartoon está bem esgalhado, lá isso está.
Mesmo que se seja um africano, como tantos e tantos existem, descendente de esclavagistas e não de escravos.
domingo, 29 de junho de 2008
O "árbitro" arma Mugabe
Todas essas vendas e doações tiveram que ser aprovadas pelo NCACC (Comité Nacional de Controle de Armas Convencionais), presidido pelo ministro que substitui Mbeki nas missões de intermediação sobre o Zimbabwe a que ele não pode ir. No entanto, não aparecem nos relatórios desse organismo estatal, mas apenas nos registos oficiais de transacções comerciais, no meio de quaisquer outros produtos.
Durante o recente episódio do navio chinês carregado de armas para o regime de Mugabe (que um tribunal proibiu de descarregar em solo sul-africano, contra a opinião de Mbeki e do governo), uma das empresas mais activas nessas vendas tinha sido contratada para transportar a carga letal para Harare.
O presidente da África do Sul, Mbeki, é desde 2001 o intermediário da SADC para o Zimbabwe, por já vir dessa altura a escalada de eleições manipuladas e de violência estatal sobre a população.
É o "árbitro" entre Mugabe e a oposição.
Segundo a legislação internacional, Estados que dão assistência militar a outros que usam material estatal contra parte da sua própria sociedade são culpados de cumplicidade.
O ridículo não mata. Infelizmente.
Prepara-se para tomar posse já amanhã. É fácil e rápido contar votos, quando não há uma oposição para ficar à nossa frente.
Mesmo os habitualmente dóceis obervadores internacionais das organizações africanas declararam que as eleições não foram «nem livres, nem justas» e pedem a sua repetição.
Mas o ridículo não mata. Infelizmente.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Democracia manu militari
É hoje. Pois...
Crónicas da vergonha, por aqui.
A esta hora, a coisa já acabou. Houve votação forçada e "de cabresto", e até apelos de Tsvangirai aos eleitores para que "se forem obrigados a votar Mugabe, façam-no", a fim de evitar agressões ou pior.
Quase ninguém reconhece esta fantochada. A União Europeia pronunciou-se nesse sentido, o malfadado G8 também, a ONU fê-lo a priori e até o presidente da União Africana disse estar “convencido” de que a organização conseguirá encontrar uma “solução credível” (logo, esta não é), pedindo tempo para as negociações.
Aguardo com curiosidade, para ver se os países da SADC o farão também, ou se há algum disposto a fazer de fantoche, no sangrento teatrinho do tio Bob.
terça-feira, 24 de junho de 2008
E agora, SADC? Vão mexer-se?
O Conselho de Segurança da ONU condenou por unanimidade a campanha de violência e de intimidação contra a oposição no Zimbabwe, considerando que as violências e restrições “tornaram impossível a realização de eleições livres e igualitárias no dia 27 de Junho".
Entretanto, o Secretário-geral da ONU apelou ao adiamento da segunda volta das presidenciais, para futura realização sob condições justas.
Perante uma resolução que recolheu uma unanimidade raramente alcançada antes nesse organismo internacional, Mugabe sugere que se trata de uma campanha de Londres e Washington para o invadirem... E afirma que se recusa a adiar as eleições, agora que conseguiu o que queria.
Haverá algum líder da SADC que ainda considere aceitável o comportamento do regime zimbabuéano? Ou mesmo tolerável?
Consideram que, depois disto e de tudo o que se passou antes, podem continuar a olhar para o lado, a assobiar para o ar e a tentar educadamente convencer a junta militar mugabiana a aceitar um regime de transição em que os perdedores presidam aos vencedores, sem os matarem?
É que nem isso (que já seria uma preversão) essa gente esteve disposta a aceitar e, desde o início da campanha para a 1ª volta, têm vindo cada dia a falar mais grosso e a bater mais forte.
Por causa da "diplomacia silenciosa", da compreensão e tolerância dos velhos camaradas, das "costas quentes" asseguradas ao regime assassino de um país falido pelo poder.
Líderes da SADC: ESTÁ NA HORA DE MOSTRAREM QUE BASTA!
Adenda: Os governantes assobiam, mas as pessoas estão fartas. A central sindical sul-africana, COSATU, apelou aos trabalhadores de todo o mundo para ajudarem a isolar Mugabe e o seu governo, considerando que ele e a Zanu «declararam guerra» contra o povo zimbabuéano.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Razões de uma recusa
Como nem toda a gente percebe inglês e os programas de tradução automática são um pouco... bem... criativos, aqui ficam as razões invocadas por Morgan Tsvangirai para se recusar a participar na segunda volta das presidencias no Zimbabwe:
Violência patrocinada pelo Estado
Segundo o MDC, os grupos internacionais de direitos humanos e, progressivamente, os observadores eleitorais da região, esquadrões de rufias da Zanu-PF empreenderam uma campanha de intimidação e violência. Não usaram apenas apoiantes do partido, mas também instituições estatais de segurança como a polícia e o exército.
