sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Primeiros milhos


Ainda são conhecidos poucos resultados das eleições moçambicanas (disponíveis aqui, por cortesia do Carlos Serra): 16% das mesas quanto à votação para o parlamento e 19% quanto às presidenciais.

Também só nas duas maiores cidades e nas duas províncias mais a sul (que, tal como a cidade de Maputo, são as zonas mais fortes da Frelimo) os dados ultrapassam 25% das mesas.

Com todas as reservas que tão poucos dados aconselham, já se justificam alguns comentários.

1 - A esperada vitória da Frelimo e de Armando Guebuza deverá ser bastante substancial. De momento, está em torno dos 75% mas, mesmo com as alterações que irão ser provocadas pelo escrutínio das zonas que lhes são mais adversas, é muito provável que fiquem acima dos 2/3.

2 - Deviz Simango e o MDM estão agora em segundo lugar, mas Dhlakama surge bem mais forte da Zambézia para norte, pelo que (dado o peso eleitoral dessa província e de Nampula, e visto que só aí estão escrutinadas 10,6% das mesas) é provável que a situação se inverta.

3 - Para um partido recente e que só foi autorizado a concorrer em 4 círculos eleitorais, o MDM está a obter um score impressionante: 20% em Maputo, 37% em Sofala e 9% na muito frelimista província de Inhambane (ainda não há dados do Niassa).
Se as actuais tendências se mantiverem, o MDM poderá eleger de 11 a 14 deputados (a que se poderá eventualmente juntar outro pelo Niassa, embora as votações nas províncias limítrofes não lhe sejam nada favoráveis). Ou seja, pode eleger 16 a 22% dos deputados dos círculos onde pôde concorrer.

4 - Ao contrário do que eu esperava (pois os eleitores contavam com a reeleição de Guebuza e apostavam na diferença que os deputados do MDM poderiam fazer no parlamento), Deviz Simango está a ter sistematicamente uma votação mais alta que a do seu partido, nos círculos onde este foi autorizado a concorrer.
Essa diferença é na ordem dos 2 pontos percentuais e parece vir de votantes da Frelimo em Inhambane, de votantes da Renamo em Maputo e de ambos os partidos em Sofala.

5 - Embora existam muito poucos dados do norte do país, Guebuza diminui a sua votação à medida que nos aproximamos do centro, acontecendo o contrário com a votação de Dhlakama e com a vantagem que este obtém sobre Simango.
No centro, Tete mantém-se um baluarte da Frelimo, enquanto Simango esmaga Dhlakama em Sofala e fica a pouca distância em Manica.
No sul frelimista, Simango tem uma votação sistemática e significativamente superior à de Dhlakama.

6 - Simango não conseguiu entrar em força na províncias mais populosas do norte do país. Mas, aí, foi buscar votos tanto à Renamo quanto à Frelimo.
O mesmo acontece aliás em Manica, embora aí já tenha chegado aos 12%.
No sul, os seus resultados vêm de pessoas que votaram Frelimo, excepto em Maputo (cidade e província) onde de novo capitaliza pessoas que votaram em ambos os seus oponentes.

Esperemos, agora, por mais dados.

8 comentários:

Linette Olofsson disse...

Muito interessante a sua analise.
Em Niassa, há problemas com cadernos trocados, falsos, mesas de votaçao alteradas. Sao alguns dos problemas existentes.
Reclamaçoes ja foram entregues dentro do prazo.
Informaçao que recebi esta tarde da Provincia do Niassa, alertei ao Josef Halon, aguardemos pelas investigaçoes.

Unknown disse...

O pais vai pagar o preco destas eleicoes. A corrupcao saiu legitimada. A arrogancia venceu. O Estado de Direito (que no dicionario de alguns juristas Mocambicanos, significa julgar, membros da oposicao) vai ser claramente implementado. A Constituicao da Rep. vai ser alterada, com argumentos de que "nao ha alternativas", "por imperativos nacionais".
Os intelectuais, a massa pensante, assiste a tudo isso passivos! Mas o preco maior sera pago por eles, quando forem censurados, perseguidos, vigiados.

Osvaldo disse...

So tenho pena dos milhares de moçambicanos, que mais uma vez enganados, continuarão a comer o pão que o diabo amassou. Vamos continuar a assistir um group de gananciosos fazendo da "democracia" sua brincadeira favorita que garante a mola dinheiro pra seus caprichos.É caso pra concordar: "A arrogancia venceu"!

Leo disse...

Guebuza e Frelimo seguem na dianteira no apuramento provisório
Depois de processados 36,47 por cento do número de mesas de votos em todo o país, Guebuza conseguiu 1.239.055 votos, correspondente a 77 por cento.

Daviz Simango segue em segundo lugar com 188.613 votos (12 por cento), seguindo de Afonso Dlhakama, candidato da Renamo que arrecadou 180.820 votos (11 por cento).

Para as legislativas a Frelimo arrecadou 1.142.826 votos, a Renamo 177.997 votos, o MDM 122. 865 votos, o PDD 19.250, votos, o PVM 5.199, ADAC 3878 votos, Ecologistas 598, União Eleitoral 2.498, ALIMO 3722, PAZS 4.250, PPD 992, PANAOC 813 votos, UM 1.047 votos, MPD 1.751 votos e PARENA 1.558 votos.

Esta informação é da Rádio Moçambique. Porque é que não a valoriza, Paulo? É que quem o lê a si ou ao Carlos Serra até pode ficar a pensar que só três partidos concorreram e afinal estiveram 15 partidos a concorrer.

Desculpe-me a crítica mas os moçambicanos e os portugueses ficavam mais bem servidos com factos em vez de só terem especulações.

(Paulo Granjo) disse...

Leo:

Obrigado pelos dados.

Não chegam de facto a Portugal, onde resido - embora há já 10 anos vá a Moçambique, em pesquisas ou aulas, entre 2 e 9 meses por ano. Talvez por isso (e pelo tempo e esforço que invisto para aí compreender as coisas), há quem pense que moro em Maputo.

Quanto à questão que levanta, repare que também em Portugal não concorrem só os 5 partidos de que ouviu falar, mas talvez também 15.

Não sei se toda a gente gostaria de ter fácil acesso a todos os dados, mas pelo menos eu gostaria.
Mas não me parece que quem divulga os dados a que o Carlos Serra tem acesso em segunda mão e eu em terceira sejam movidos por quaisquer intuitos maquiavélicos de esconder "os mais pequenos".
Creio que é difícil de questionar que o próprio PDD (a força mais credível que anteriormente tinha aparecido, fora do binómio FreNamo) não chegou sequer a conseguir assumir a posição de um partido relevante a nível regional, quanto mais nacional. E não foi por falta de lhe darem atenção, nas eleições anteriores.

O silêncio a que os "mais pequenos" são votados poderá parecer injusto, sobretudo para quem neles se empenha. Mas é totalmente compreensível e estranho seria que acontecesse o contrário.

Leo disse...

Deixo-lhe o link da Rádio Moçambique:

http://www.rm.co.mz/

(Paulo Granjo) disse...

Thanks

Rafael da Camara disse...

Na verdade a arrogancia meis uma vez venceu.Que pena este povo merece uma coisa melhor.