sexta-feira, 30 de maio de 2008

Futebol acima da lei



Lá que os donos do futebol estão, em muitos países, acima da lei, já cá se sabia.

Mas que a FIFA tenha decidido voltar a impor um número limite de jogadores estrangeiros em cada equipe já leva a coisa para outro patamar.

A FIFA sabe, e foi-lhe lembrado, que uma restrição como essas é ilegal na Europa (o continente onde a regra seria pertinente), dado violar as normas e direitos comunitários de livre circulação de trabalhadores.
Porque o faz?
Por arrogância? Para ganhar poder negocial noutras questões? Para permitir umas negociatas até o Tribunal Europeu julgar casos que tornem ilegal essa regra?

Uma coisa parece certa: parece quererem mostrar que estão acima das leis, pelo menos até os obrigarem ao contrário.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Paulo, concordo que a FIFA já tenha tomado muitas decisões erradas mas esta acho que só peca por tardia, uma vez que o futebol se está a tornar de uma monotonia extrema, controlado por 6 ou 7 clubes que "vomitam" dinheiro e concentram os 50-70 melhores jogadores do mundo. Isto é competitividade?
Mas para além disso, o que a FIFA disse, e está no site, é que um clube tem de apresentar EM CAMPO no máximo 5 jogadores estrangeiros. A FIFA não restringe de forma alguma que um clube celebre um contrato de trabalho com um jogador só por ser estrangeiro. Se um clube quiser ter 10, 15 ou 20 jogadores estrangeiros no seu plantel que se console a gastar dinheiro, nada impede a livre circulação. Só pode é ter 5 a jogar. Um futebolista não é só um profissional de um clube se jogar, pode exercer a sua profissão no banco ou mesmo não sendo convocado, não ganha nem mais nem menos por isso. Como tal, e corrija-me se eu estiver errado, não vejo onde é que esta regra viola os princípios de não-discriminação, etc, etc. Se um estrangeiro quer ser titular esforce-se em concorrência leal com os outros para ganhar o seu lugar.
Cumprimentos e parabéns pelo seu blog.
João Pedro Barros

(Paulo Granjo) disse...

Desculpe-me o atraso com que respondo. Na altura estava muito ocupado e só agora reparei que tinha ficado sem resposta.

Pergunto: Haverá mais monotonia que num país em que (tirando duas pontualíssimas excepções)só 3 clubes é que ganham, desde que há campeonatos de futebol? Obviamente, "vomitando dinheiro" à escala nacional...
E, que me lembre, ninguém tentou seriamente impor limites financeiros e essa situação - a não ser a defunta escravidão dos "passes".

É claro que é um bocado ridículo que, num país em que o melhor jogador é madeirense, as equipas da ilha dele quase só alinhem estrangeiros.
Ou que o Sporting tivesse "feito" o Figo, o Simão, o Ronaldo, o Quaresma e o Nani e eles tenham ido rapidamente para outras paragens.

Mas... que fazer? Tentar que os clubes voltem a ser a representação dos rapazes lá da terra deles?
Não é viável nem, creio, tão pouco desejável.

Para além das questões de equidade, circulação e livre-emprego (relativamente às quais os seus argumentos me parecem falaciosos), uma decisão destas, a ir para a frente, só teria 3 resultados:

- Maior concentração dos melhores jogadores nacionais nos clubes mais ricos de cada país, aumentando desequilíbrios internos;

- Inflacção de verbas de transferência e continuidade da "sangria" dos realmente melhores jogadores dos campeonatos mais pobres para os mais ricos;

- Aumento do poder e lucros dos empresários.

Para além da afirmação de um "poder desportivo" acima da lei, só estas razões económicas permitem justificar esta decisão. A FIFA é então, abertamente, a associação de defesa das negociatas?