sexta-feira, 9 de maio de 2008

Plano C - uma Europa a sério

O Dia da Europa foi hoje comemorado através da promulgação do Tratado de Lisboa por Cavaco Silva.
Ou seja, foi comemorado pelo que tem de pior, ratificado da pior maneira possível, com os eurocratas a falarem grosso que não colocam a hipótese de um Plano B, caso o referendo na Irlanda dê «Não».

Também me parece que o que faz realmente falta é um "Plano C"...

Fiquei a sentir-me vaga e abstractamente federalista quando Bush Jr foi reeleito com mais votos, apesar de os votantes norte-americanos já saberem, então, que as razões para a invasão do Iraque tinham sido um embuste e que a tortura de prisioneiros se tinha tornado trivial.
Ficou então claro que princípios civilizacionais e humanitários básicos, que dávamos por adquiridos, podiam ser facilmente descartados pela mais poderosa potência mundial, sob aplauso da maioria da sua população.

Face a essa barbarização assente nos terrores securitários, o único contrapeso civilizacional e político que consigo descortinar como plausível seria a Europa.

Uma Europa com muito maior unidade e relevância na cena internacional, por outros meios que não a política da canhoeira.
Uma Europa de princípios, de liberdade, de diversidade e de democracia - começando pela democratização das estruturas políticas a nível europeu, com poder efectivo dos eleitos e o progressivo esvaziamento dos burocratas e dos indirectos representantes nacionais.
Uma Europa que assumisse a justiça social e os direitos dos cidadãos como seus valores inalienáveis.
Uma Europa que, já agora, não fechasse as suas fronteiras como uma fortaleza cercada.
E que aproveitasse para lançar a construção de um sistema de segurança colectivo abrangendo todo o Mediterrâneo, tornando obsoletos os restos da lógica de blocos militares que continua a reger o mundo.

Coisa bem diferente daquilo a que assistimos, em muitos aspectos quase inversa.
Mas coisa necessária.

Vamos discutir o porquê e o como?

4 comentários:

João Feijó disse...

Infelizmente a defesa de princípios como a liberdade, a diversidade ou a democracia não passam a maior parte das vezes de discursos demagógicos. Foi precisamente à luz desses princípios que Bush defendeu (e continua a defender) a invasão do Iraque. Foi precisamente à luz desses princípios que a França ou a Alemanha tanto o condenaram. O que sempre esteve e estará (pelo menos enquanto o petróleo tiver valor) em questão é a possibilidade de poder influenciar política e economicamente o médio Oriente, o poder fazer negócios com o Iraque, seja pela força bruta ou seja pela «diplomacia».

E a promulgação do tratado de Lisboa segue a mesma lógica. Quando a questão passa a ser a participação e a discussão pública do sistema eurocrático, o discurso da democracia já não se repete da mesma maneira. Atropelam-se todas e quaisquer promessas eleitorais sem qualquer pudor.

(Paulo Granjo) disse...

É verdade.
E então?
Mandamos às malvas esses princípios, pela sua manipulação por filhos-da-puta?
Sentamo-nos a resmungar?

(Paulo Granjo) disse...

PS: gostei muito do seu blog

João Feijó disse...

Infelizmente acho que isto é um pouco como escrevia George Bernard Shaw:

"A democracia é um mecanismo que garante que nunca seremos governados melhor do que aquilo que merecemos".

Da minha parte também gosto de vir aqui ler as suas inquietações. E quando as pessoas se inquietam é porque a democracia está viva.

Obrigado pela visita. É bem-vindo.