domingo, 22 de junho de 2008

O crime compensa

Morgan Tsvangirai, líder do partido mais votado nas legislativas zimbabuéanas e candidato mais votado na primeira volta das eleições presidenciais, retirou-se da segunda volta, marcada para dia 27.
Diz que não pode pedir aos eleitores que arrisquem a sua vida ao votarem nele.

O risco tornou-se, de facto, bastante maior desde a primeira volta.
Mais de 60 dirigentes e activistas do MDC mortos por esquadrões da morte, milhares de pressupostos votantes agredidos e expulsos das suas zonas de residência, ajuda alimentar (tornada essencial à sobrevivência, num país que era "o celeiro da África austral", devido ao caos criado pelo regime na última década) só entregue a quem apresentar cartão da ZANU-FP de Mugabe, o secretário-geral do partido que venceu nas urnas acusado de alta traição (que dá pena de morte) por ter revelado os resultados eleitorais que o regime queria esconder... Um vasto rol de violência e ilegalidade, que podem ver aqui.

O risco de morte é terrivel e bem real, mas... não é um pouco tarde para pensar nisso?
Que vão dizer às famílias dos assassinados, aos torturados e agredidos, às violadas, aos expulsos que viram as suas casas arder, por terem tido a coragem de votar contra Mugabe?
Que afinal fica tudo como era dantes? Que tudo foi em vão?

Se o deixarem, Mugabe - automático vencedor, sem oponente - vai dissolver o parlamento eleito, onde ficou em minoria, e convocar novas eleições. Será que o MDC não vai participar, para não pedir às pessoas que corram risco de vida por votarem em si?

É certo que a primeira dama garantiu que, mesmo ganhando, Tsvangirai nunca iria ver o interior do palácio presidencial. É certo que Mugabe garantiu que «as balas são mais fortes que as canetas» (de votar) e que, caso perdesse nas urnas, as utilizaria.

Será que o MDC recebeu garantias? Como o governo de unidade nacional liderado pelos perdedores, proposto pelo velho Kaunda e, há poucos dias, pelo presidente da África do Sul que tantas responsabilidades tem no assunto?
Mas o que valem as garantias de dirigentes regionais que olharam para o lado e assobiaram enquanto Mugabe meteu o seu país e o seu povo a ferro e fogo, e que receberam Tsvangirai, já vencedor eleitoral, fazendo-o passar por um detector de metais?

Esperemos para ver. Pela minha parte, não tenho (neste assunto) muita fé nem nas lideranças regionais, nem na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas que dizem irá haver.

PS: e que se lixe a bola

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