segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gripe A, aviões e combustível

Em comentário ao post anterior, Relógio Adiantado expressou a sua discordância em relação à minha "denúncia", disponibilizando o link para este interessante artigo e perguntando em que dados me baseava.

Creio que a questão tem suficiente interesse geral, particularmente neste tempo de receios da gripe A, para afixar aqui a minha resposta.
Não para 'falar grosso', mas na esperança de que ela possa ser o ponto de partida para um debate mais vasto, feito dentro do espírito com que começo o meu 'comentário ao comentário':

«Antes de mais, muito obrigado pelo seu comentário.
Espaços como este só são úteis (para além de, eventualmente, alimentarem o ego dos 'donos' dos blogs) se estimulam o debate, a transmissão de experiências e, com sorte, algum aprofundamento mútuo.
O que é muito difícil se os intervenientes tiverem experiências e opiniões semelhantes, limitando-se a dizer "amen" uns aos outros.

Entrando na questão, gostaria antes de mais de chamar a atenção para o facto de, perante qualquer problema de segurança pública que envolva actividades e interesses financeiros de grande monta, há sempre peritos tecnicamente habilitados que se pronunciam a favor da inexistência de perigos significativos por parte dessas actividades.

E não têm que "estar comprados", que ter conflitos de interesses, ou sequer que estar a mentir.
Podem fazê-lo por convicção técnica e cultura profissional.
E podem (como no caso cujo link envia, ou no caso do perito que ouvi na televisão) estar a falar verdade, embora apenas parte da verdade.

Os filtros de ar condicionado dos aviões são do melhor que há e o sistema de renovação externa de ar funciona como é explicado no artigo que refere.
Mas é preciso que seja ligado em voo - e não apenas para testes como o referido.

Ora as empresas petrolíferas notaram uma significativa redução do consumo de combustível por parte das companhias aéreas, sem alteração de aparelhos e rotas que a pudessem justificar, a partir da proibição de fumar nos aviões.
Um dado que, no caso de Portugal (e incluindo, claro, as muitas companhias que aqui operam ou fazem escala) me foi transmitido numa conversa de trabalho acerca de outro assunto.

Como havia, internacionalmente, referências pontuais ao facto de a proibição ter sido aproveitada pelas companhias para substituir a renovação de ar pela recirculação interna (o que já induziria uma poupança significativa, dada a redução da maquinaria envolvida e das necessidades de aquecimento do ar utilizado), tomei durante uns anos essa explicação como boa.

Calhou, tempos depois, isso vir a conversa com uma pessoa que trabalha como tripulante de cabine.
Olhou para mim com uma certa pena da minha ingenuidade e comentou: «Não. Nós já nem fazemos recirculação de ar. Só se a temperatura baixasse muito na cabine, mas isso nunca acontece com muitos passageiros e um avião com bom isolamento.»

Tive oportunidade, desde então, de confirmar essa informação com duas outras pessoas de tripulações de cabine e com um piloto, pertencentes a duas diferentes companhias aéreas e pouco à vontade com a conversa.

Estou, por isso, convicto de que essa é uma prática "normal" (se não generalizada), que a frio nem sequer me espanta muito, por ser semelhante a opções economicistas que encontrei noutros sectores económicos e grandes empresas.

Estou também convicto de que, constituindo ela um perigo para a saúde pública e estando instalados os mecanismos tecnológicos para limitar muito esse perigo (mecanismos cujo uso até talvez seja já obrigatório, embora se "fechem os olhos"), a situação é intolerável e terá que ser clarificada e controlada pelos poderes públicos e pelas instituições de controlo da actividade aeronáutica.

Tanto mais que esse controlo é neste caso fácil, dados os instrumentos de registo dos aviões, e que, perante a ameaça de doenças potencialmente mortais, o procedimento economicista que referi não se limita a ser imoral; é criminoso, á luz da legislação geral existente na larga maioria dos países.»

2 comentários:

Anónimo disse...

Permita-me que lhe dê os parabéns pela sua atitude, que várias vezes aqui observei, de aceitar as críticas sem azedume, com boa educação e dando-lhes honras de destaque.
Gostei de ler "Espaços como este só são úteis (para além de, eventualmente, alimentarem o ego dos 'donos' dos blogs) se estimulam o debate, a transmissão de experiências e, com sorte, algum aprofundamento mútuo.
O que é muito difícil se os intervenientes tiverem experiências e opiniões semelhantes, limitando-se a dizer "amen" uns aos outros."
É um contraste refrescante, em relação a maioria do blogs de pessoas com opiniões fortes.

(Paulo Granjo) disse...

Obrigado.
Mas é a única maneira de fazer as coisas que me parece fazer sentido.

Se é para nos preocuparmos apenas em ter razão e em ouvir o que queremos, mais vale falarmos para o espelho.
Mas nunca aprendi nada com unanimismos, ou com o silêncio de quem discorda.