quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cerejeiras cardinalícias em flor



Costuma dizer-se que Braga é a terra dos três "Pês".
Curiosamente, todos eles ligados à sexualidade.

No caso dos primeiros "Pês", a ligação deriva de uma obsessão pelo sexo, herdada das pancadas do santo meu homónimo e reforçada por uma historicamente tardia imposição de celibato - que, dizem as más línguas, terá aumentado o recurso às segundas e aos terceiros "Pês", para além da sedução/violação de criancinhas.
Isto a par, claro, de uma bem mais saudável produção de "afilhados", ou de humanas erupções como aquelas que deram origem a dois livros razoavelmente eróticos e com a palavra "crime" no título - como se as paixões, sublimadas ou carnais, fossem criminosas.

As segundas "Pês", está claro, estão ligadas à sexualidade por capitalizarem profissionalmente essa obsessão, seja por parte dos primeiros "Pês", seja dos desgraçados a quem as sexualizadas prédicas deles infernizaram a vida.

Já os terceiros "Pês" não podem deixar de carregar consigo a ligação à sexualidade, visto que foram sendo empurrados, ao longo dos tempos, para uma definição de si próprios que os reduz ao particularismo de se sentirem atraídos por pessoas com genitais semelhantes aos seus, por muito que cada um dos assim catalogados seja bruto ou simpático, genial ou boçal, egoísta ou generoso.

Mas, uns dias depois da patética censura a um desfile carnavalesco em Torres Vedras, Braga ganhou um quarto "Pê" ligado à sexualidade: os polícias.

Então não é que, numa feira do livro, houve umas alminhas fardadas que decidiram apreender os exemplares de um book, por ter na capa uma pintura "pornográfica", acima reproduzida?
Vieram depois a alegar os seus chefes que a apreensão, que continuavam a achar uma coisa normal, se devia ao «perigo de alteração da ordem pública». Ou seja, houve umas outras alminhas (com dimensão intelectual e emocional semelhante à das retratadas em seguida, por Sokal, nos Premières Enquêtes do Inspecteur Canardo), a ameaçarem que faziam e aconteciam, pelo que os bons dos polícias acharam que, em vez de lhes mandarem ter juízo e, se necessário, impedirem os desacatos que ameaçavam, deviam aceder às ameaças de violência.

Mais tarde ainda, os livros foram devolvidos. Não porque a PSP reconhecesse que os seus agentes de defesa da lei tivessem cometido uma ilegalidade cretina e um gravíssimo abuso. Não! Foi porque a reprodução, afinal, era de «uma obra de arte», o que fazia com que deixasse de ser pornográfica...

Não vou aqui discorrer sobre legalidade, censura, abuso de autoridade, ou sequer sanidade intelectual.
Só comento:

A "ordem pública" posta em causa, em 2009, pela pintura de uma vagina?
Querem ver que o tal de "poder feminino" é, afinal, tão enorme e tenebroso como o pintam os machos com psicose da castração?

4 comentários:

ukabdsinais disse...

Meu caro, o mundo ainda vai acabar à porrada por causa de um pénis mirradinho...

(Paulo Granjo) disse...

É...
Os pénis mirradinhos têm tendência a suscitar a vontade de fazer guerras.

João Feijó disse...

Eu sempre ouvi dizer: "Em Coimbra estuda-se, em Lisboa manda-se e em Braga reza-se"...

Um abraço

(Paulo Granjo) disse...

Estereotipos à parte, seria caso para perguntar onde raio é que se faz o necessário para a reprodução da espécie (para além, claro, de para o bem-estar físico e psicológico, para além de para a lúdica curtição dos sentidos, que não tem razão nenhuma para ser higienista)...