domingo, 11 de outubro de 2009

No último do Luís Sepúlveda

«Se na queda o gira-discos não tivesse encontrado outra resistência além do ar húmido de uma noite invernosa, a pancada teria sido muito mais feroz e a estrutura geométrica desenhada pelos engenheiros alemães, nem adequada nem desenhada para suportar semelhantes choques, após um estremecimento atómico, a traição da cola, o divórcio dos encaixes e a fuga dos pregos sem cabeça que a suportavam, não passaria de um monte de estilhaços disseminados pelo passeio molhado. Mas o gira-discos foi travado pela cabeça de um sujeito que, tendo toda a cidade para se mover, escolheu aquela rua, aquela noite de chuva e aquele instante de fatalidade vertical.»

(in A sombra do que fomos, p.22)

Quando o leitor usa sistematicamente, nas suas aulas sobre o absurdo da incerteza e a domesticação do aleatório, o exemplo de um piano de cauda que cai de um sétimo andar em cima de um pobre transeunte que não tem nada a ver com o assunto, como não se sentir identificado com o autor?

Ainda vou na página 59.
Mas o livro está óptimo.

Sem comentários: