sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Tempestades e feitiços

Quando estava a fazer o passeio do xi-xi com a cadela, ontem à noite, viu-se um vago relâmpago muito ao longe, sem sequer se ouvir trovão. Chegou, no entanto, para começarem a cair umas pinguitas de água e, talvez um minuto depois, uma chuvada monumental. O costume.
O que não era costume foi chegar, fugindo à chuva, e encontrar fechada a porta exterior do edifício onde vou habitando.
Cadê o guarda, que é a única pessoa a ter essa chave? Batendo desesperado à porta, encharcado que nem um pinto, espreitei pela adjacente parede de tijolos ocos "decorativos" e lá descortinei essa instituição local. Encolhido, tentava esconder-se atrás da porta.
Foi preciso apelar à minha esquecida voz de ex-oficial de artilharia e berrar, em desespero: «Abra a merda da porta!»
Atabalhoadamente, abriu e balbuciou qualquer coisa. Tinha acumulado 3 cadeiras de plástico contra a porta, como num filme de desenhos animados.

Qualquer pessoa que conheça um pouco da escrita etnográfica acerca desta parte do mundo perceberá logo este terror por uma tempestade, mesmo tão distante, e as quase infantis medidas de protecção. O nosso bom guarda terá feito ou encomendado um feitiço qualquer e, como tal, tornou-se o alvo preferencial dos raios e das ameaças espirituais tempestuosas.

Suponho que muitos leitores, incluindo colegas, achem este incidente do quotidiano muito exótico, interessante e excitante.A mim, molhado até aos ossos e sabendo o que a casa gasta, só me ocorreu pensar: «Santa paciência!...»E, depois, resmungar entre dentes um pouco caridoso «Rai's partam!»

Sem comentários: