Um comentário a este post obriga-me a explicitar algumas coisas.
Como em qualquer actividade, há cientistas sociais geniais, bons, medíocres e maus.
Mas uma coisa se espera de qualquer pessoa que tenha feito licenciatura, mestrado, doutoramento e uma carreira académica respeitável, mesmo que sem produções científicas particularmente salientes, numa disciplina como a sociologia:
Espera-se que integre em si o ethos e instrumentos de análise da actividade profissional e intelectual que é a sua, e que isso faça parte da forma como olha a realidade e reage a ela.
Ao confrontar-me com um acontecimento, sou incapaz de despir, do meu olhar e interpretações daquilo que vejo, o facto de ser um antropólogo - não só de formação como de prática, que veio reforçar e aprofundar essa formação. (Da mesma forma que, ao fazer antropologia, sou incapaz de despir a minha experiência de vida e aquilo que ela implica em termos de valores, emoções e perspectivas.)
Posso olhar para os acontecimentos de forma mais criativa ou "quadrada", mais aprofundada ou ligeira, mais inteligente ou limitada, mas nunca como se nunca tivesse ouvido o BêÁBá da minha profissão.
Por isso, quando uma ministra que fez carreira como socióloga decide afirmar, em resposta a uma manifestação de 120.000 professores (80% de todos os professores e educadores de infância do país!) que eles não querem é ser avaliados, não está apenas a revelar má-fé, leviandade e desrespeito pelos actores da área social que lhe cabe gerir.
Com essa análise e afirmação, está também a cuspir na sua disciplina científica e a envergonhar as ciências sociais.
sábado, 8 de novembro de 2008
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6 comentários:
Com certeza. Mas sera que nao sao raros os que, ao entrarem para as praticas maquiavelicas da politica aplicada, nao deixam de lado seus ideais e/ou metodos louvaveis aprendidos no passado? Penso agora no sociologo Fernando Henrique Cardoso, que vendeu a Vale do Rio Doce a preco de banana (sic). Mesquinhez ou pretensao, nao deixa de ser lastimavel.
Em cheio!
Pois é, Patrick. Mas a questão não é só deixar para trás ideais e métodos. Não conheço pessoalmente a senhora e, pelo pouco que publicou, os seus ideais até podem bem ser estes. E o carácter autoritário, na acepção psicanalítica, também.
Parece-me extraordinário é que alguém que formou (ou deformou, se preferir) o seu pensamento e visão do mundo para analisar fenómenos sociais a partir de dinâmicas, lógicas e indicadores sociais consiga dizer isto sem corar, por muito à rasca que se sinta.
No elefante, eu percebo. Numa socióloga e professora de sociologia, não.
Caro senhor:
Não sei se será algo que é bem próprio da maneira de ser portuguesa, isso de vender as suas convições por um prato de lentilhas ou por um lugarzinho na mesa do orçamento.
Lembro-me do que me disse na altura o irmão do famigerado Durão Barroso quando este abandonou o orgão de direcção da organizaçao de estudantes do MRPP, ao qual ambos pertenciamos:
"O meu irmão disse-me que não tem futuro no Partido (o MR) e vai procurar por outro lado."
Meses depois, estava já a namorar o PPD.
Saudações militantes e... coerentes.
Carlos
Muito bem dito!
O autoritarismo é uma cpnstante das classes políticaS portuguesas no poder.
O problema portugue^s não será tanto dos partidos mas do seu caracter e mentalidade!
Atenciosamente
Antonio Justo
Caro Sr. Carlos Peixoto;
Certamente por lapso ter-se-á esquecido de muitos do MES que foram namorar o PS. Na mesma ordem de ideias, - a sua - também se esqueceu de Mário Soares nos tempos da Juventude Comunista. O "poleiro" já tinha "outro galo" e ele foi procurar outro poiso.
NB - Não tenho qualquer afinidade com o Sr. Barroso.
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