domingo, 17 de maio de 2009

Santinhos, espíritos e diversão

Ontem, duas iniciativas se desenrolaram em Lisboa, muito perto uma da outra.

No Terreiro do Paço, muitos milhares de pessoas deram largas à sua legítima mas teologicamente discutível idolatria, acompanhando devotamente uma estátua.
Foi trazida de Fátima, para comemorar os 50 anos de uma outra estátua, em Almada, mandada erguer pelo episcopado português da altura, em evidente declaração de apoio divino a um dos maiores temas propagandísticos do salazarismo: a não participação portuguesa na II Guerra Mundial, atribuída à clarividência e "ratice" de S. Exª o Presidente do Conselho.

Uma estátua que, curiosamente, foi erguida 14 anos depois do fim da tal guerra, numa altura em que a capacidade do salazarismo se auto-propagandear andava pelas ruas da amargura e o país estava cada vez mais óbvia e orgulhosamente só, devido à sua política colonial - que iria levá-lo, 2 anos depois, não a uma mas a 3 guerras, que se arrastariam por 13 anos, em vez de 6.

Uns pormenores que talvez não sejam completamente irrelevantes, mas que não vi serem referidos em nenhum jornal ou televisão.
É normal, suponho. Afinal, somos um país de brandos costumes para com os poderosos, sejam eles indivíduos ou instituições.

Entretanto, 100 metros ao lado, desfilavam as muy pagãs Máscaras Ibéricas, entre a Praça do Município e o Rossio.

Ele eram caretos, chocalheiros, marafonas, gaiteiros, minotauros, ursos e seres de musgo... até mascarados espanhois com evidente inspiração azteca.
Tudo isso dançando, pulando, metendo-se com as pessoas, bebendo os seus canecos no final.
Enfim: o ciclo das festas do solstício de inverno em todo o seu explendor, mesmo que um bom bocado folclorizado.

Confesso que tinha curiosidade de ver as duas iniciativas.
Mas ainda bem que escolhi a do Rossio. Foi, de certeza, mais divertida - e de uma humanidade mais viva.

Mesmo se, por lá, recebi uma má notícia.
O homem mais gentil, simpático e calmo da aldeia de Varge, meu solícito companheiro nas duas vezes que vivi com os caretos a sua Festa dos Rapazes, está preso.

Dizem-me que, perante a estupefação de todos os que o conhecem, deu duas facadas em alguém que (suponho) lhe terá feito alguma coisa que ultrapassava os limites da sua enorme tolerância.

Daqui vai um abraço com muita amizade, Vitorino.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece que a ideia da construção do Cristo-Rei foi do Cardeal Cerejeira. Na verdade, sempre me pareceu um bocado "deslocado" - talvez por isso...
Ontem, os crentes quiseram que fosse um encontro entre mãe e filho, depois de 2000 anos. Para os outros deve fazer parte da campanha eleitoral (as crenças dão tantas voltas!)
Maria Motta