Terça-feira, ouvi todo o tipo de disparos na estrada da portagem: lançadores de gás lacrimogéneo, caçadeiras de grande calibre, pistolas, kalashnikovs tiro a tiro e em rajada. Um casal inglês que foi apedrejado e se refugiou no mesmo condomínio vinha chocado por ver a polícia disparar balas reais «randomly» (aleatoriamente, indiscriminadamente) sobre as sebes que bordejam a estrada, atrás das quais se acoitavam ao molho homens, mulheres e crianças que eles nem sequer conseguiam ver. Um amigo meu entrou em Maputo numa coluna rodeada por viaturas da polícia que disparavam as suas armas (bem reais) para as bermas da estrada.
Uma bala de borracha não se parece em nada com uma bala real, tal como não se parecm as armas que as disparam. Uma bala de borracha é muitíssimo maior, em diâmetro e em comprimento, e não pode ser disparada por uma espingarda, pistola-metralhadora ou fuzil de assalto.
As fotos dos jornais, quase todas tiradas por detrás da polícia pois fotógrafo também tem medo, mostram as forças policiais, fardadas ou à paisana (sem margem para dúvidas, pois nesse caso estão a prender pessoas), armadas de kalashnikovs, pistolas e, pontualmente, um ou outro deles com uma arma capaz de disparar granadas de gás lacrimogémeo e/ou balas de borracha.
Quarta-feira, um dos canais de televisão mostrou uma intervenção de viaturas da polícia no Machaquene, disparando para as bermas e baleando uma pessoa junto dos repórteres.
Quinta-feira, imediatamente depois de o canal estatal de televisão apresentar uma peça em que o Hospital Central de Maputo declarou ter tratado 78 pessoas feridas por balas reais, e em que um par delas foram entrevistadas, o comandante nacional da polícia reafirmou em estúdio que as forças sob o seu comando só dispararam gás lacrimogéneo e balas de borracha.
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