Impossibilidade de fazer campanha
Um diplomata ocidental descreveu Morgan Tsvangirai como um «prisioneiro de Harare». A cidade está rodeada de bloqueios de estrada oficiais e informais que impedem eficazmente o lider do MDC de contactar os seus apoiantes. A polícia deteve-o pelo menos 5 vezes, comícios do MDC foram proibidos e, num golpe final, membros armados da brigada juvenil da Zanu-PF ocuparam o estádio de Harare onde o MDC tinha preparado o seu maior comício.
Dizimação dos quadros do MDC
O partido afirma que mais de 80 dos seus membros foram assassinados nos meses recentes. Centenas deles foram obrigados a esconder-se, tornando impossível ao partido organizar-se.
Desconfiança na Comissão Eleitoral do Zimbabwe
Na sua declaração, o partido afirma-se chocado com o grau de partidarização da ZEC, e acusa a comissão de estar dominada por milicias da Zanu-PF.
Falta de acesso aos media
Os media independentes foram atacados os impedidos de fazer reportagens no Zimbabwe. Os media estatais ou ignoram o MDC, ou retratam os seus membros como violentos paus-mandados do ocidente. Recusam publicar anúncios de campanha do MDC.
Ameaças de Mugabe
Nos discursos recentes, o presidente Mugabe disse repetidamente que se recusa a desistir dos ganhos da guerra de libertação por causa de um 'x' num boletim de voto. Também disse que "só Deus me pode destituir".
Planeada adulteração de resultados eleitorais
O MDC listou aquilo que descreve como um plano elaborado e decisivo da Zanu-PF para adulterar os resultados eleitorais.
Tudo razões bem fortes e justificadas.
Mas continuam a colocar-se-me as dúvidas e perguntas que aqui expressei.
E vocês? O que pensam?
Adendas: entretanto, Tsvangirai está refugiado na embaixada da Holanda, após a polícia ter assaltado a sede do MDC esta manhã e prendido vários dirigentes.
Antes, o governo tinha pedido ao MDC que voltasse atrás na decisão de não participar na 2ª volta. Seria para os poderem prender e matar mais à vontade?
PS: reparei que tenho muitos posts sobre as eleições zimbabuéanas. Etiquetei-os aí ao lado, no "Armazém", para quem quiser acompanhar todo o conjunto e os links para fontes de informação.
domingo, 22 de junho de 2008
O crime compensa
Diz que não pode pedir aos eleitores que arrisquem a sua vida ao votarem nele.
O risco tornou-se, de facto, bastante maior desde a primeira volta.
Mais de 60 dirigentes e activistas do MDC mortos por esquadrões da morte, milhares de pressupostos votantes agredidos e expulsos das suas zonas de residência, ajuda alimentar (tornada essencial à sobrevivência, num país que era "o celeiro da África austral", devido ao caos criado pelo regime na última década) só entregue a quem apresentar cartão da ZANU-FP de Mugabe, o secretário-geral do partido que venceu nas urnas acusado de alta traição (que dá pena de morte) por ter revelado os resultados eleitorais que o regime queria esconder... Um vasto rol de violência e ilegalidade, que podem ver aqui.
O risco de morte é terrivel e bem real, mas... não é um pouco tarde para pensar nisso?
Que vão dizer às famílias dos assassinados, aos torturados e agredidos, às violadas, aos expulsos que viram as suas casas arder, por terem tido a coragem de votar contra Mugabe?
Que afinal fica tudo como era dantes? Que tudo foi em vão?
Se o deixarem, Mugabe - automático vencedor, sem oponente - vai dissolver o parlamento eleito, onde ficou em minoria, e convocar novas eleições. Será que o MDC não vai participar, para não pedir às pessoas que corram risco de vida por votarem em si?
É certo que a primeira dama garantiu que, mesmo ganhando, Tsvangirai nunca iria ver o interior do palácio presidencial. É certo que Mugabe garantiu que «as balas são mais fortes que as canetas» (de votar) e que, caso perdesse nas urnas, as utilizaria.
Será que o MDC recebeu garantias? Como o governo de unidade nacional liderado pelos perdedores, proposto pelo velho Kaunda e, há poucos dias, pelo presidente da África do Sul que tantas responsabilidades tem no assunto?
Mas o que valem as garantias de dirigentes regionais que olharam para o lado e assobiaram enquanto Mugabe meteu o seu país e o seu povo a ferro e fogo, e que receberam Tsvangirai, já vencedor eleitoral, fazendo-o passar por um detector de metais?
Esperemos para ver. Pela minha parte, não tenho (neste assunto) muita fé nem nas lideranças regionais, nem na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas que dizem irá haver.
PS: e que se lixe a bola
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Você disse «eleições livres»?
Jacob Zuma, presidente do ANC (África do Sul) disse que não acredita que a segunda volta das eleições no Zimbabwe seja livre.
É um enorme contraste em relação à "diplomacia silenciosa" de Mbeki e vários líderes regionais, que tem deixado as mãos livres a Mugabe, mas começa a ser uma declaração tímida, face ao que se está a passar.
Quando foi anunciada a realização de uma segunda volta nas eleições presidenciais zimbabuéanas, este cartoon era, de facto, adequado: