Teixeira dos Santos diz que, se a proposta governamental de Orçamento Geral do Estado para 2011 for chumbada, os canais de financiamento estrangeiro (leia-se, a compra de títulos de dívida pública pela banca comercial) serão imediatamente encerrados, sendo «inevitável» recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira.
Tirando a evidente falácia da primeira parte do raciocínio (pois os abutres teriam uma óptima desculpa para exigir juros mais altos em futuras emissões, mas era o que faltava deixarem escapar essa oportunidade de negócio mais chorudo), até seria óptimo que tal acontecesse.
Afinal, que mal teria, numa crise que exige investimento e estímulo à economia, recorrer a uma fonte de financiamento com juros a cerca de 1/4 do valor exigido nos mercados financeiros, em vez de mergulhar as pessoas em terríveis dificuldades e a economia em profunda recessão, para tentar satisfazer esses mesmos mercados e os governos dos países cujos bancos mais dívida soberana compraram antes?
É verdade que 1/3 do dinheiro do Fundo de Estabilização vem do FMI, que teria a possibilidade de fazer exigências. Mas poderiam tais exigências aproximar-se, sequer, daquilo que o Governo está já disposto a fazer neste orçamento? Não parece plausível.
A única razão "racional" para os governos dos países em dificuldade orçamental (devido aos ataques especulativos dos mesmos mercados financeiros que foram salvos, por governos, da crise que eles próprios provocaram) não recorrerem ao Fundo de Estabilização é evitarem reconhecer que fizeram asneira da grossa e que não conseguem sair dela, sozinhos, sem mergulharem os seus países no descalabro socio-económico - alternativa que preferem, a pôr em causa a sua imagem.
Outra razão é, claro, a incapacidade de pensarem a política e a economia para lá dos entrolhos da ditadura do impessoal "mercado", mesmo quando andaram com ele ao colo e são por ele atacados de morte.
Diria então que, se o chumbo da proposta de OGE pode obrigar ao recurso ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira, mais uma razão para a chumbar!
PS: voltarei a esta questão, de forma mais circunstanciada e argumentada, logo que possa. É que não é fácil nem curto desconstruir lugares-comuns e, sobretudo, é desaconselhável fazê-lo com o grau de irritação que agora sinto.
PS2: o tema foi objecto de um esclarecimento que talvez vos interesse, aqui.
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