sábado, 26 de setembro de 2009

Votemos. Pois...


Nas últimas eleições, tive a rara alegria de fazer eleger, de uma vez, o político com cujas posições mais me identifico e o comentador com quem mais concordo.

Com eles agora "degredados", confesso que o entusiasmo com que irei votar no domingo é bastante menor - mesmo se estas eleições são, em princípio, bastante mais importantes que as anteriores.
Será que, com a idade ou qualquer outro fenómeno de estragação, me deu para personalizar a política?

Pensando bem, acho que não é isso.
É claro que preferiria contar, para defenderem aquilo que acho necessário, com as pessoas com quem mais me identifico.
Mas não apenas (nem, talvez, sobretudo) por simpatia, amizade ou abstracta confiança.

Creio que esta súbita necessidade passa, antes, pela consciência de que estaremos, a partir de 2ª feira, perante um quadro bastante volátil de relações de forças e de táticas negociais.
E aí (suponho que é humano, se é que tal coisa existe), sentir-me-ia mais à vontade sabendo que as decisões acerca de o quê e do como fazer seriam tomadas por pessoas cujo carácter conheço e cujas formas de pensar e decidir se aproximem das minhas.

Isto, particularmente, porque existem dois equívocos cuja sedimentação se tem vindo a tornar evidente.

Por um lado, se seria muito surpreendente que o PS não ganhasse com maioria relativa e em forte quebra, enquanto o BE cresce fortemente e o PCP mantém ou mesmo reforça posições, nada disso garante minimamente que essa marcada "maioria de esquerda" se venha a traduzir em políticas públicas, convergências previlegiadas ou dependências parlamentares.
Após 4,5 anos de autismo autoritário, cria-se de facto uma situação radicalmente diferente, na qual talvez Sócrates nem sequer saiba fazer política.
Mas NADA torna essa lógica e desejada abertura à esquerda mais provável do que acordos, deste PS e deste Sócrates, com o CDS (de que houve antecedentes em alturas mais absurdas) ou com o PSD.
Esta última possibilidade é, aliás, dramaticamente reforçada pela necessidade que os porta-vozes das duas forças têm tido de, desmentindo-a, enfatizarem divergências tão supostamente insanáveis quanto irrelevantes na lógica governativa do centrão.

Ou seja, a incerteza e confusão que aí vem irá exigir uma manipulação muito judiciosa da flexibilidade e da firmeza, para a qual gostaria de contar com pessoas em cuja capacidade de o fazer confiasse plenamente.

Um segundo equívoco em marcha tem, temo bem, a ver com o significado, a prazo, dos previsíveis aumento marcante do BE e solidez eleitoral do PCP.
A actual lógica de esperada deslocação de votos e erosão do PS lembra-me singularmente, apesar das inúmeras diferenças, aquela que ocorreu nas eleições em que a APU/CDU teve a sua maior votação em legislativas.
Contra os meus desejos, intuo muito fortemente que, na ausência de uma radical mudança no relacionamento entre BE e PCP (ou de um terramoto social), a votação do BE neste domingo será um pico inigualável durante muitos e bons anos, enquanto à do PCP se seguirá uma erosão bem menos marcada, mas continuada.
Mas aquilo a que assistiremos daqui a umas horas será, quase certamente, a um embandeirar em arco por parte dessas duas forças políticas - que muito provavelmente continuará nos próximos 4 anos, julgando seguras novas subidas futuras.

Também para minimizar essa tendência mútua para o "orgulhosamente sós" e para o auto-comprazimento com as superioridades em relação ao outro (superioridades que ambos os partidos têm, em aspectos diferentes e, afinal, complementares e complementarmente necessários), gostaria, então, de poder votar nas pessoas em quem mais confiasse.
Porque não é por aí que passa uma efectiva alternativa de futuro.

Mas, com o menor entusiasmo que estas preocupações me provocam, lá estarei de caneta em punho, daqui a umas horas.
Quanto mais não fosse, para contribuir para que Portugal seja, na 2ª feira, um país politicamente diferente.

post scriptum: o boneco foi roubado ao Carlos Serra.

3 comentários:

Podrick disse...

sobre o "centrão", não faz sentido chamar de extremo-centrismo uma política tão fundamentalista quanto outras?
P.

AGRY disse...

No meu blogue, há lá um selo de qualidade, a esperar por si.

(Paulo Granjo) disse...

Pavel:
A ideia tem piada - e, se calhar, bem mais potencial do que a aparente ironia.
A dificuldade será, talvez, a grande mobilidade (quer nacional, quer em pouco tempo - e bastante mais que relativamente à direita e à esquerda) daquilo que vão sendo consideradas políticas "de centro".
Que tal elaborar umpouco mais a ideia no seu blog, para a gente discutir?

Agry:
Desde já agradeço.
Agora, estou de saída para um compromisso de trabalho. Mas lá irei logo que possível.