domingo, 30 de novembro de 2008

Dia mundial contra a pena de morte

Franquin, Ideias Negras
(clique para aumentar)

sábado, 29 de novembro de 2008

Rapidinhas do dia (2)

Oliveira e Costa, cuja lista de falcatruas continua a engrossar e a envolver outras figuras do cavaquismo, está detido naquilo a que os próprios polícias chamam "prisão VIP".
Junto a minha pergunta à do Samuel: quanto é que é preciso roubar para se ter direito a tratamento VIP?

Entretanto, parece (Sol) que o Estado quer anular a separação de pessoas e bens em que o pobre homem passou para nome da esposa os seus bens valiosos, logo que se pisgou da direcção do BPN.
Separação fraudulenta para subtrair essas propriedades ao âmbito da justiça? Não! Então não se vê que o homem é tão sério?

Parece também (idem, suplemento económico) que a Caixa vai extinguir a marca BPN, de cujas dívidas é agora dona.
Raios! Logo agora, que eu queria abrir conta com um logotipo tão badalado!

Mudando de assunto, iniciou-se em Lisboa o 18º congresso do PCP. Nas teses para aprovação destaca-se, para além da auto-congratulação, a conclusão de que o Sistema Socialista Mundial desabou devido à traição dos dirigentes.
É o que se pode chamar uma análise de fino recorte marxista...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ai, Timor !...

Foi para mim um choque a leitura deste artigo de Pedro Rosa Mendes, ontem no Público.

Infelizmente, tudo nele parece ser pertinente, basear-se num profundo conhecimento da realidade e soar a déjà vu.

Será que Timor é um estado inviável?
Será que os seus dirigentes e a ONU tudo fazem (mesmo que não deliberadamente) para que assim seja?
Será que temos que reequacionar a gestão internacional das fases pós-conflito, naqueles países que não regressam descaradamente a ele?
Ou o assistencialismo desresponsabilizante?

Leiam e digam de vossa justiça.

Entretanto, Xanana Gusmão mantém-se no registo da retórica bombástica, tipo «é a hora da verdade (...) é a hora de decisões estratégicas para tirar o povo da pobreza».

Não houve 9 anos para pensar nisso, ou até para coisas mais comezinhas como dar manutenção às infraestruturas básicas oferecidas pelos países estrangeiros. O recordar dos anos passados nas montanhas e dos terríveis sacrifícios enfrentados pelo povo para alcançar a independência chegam para justificar tudo o que desde então se passou e passa.

Déjà vu. Doloroso déjà vu.

O desengarrafamento da Beira

Embora eu não seja muito dessas coisas e existam discrepâncias enormes entre os resultados eleitorais divulgados por diferentes fontes, peguei naqueles que valem (os da Comissão Nacional de Eleições) para fazer o pequeno exercício que vos apresento acima, acerca da notável vitória do agora independente Deviz Simango, na sua recandidatura a presidente do município da Beira.

Mesmo partindo do princípio de que todos os que votaram num candidato partidário votaram nesse mesmo partido para a Assembleia Municipal, todos os partidos e grupos que apresentaram candidatos à presidência do Município (o PIMO não o fez) foram engrossar os votantes de Deviz Simango de forma muito significativa.

Nalguns casos, as "perdas" de votos para o re-eleito presidente ultrapassaram os 90% (Renamo e GDB). Mas mesmo a arqui-inimiga Frelimo viu 17% dos seus votantes preferirem Simango ao candidato partidário.

Simango foi, assim, eleito maioritariamente por votantes da Renamo e capitalizou o importante eleitorado do local GDB. Mas, para além disso e da contribuição dos pequenos partidos, quase 1 em cada 8 dos seus eleitores foram votantes da Frelimo.

Convenha-se que, num país em que os eleitores tendem a ser encarados, quando vistos a partir "de cima", como propriedade dos partidos em quem habitualmente votam, é um autêntico terramoto nos conceitos e na realidade.
Ou, como talvez prefiram dizer os votantes de Simango, um desengarrafamento.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Rapidinhas do dia (1)

Ouvi numa rádio: A Carris vai perfumar os seus novos autocarros (machimbombos, ónibus) com cheiro a Lisboa.
O porta-voz da empresa esclarece que isso quer dizer manjerico, cravo, baunilha e jacarandá.
Fiquei mais descansado. Numa primeira reacção temi que fossem pôr os autocarros a cheirar a sardinha assada e fumo de automóvel.

Na capa do 24 Horas, a irmã de Oliveira e Costa diz que há mais gente envolvida nas ilegalidades do BPN e que o irmão só assinava os cheques.
Nada como a família para nos enterrar ainda mais...

Enquanto Dias Loureiro garante a Cavaco que não cometeu ilegalidades, o Correio da Manhã revela que, afinal, ele esteve ligado ao BPN até 2007.
Deverá declarar a seguir: "Coitadinho do crocodilo!..."

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Deus moveu-se e falou

Finalmente, a África do Sul abandonou a "diplomacia silenciosa" para com o Zimbabwe, que mesmo assim sobreviveu alguns meses ao seu estratega Mbeki.

O governo sul-africano anunciou que suspende os programas de ajuda ao Zimbabwe até que um governo representativo esteja em funções.

De momento, estão apenas em causa 28 milhões de dólares de um programa de assistência agrícola, peanuts em comparação com as contas bancárias de qualquer membro da oligarquia zimbabuéana.
Mas, por vezes, quaisquer 28 milhões de dólares têm todo o peso do mundo.
Basta corresponderem à primeira sanção de um país da região e esse país ser a divindade local.

Os resultados não se fizeram esperar: amanhã, Mugabe e Tsvangirai vão reunir-se na África do Sul (!), para tentarem ultrapassar o impasse.

Parece que quem pode manda. Quando quer.

domingo, 23 de novembro de 2008

Enterro do cavaquismo


Não é irónico que o serôdio enterro do cavaquismo tenha começado numa altura em que o próprio Cavaco é Presidente da República, o Primeiro-Ministro o procura imitar e um dos seus delfins é Presidente da Comissão Europeia?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um novo país?

Pelos dados que chegam de Moçambique, em particular através do sempre rápido e bem informado blog de Carlos Serra, as eleições autárquicas desta semana tiveram um resultado que constitui um ponto de viragem na vida política (e na forma de a fazer) neste país.
Trata-se da reeleição do agora independente Deviz Simango como Presidente do Conselho Municipal (= Presidente da Câmara) da cidade da Beira.

Explico um pouco, para quem não acompanhou este processo:

Há 4 anos atrás, foram eleitos para as duas principais cidades do país dois homens que são normalmente apontados como os melhores Presidentes que elas alguma vez tiveram. Em Maputo, pela Frelimo, Eneas Comiche; na Beira, pela Renamo, Deviz Simango.

O seu trabalho de intervenção urbana tornou-se muito visível e contrastante com a pasmaceira habitual, de forma ainda mais impressionante na Beira, cidade que estava a apodrecer e autodestruir-se e que passou neste tempo, segundo o testemunho de amigos de todos os quadrantes políticos, de uma das cidades mais sujas de África à mais limpa de moçambique.
Não escapou também ao escrutínio público que, em ambos os casos, os novos presidentes recusaram benesses pedidas por importantes figuras dos partidos respectivos (facto impensável!), por esses pedidos não terem base legal que os pudesse enquadrar.

Ambos os Presidentes foram afastados da reeleição pela direcção dos partidos respectivos.
Comiche, dirigente histórico e membro da Comissão Política da Frelimo (embora não pertencente à ala do actual Presidente da República), acatou a decisão e foi dedicar-se às suas empresas.
Simango decidiu recandidatar-se como independente, enfrentando tanto a Frelimo como a Renamo.

Os dados existentes indicam que Deviz Simango venceu com mais de 60%.
Em Maputo, bastião da Frelimo, o candidato da Renamo obteve 25%, o que é muito superior à implantação do seu partido na capital. Também a lista independente "Juntos Pela Cidade" terá reforçado significativamente a sua votação.

Dessa forma, na Beira a população mobilizou-se em apoio do Presidente do Conselho Municipal que respeita e a quem reconhece competência, empenho e honestidade, ficando a sua votação quase 10 pontos percentuais acima daquela que tinha obtido há 4 anos.
Talvez também em resultado do feio processo de afastamento de Deviz Simango por parte do presidente da Renamo (que levou os "jovens turcos" renamistas a demitirem-se dos seus cargos partidários), este partido parece ter perdido todos os municípios que detinha.
Em Maputo, também expoliada do Presidente que respeitava e sem que este tenha avançado contra os partidos, tudo indica que uma significativa percentagem da população optou por um voto de protesto contra o afastamento de Comiche.

Ou seja, parece que:

1 - a lógica de "posso, quero e mando" das cúpulas partidárias, aliada à naturalização do uso dos cargos públicos para benesses aos próprios e aos seus correlegionários, deixou de ser popularmente suportável, pelo menos quando priva a população de administradores a quem ela reconhece uma rara competência e eficiência.

2 - apesar da inexistência de alternativas credíveis aos dois grandes partidos, estes não são donos do voto popular, mesmo nas suas zonas de maior influência; pelo menos a nível local, podem ser derrotados pela emergência de alternativas mobilizadoras, em termos de eficiência, honestidade e respeito pelo eleitorado.

3 - também em Moçambique, os erros pagam-se, pelo menos se a população reconhecer como disponível uma forma de os fazer pagar.

São aspectos que merecem ser cruzados com um recente artigo de João Pereira, disponível aqui.

Fica-me a pergunta: será que o povo saiu mesmo da garrafa?

Oliveira & Casca

Às vezes, parece que isto até é um país a sério.

Quando estalou o escândalo do BPN, parecia estarmos no mundo do Oliveira & Casca do hermaníaco O Tal Canal.
Ouvi então dizer com as letras todas que era complicado e de mau tom levar perante a justiça Oliveira e Costa (que tinha fraudulentamente conduzido o banco à falência e, após se demitir, se tinha divorciado e passado os bens para o nome da "ex"-mulher) porque o homem estava doentinho, coitadinho.

Finalmente, Oliveira e Costa foi detido e constituído arguido, estando a ser interrogado por suspeita de burla agravada, falsificação de documentos, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Aguardemos os desenvolvimentos.

sábado, 15 de novembro de 2008

Interesses nacionais

Comecei a ler esta notícia, relativa a um investimento de 281 milhões de euros na refinaria de Leça da Palmeira, aprovado "a abrir" e ao arrepio do Plano de Ordenamento da Orla Costeira por ser considerado pelo governo um PIN+, e pensei:

-Uau! Que grande investimento em segurança e diminuição da poluição!

É que os PIN+ são assim a modos que uma Superliga dos tais "Projectos de Interesse Nacional", que de tão excepcional interesse nacional passam por cima de uma série de legislação e burocracias.
E o que é que poderia ser de maior interesse local e nacional, naquela refinaria tão dada a problemas e que se viu rodeada pela malha urbana, do que segurança e controlo ambiental?

Afinal não. É para construir uma unidade de destilação a vácuo (em Sines já há duas) e outra de viscorredução (para somar à de Sines).
Parece, então, que o "excepcional interesse nacional" (com direito a discurso do nosso primeiro e tudo) é mais do mesmo, embora permitindo poupar umas lecas em movimentação de produtos.

É então de supor que, daqui a 2 ou 3 anos, virão a ser anunciados mais dois PIN+:
- a construção em Leça de uma unidade de FCC e outra de alquilação;
- a construção em Sines de uma unidade de aromáticos.

Dessa forma, sempre ficarão igualitas e redundantes.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Portugal Moçambicaniza-se (IV a)

Nem de propósito:

Depois do 5 de Fevereiro, a Governadora da Província de Maputo fartou-se de falar de "manipulação dos jovens e estudantes" por parte de gente mal intencionada.
Isto até uma estudante lhe dizer frente às câmaras de TV que não precisa de ser manipulada para ver o que está mal.

Há momentos, a Directora Geral de Educação do Norte veio dizer que há manipulação dos alunos por elementos estranhos às escolas.
É realmente chato, poder-se despedir gente que afixa um cartoon acerca do nosso primeiro e não poder despedir os putos que protestam lá nas escolas deles.

Isto só dá tempo de afixar o post... Agora é o Secretário de Estado que vem falar de manipulações dos pobres, bem-intencionados (e, segundo parece, atrasados mentais) estudantezinhos.

Portugal Moçambicaniza-se (IV)

A 5 de Fevereiro de 2008, Maputo foi paralizado por motins populares que tiveram como motivação imediata um aumento dos transportes semi-colectivos decidido sem ter em conta as dificuldades de sobrevivência da população, e expressaram um descontentamente geral com as condições de vida e a irrelevância do povo para as opções do poder político.

O ministro respectivo desvalorizou a questão e, pouco depois, o Secretário da propaganda do partido governamental veio dizer que os motins tinham sido orquestrados por uma "Mão Invisível".

A 8 de Novembro de 2008, Lisboa foi sacudida pela segundo manifestação esmagadora de professores em poucos meses. 4 profs em cada 5 protestaram na rua contra a política do ministério da educação. A ministra desvalorizou. Dias depois, estudantes receberam a ministra com ovos em Fafe e, como seria de esperar, a coisa foi imitada em Lisboa, na primeira oportunidade.

O equivalente português do Sr. Macuácua, o porta-voz do PS Vitalino Canas, vem dizer que os protestos são "desacatos que nos parecem muito orquestrados, muito instrumentalizados, talvez por alguns radicais e alguns professores".


Depois do apoio a empresas privadas para garantirem o policiamento público, do epíteto de "negativismo, maledicência e bota-abaixo" a todos os que não viam o futuro tão risonho como o nosso primeiro, e depois de plagiarem o slogan de Armando Guebuza e da Frelimo, já não me restam dúvidas:

O nosso primeiro e o seu partido estão tão incrivelmente preocupados com o meu bem-estar pessoal que decidiram fazer tudo para que eu não sinta choques e dificuldades de adaptação, ao transitar entre Portugal e Moçambique! É a única explicação possível.

Sendo assim e já agora, nosso primeiro, torne a semelhança ainda maior: com a maior rapidez, demita a ministra e aproveite para mandar também borda fora alguns dos seus colegas mais inconvenientes.

Sei lá... Olhe: por exemplo aquele ex-chefe da secreta que não consegue dirigir forças policiais às claras, ou aquele outro que aprendeu com ele e acha normal autorizar devassas ilegais de correspondência electrónica, ou o ex-banqueiro que fez procurador pessoal um alto quadro do BP que devia fiscalizar o seu banco e, já ministro, o nomeou para a Autoridade da Concorrência.
Oh, homem... você é que sabe. Tem muito por onde escolher.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ovalidades


Linchamentos em Moçambique

Com o sugestivo sub-título de "uma desordem que apela à ordem", estará muito em breve à venda o livro Linchamentos em Moçambique, dirigido pelo sociólogo moçambicano Carlos Serra.

O título leva consigo o número 1, pois o livro refere-se apenas aos linchamentos urbanos, sob acusações de roubo ou violação. Seguir-se-á outro livro, acerca dos linchamentos rurais por acusação de feitiçaria. Aguardo a leitura de ambos com impaciência.

Entretanto, a minha modesta contribuição para o livro, o artigo "O linchamento como reivindicação e afirmação de poder" está disponível para download aqui.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O cadáver adiado


Ouvi há bocado no telejornal, com estes dois que a terra há de comer.

- Muitas escolas suspenderam a avaliação? Quantas? Pode informar a Senhora Ministra da Educação? (perguntava a própria S.M.E. aos jornalistas) Nenhuma escola suspendeu a avaliação de professores!

Segundos depois, informava um sindicalista que em Coimbra são 7, no Porto não me lembro quantas, em Lisboa a maioria...

Parece então que, no meu anterior post acerca da Senhora Ministra da Educação, caí no pecado do corporativismo.
Ela não anda apenas a envergonhar as ciências sociais. Anda a envergonhar a raça humana.
Não anda apenas a ridicularizar o Estado (que, aliás, muitas vezes bem o merece). Anda a ridicularizar-se a si própria.

Politicamente, a ministra da educação é um cadáver adiado desde Março. Libertando já os sinais sensitivos de ter deixado de estar adiado, o que só parece escapar ao olfacto do primeiro-ministro.

Pessoalmente, a cidadã e professora Maria de Lurdes Rodrigues está a perder toda a credibilidade que tão arduamente deve ter conquistado.
E isso, não desejo a ninguém, mesmo quando a culpa é da própria pessoa.

Bayete, Mama Africa

Só hoje fiquei a saber do falecimento de Miriam Makeba.

Para quem a conhecia, não vale a pena acrescentar nada.
Para os mais novos ou distraídos, cliquem aí na coluna do lado direito, no "Nkosi Sikelele Africa".

sábado, 8 de novembro de 2008

Obama, Madam & Eve

«Vejam só! A América tem um presidente negro.
... Macaquinhos de imitação.»

(Desculpem lá a demora, mas foi hoje a primeira vez que passei no Madam & Eve desde a eleição. Cliquem para aumentar.)

A vergonha das ciências sociais

Um comentário a este post obriga-me a explicitar algumas coisas.

Como em qualquer actividade, há cientistas sociais geniais, bons, medíocres e maus.

Mas uma coisa se espera de qualquer pessoa que tenha feito licenciatura, mestrado, doutoramento e uma carreira académica respeitável, mesmo que sem produções científicas particularmente salientes, numa disciplina como a sociologia:
Espera-se que integre em si o ethos e instrumentos de análise da actividade profissional e intelectual que é a sua, e que isso faça parte da forma como olha a realidade e reage a ela.

Ao confrontar-me com um acontecimento, sou incapaz de despir, do meu olhar e interpretações daquilo que vejo, o facto de ser um antropólogo - não só de formação como de prática, que veio reforçar e aprofundar essa formação. (Da mesma forma que, ao fazer antropologia, sou incapaz de despir a minha experiência de vida e aquilo que ela implica em termos de valores, emoções e perspectivas.)
Posso olhar para os acontecimentos de forma mais criativa ou "quadrada", mais aprofundada ou ligeira, mais inteligente ou limitada, mas nunca como se nunca tivesse ouvido o BêÁBá da minha profissão.

Por isso, quando uma ministra que fez carreira como socióloga decide afirmar, em resposta a uma manifestação de 120.000 professores (80% de todos os professores e educadores de infância do país!) que eles não querem é ser avaliados, não está apenas a revelar má-fé, leviandade e desrespeito pelos actores da área social que lhe cabe gerir.
Com essa análise e afirmação, está também a cuspir na sua disciplina científica e a envergonhar as ciências sociais.

Pontos de vista - 2


Diz uma socióloga que virou ministra, ao confrontar-se com uma manifestação de 120.000 professores contra a sua política educativa:

- Isto é porque os professores não querem ser avaliados.

Pontos de vista - 1

Pergunta um elefante, ao encontrar um homem nú:

- Como é que tu consegues respirar por uma trombinha desse tamanho?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A euribor, é quando a banca quiser

A taxa de juro do Banco Central Europeu baixou meio ponto percentual, para 3,25%.

A Euribor, logo se vê, porque aí é o inteligente mercado que decide - e é preciso cuidado com os spreads dos empréstimos a outros bancos, porque os gajos são mais caloteiros que os desgraçados como nós.

Mas não desesperemos! Há de vir a baixar alguma coisa.
Qualquer dia, ainda somos bem capazes de conseguir pagar os empréstimos das casas e, ainda por cima, sem termos que deixar de comer.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Longe da mudança



Li num rodapé do telejornal que o PCP fez saber que «Obama está longe da mudança necessária».

Corre o boato que o porta-voz terá acrescentado entre dentes: «Mesmo em relação ao Gus Hall teríamos reticências. Há muito quem duvide que ele fosse um camarada de confiança.»

Boa, Rui


Por aqui, está disponível uma crónica particularmente lúcida do Rui Tavares acerca desta noite.

Numa altura em que anda meio mundo a discutir o tom de pele do Obama, agrada-me sobremaneira que esse assunto não seja sequer mencionado por ele.

Pela minha parte, confesso que o facto de o filho dum africano virar presidente dos Estados Unidos me dá um certo prazer e gozo.
Mas muito menos do que o facto de ele defender as posições que defende.

Para mais tarde recordar

Uma óptima selecção da noite eleitoral na blogosfera.

E agora?

A esperança chegou à presidência, levando atrás de si uma maioria confortável no Congresso.

Como dizia o peixe na última cena do Nemo, «E agora?»

Bater o pé

À procura de fotos da Mercedes Sosa para ilustrar os links de videos aí na coluna da direita, fui dar com um anúncio do primeiro concerto a que a filhosca assistiu, para aí uns 2 meses antes de nascer.

A julgar pelos pontapés ritmados que na altura deu à mãe, também gostou particularmente (tal como o ateu do pai) do Solo le Pido a Dios.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Intuições

Quando, ao ver o Chicken Little (profissão: pai), me apareceu o Presidente da Câmara sob a forma de perú com cartola, pensei: se fosse um banqueiro, devia antes ser um pombo.

Nunca percebi porquê, até me ter cruzado há dias com esta imagem, no blog do Patrick.
Está tudo explicado.

Reflexões ociosas - 4

Enquanto aguardo resultados das eleições norte-americanas, há um pensamento inconveniente que não me sai da cabeça:

Em Moçambique, Obama não conseguiria sequer ser indigitado como candidato por um dos maiores partidos. É mulato.

Citações de café (15)

- T'as vu ce bordel dans les banques?

- Tais toi et boit ta bièrre comme tout le monde.

(Place Jourdain, Bruxelas)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ó p'ra mim premiado!

Com a sua habitual simpatia, o Zé Paulo do Lanterna Acesa escolheu atribuir-me o Prémio Dardos, que aí corre por essa blogosfera fora, para reconhecer «os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras».

Claro que fiquei todo babado e que aceito, agradeço e retibuo.
Cumprindo as regras, aqui deixo os meus nomeados, agradecendo a todos eles o facto de me darem mais que razões para esta nomeação.

- O Diário de um Sociólogo, carinhosamente crismado "Rádio Maputo" pelos muitos visitantes que ali vão ler e discutir novidades e ideias sobre Moçambique e o mundo.

- O Que Diz o Pivô, com um abraço especial ao cão.

- O Sem Muros, com desejos de um pouco mais de crónicas.

- O De Lisboa, ex-De África, porque maningue sim.

- Os Tempos Que Correm, daquele colega e ex-prof que é sempre um estímulo ouvir.

- O Câmara Clara, pela beleza e por finalmente ter acabado a interminável remodelação total.

- O Ladrões de Bicicletas, que desmente a ideia de que falar de economia tem que ser uma seca.

- O Cesto da Gávea, porque faz sempre falta uma bejeca em alto mar.

- O Vou P'ra Casa Mas Não É P'ra Já, que recomeçou a postar.

- O Ma-schamba, embora já tenha recebido este prémio antes, porque fechou a tasca e eu tenho a secreta esperança de o convencer a reabrir.

- E o Arrastão, só para chatear o anterior. Mentira.

É fartar, vilanagem!

Não. Desta vez não se trata do capital financeiro.

É que decorre até dia 21 no ICS (junto do Campo Grande, ao lado do edifício novo do ISCTE) uma Feira do Livro daquelas a não perder mesmo.
Encontram-se lá os livros da Imprensa de Ciências Sociais com preços que vão desde 1 euro até descontos muito significativos para os livros mais recentes.

Só para terem uma ideia, este meu livro, com Prémio Sedas Nunes e tudo (deixem-me cá armar-me em importante...) desce ali de 22 euros para 7.
Cá para mim, se não é desta que enchem a vossa prateleira das ciências sociais, nunca mais o vão fazer.

domingo, 2 de novembro de 2008

Mestrado em lugares-comuns (1)

«Cada um é p'ró que nasce»

A família Sousa vai pagar os calotes

Reunida hoje em cimeira excepcional, em frente do cozido à portuguesa de domingo que excepcionalmente incluia morcela de mel vinda directamente de Bragança, a família Sousa decidiu "criar condições para pagar a curto prazo" os calotes que deve às várias empresas do bairro.

Já se ouviam zunzuns acerca do assunto, desde que o Costa da fabriqueta de velas da esquina ao fim da rua tinha ameaçado despedir produtores de cera nos ouvidos se tivesse que lhes subir o salário mínimo, que o Silva do talho tinha dito que, com os calotes dos Sousas, não havia negócio que aguentasse no bairro, e que o próprio patriarca Sousa tinha reconhecido, ao mandar abaixo um abafado a crédito lá por volta de sexta-feira, que os donos do talho, da mercearia, do café, da boutique, da retrosaria, da loja de fancaria, da casa de meninas, da sapataria e do minipreço (para não falar do canalizador por conta própria e do trolha reconvertido em empresário de mão-de-obra importada) tinham razões de queixa dos calotes familiares.

Agora, segundo anunciou o genro do velho Sousa à hora da bica com cheirinho na tasca do Asdrúbal, a família há de arranjar maneira de os calotes serem pagos. E jura pelas alminhas que os calotes futuros serão pagos com uma pressa do Hamilton ou do Massa, conforme os gostos - embora, nestas questões de arame, o pessoal do bairro prefira massa viva a conversas de cámones.

O Rodrigues da ourivesaria, com um calote único mas gorducho que já tinha 16 anos de idade, começou aos pulos de alegria. Os outros, contudo, ou estavam a jiboiar os respectivos cozidos ou a curtir os digestivos - tarefa árdua, já que o Asdrúbal, à conta dos dívidas dos Sousas, tinha importado lá da santa terrinha um bagaço marado que não dava saúde a ninguém.

Chato mesmo, foi a sogra do Sr. Sousa, a D. Manuela, ter entrado tasca dentro a mandar vir. "Irresponsáveis!", clamava ela, "Primeiro, aumentaram a semanada aos putos, que agora até já dá para o lanche, em vez do pirolito. Depois, não anularam encomendas de obras lá para casa, o que só benificia as economias caboverdiana e ucraniana (esta é sic, mesmo). Agora, querem pagar o que devem?"

Felizmente, por essa altura, a clientela da tasca ou estava a jiboiar, ou a vomitar o tal bagaço, ou a pensar, frente à imagem da Virgem Maria: "Será que os cámones votam no preto bonitão, ou no bimbo com a caixa-de-óculos beata a tiracolo?"

À conta do PREC, sou dono de 2 bancos

Pois é... Agora, sou dono de 2 bancos.

Já era dono do BCP, embora lá deixe 3/4 do sálário em empréstimos da casa e seguros obrigatórios e já tenha perdido, com a gracinha, bem mais de 10.000 euros desde que me convenceram a comprar as tais de acções, para ter um spread mais baixo.

Agora, com o PREC (Processo de Recapitalização Em Curso), sou dono do Banco Português de Negócios.
Está bem que, para isso acontecer, ele está falido.
Mas que importa? Assim, os ex-donos conseguirão usar o seu bom nome para obter capitais para criarem outro banco qualquer e, se a coisa voltar a dar para o torto, lá ficarei dono de mais um.

Viva o capitalismo popular. E o Estado providência (dos desvarios de capital).