quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O importante não é relevante...


(imagem retirada daqui)

Houve hoje uma grande e atípica manifestação em Maputo.


Eram moçambicanos ameaçados pela possibilidade de regresso dos horrores da guerra civil, basicamente devido a questões de «equidade na distribuição da riqueza» (leia-se, entre as elites políticas da Frelimo e da Renamo), conforme sobriamente colocou, em recente entrevista ao Público, um reitor de universidade privada que há anos ouvi televisiva e sobriamente declarar que não se podem julgar os corruptos, porque as prisões não têm as condições básicas para pessoas daquela categoria.

Eram moçambicanos fartos de uma crescente onda de raptos, perante a inação ou cumplicidade das chefias policiais, que fizeram questão de salientar que, embora a coisa tenha começado por atingir cidadãos de origem asiática, é um problema de todos, pois todos são cidadãos moçambicanos.

Eram moçambicanos que não aceitam que a corrupção e a ganância ponham em causa os mais elementares deveres do Estado para com os cidadãos.

Desta vez, manifestaram-se a apelo de organizações da "sociedade civil", que na esmagadora maioria dos casos até têm uma presença muito significativa do partido no poder. Ao contrário de 2008, de 2010 e de um início de manhã de 2012, fizeram-o pacificamente. E, a julgar pelas imagens, o seu estrato social era um pouco diferente de nesses anos - alargando o leque de quem protesta, embora exigindo em última instância fundamentalmente o mesmo.

Vendo a s televisões portuguesas, fica claro que tudo isto é irrelevante.
Só a TVI noticiou o acontecimento.
Embora em todas elas ainda houvesse, claro está, tempo de antena para o desconforto de alguns angolanos ricos e poderosos, em relação à desfaçatez de haver sistemas judiciais que investiguem as suas avultadas transferências financeiras, a partir de off-shores especializados em lavagem de dinheiro.
Haja Deus! Ainda há sentido das prioridades!...

domingo, 27 de outubro de 2013

Bye, Lou



Que haja um wild side, algures, onde te possas passear

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Guerra ameaça Moçambique


Esta tarde, a residência em Santungira do Presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, foi atacada e tomada por artilharia e comandos.
A notícia, inicialmente confirmada nas televisões privadas locais (por porta-vozes do RENAMO à STV e do Ministério da Defesa à TIM), chegou bem mais tarde aos meios de comunicação estatais.
Não espanta que o comunicado tornado público pela RENAMO afirme que este assalto representa "o fim dos Acordos de Roma", que em 1992 encerraram a guerra civil que assolou o país durante 16 anos.
Mas é surpreende este ataque militar ao líder do maior partido da oposição, em concomitância quer com conversações partidárias para tentar ultrapassar uma situação de tensão que dura há já quase um ano, quer com uma Presidência Aberta na mesma província de Sofala para onde Dhlakama se havia "auto-exilado".
Muitos, entre os quais me incluo, interpretaram este longo impasse e braço-de-ferro entre a RENAMO e o governo da FRELIMO (feito de ameaças, conversações e coisas bem mais feias) como tendo por origem e objectivo a tentativa de negociar os esperados dividendos da futura exploração das reservas de gás natural pelas empresas internacionais.
Mas, ao fim de um ano em que Dhlakama ameaçou muitas vezes com o regresso às armas, e em que (pelo menos) tolerou ataques realizados (supõe-se) por ex-guerrilheiros seus a postos policiais e a quem passava nas estradas, parece que quem acabou por se decidir pela senda bélica (ou por uma "solução à Savimbi") foram os seus opositores governamentais, agora democraticamente eleitos. E que, ao fazê-lo, optaram pelo que de mais perigoso e ameaçador havia para o futuro da população.
Não me parece particularmente relevante, num momento como este, debater a legitimidade formal de um governo decidir assaltar uma povoação transformada em base militar, onde o líder de um partido com larga representação parlamentar sentiu a necessidade (ou a vantagem política) de se refugiar, acompanhando a sua estada de ameaças belicistas e de acções armadas (que ou ordenou, ou não conseguiu evitar) contra populares e contra representações do estado.
Importa-me, antes, o seu nível de sensatez e os seus potenciais resultados - pois este não é um outro país qualquer, com uma qualquer história diferente da sua.
Há a franca possibilidade de que as propaladas intenções belicistas de Dhlakama sejam um balão cheio apenas de ar, sem apoios populares ou internacionais para se concretizarem numa guerra, pelo menos de dimensão apreciável e duradoura. Mas o risco existe. Não apenas disso, mas mais ainda de generalização do medo e de inviabilização das condições básicas de vida para a esmagadora maioria dos moçambicanos. Porquê corrê-lo após meses de tolerância e de liturgia negocial?
Tão pouco a hipótese de que este ataque pudesse visar reforçar a segurança do périplo presidencial de Armando Guebuza apresenta qualquer consistência. Para isso, em situações como a até ontem existente, isolam-se os que podem fazer perigar essa segurança, cercando a sua área de concentração. Em contrapartida, conforme seria de esperar, Dhlakama e a sua guarda de corpo já não estavam no local quando o ataque ocorreu. Estão em parte incerta, aumentando a insegurança da comitiva presidencial, e com mais fortes razões para isso.
Olhando de longe para um país de que muito gosto e onde tenho muitos amigos, espero com toda a franqueza que a razão de tão estranha acção não seja bem mais importante, para poucas dúzias, e bem mais rasteira, para muitos milhões. Desejo muito francamente que esta decisão, com todos os enormes perigos que ela acarreta para os moçambicanos, não tenha sido apenas uma forma de, perante a falta de justifições para alargar o limite de mandatos do Presidente da República e a impossibilidade de este assegurar a continuidade da sua preponderância política e económica fora das suas actuais funções (logo agora, que os dinheiros do gás vêm aí), justificar uma alteração constitucional com base no risco de guerra iminente.
Porque, fossem quais fossem as motivações imediatas desta acção militar, toda a situação criada é extremamente preocupante e tem consequências altamente imprevisíveis.
Mas, e isso será uma triste certeza, muito negativas para os moçambicanos "normais", que não fazem parte das elites políticas e económicas.

sábado, 5 de outubro de 2013

Temos o caldo entornado


Quando um Presidente da Comissão Europeia se dirige a um país membro da União e ameaça de forma clara o seu Trubunal Constitucional, responsabilizando-o por todas as desgraças futuras caso cumpra as suas funções, temos o caldo entornado.
Esse Presidente da Comissão Europeia perde as mais básicas condições para permanecer no seu cargo.
A única coisa possível e minimamente decente, face aos tratados que instituem a União Europeia e às definições da sua função é exigir «Demissão!».  E concretizá-la.
Espero que os deputados europeus eleitos nesse país membro (Portugal) não deixem de a exigir no imediato.