Há uns dias atrás, uns amigos holandeses trouxeram-me, de uma expedição enoturística pelo alto Alentejo, um par de garrafas que achavam o máximo.
Eram de um vinho monocasta, feito com tinta caiada.
Anfitrião e amigo, lá preparei um jantar à altura das suas expectativas vinícolas. Superiores às minhas, confesso, devido a experiências anteriores.
Chegado o grande momento da prova, titubiei um pouco - pois, afinal, eles tinham trazido entusiasticamente as garrafas e o sabor na minha língua não me levava a dizer aquilo que eles gostariam.
Que o vinho era excepcional era evidente; mas apenas no sentido de ser diferente do mais habitual.
Quanto à qualidade (e talvez parte da culpa fosse da comida escolhida, que jogava no contraste e recombinação de paladares, quase como a vida ou a política), o vinho até tinha um sabor interessante, quase um concentrado de vinho alentejano. Mas tornava-se excessivo pela monotonia de um sabor forte e marcante, mas isolado, sem subtileza ou surpresa, complexidade. Ao contrário do desejado pelo produtor, parecia um vinho inacabado, que reduzia um mundo de interacções a um quase vazio, de tão concentrado num único ponto. E era pena, dada a base de que partia - mas a que se limitava.
É muito difícil transmitir experiências sensoriais em palavras. Sobretudo numa língua que não é nossa e com um copo na mão. Os meus amigos ouviram-me, mas creio que não consegui transmitir-lhes o que tinha em mente.
Eles não lêem português.
1 comentário:
Paulo, não te esqueças da solidariedade gay com a famosa bicha feroz do Vilar de Maçada...
Como bem sabemos, este é mais um jogo de "parentesco" e de reciprocidades.
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