Um dos problemas de já termos visto passar os 40 anos e de mantermos no "disco rígido" uma quantidade enorme de memórias aparentemente inúteis é que, de vez em quando, nos lembramos de coisas que mais valeria esquecer, a bem da nossa errática auto-estima colectiva e dos nosso respeitinho pela "autoridade" e "pelas figuras públicas".
É o caso, no longínquo dia da primeira Greve Geral realizada em Portugal, da aparição televisiva do então Ministro da Administração Interna e actual guru Ângelo Correia, denunciando uma situação de "insurreição iminente", cuja principal prova era a intercepção, pela polícia, de um automóvel transportando uma caixa com pregos, certamente destinados a furar pneus e criar o caos no país.
Se os mais maduros (ou, conforme a perspectiva, os mais próximos do prazo de validade) puxarem pelo bestunto, talvez se lembrem do gozo que na altura se espalhou, acerca da logo apelidada "Insurreição dos Pregos".
Foi essa anti-patriótica e anarquizante memória que hoje me assaltou, ao ler neste jornal que um perigoso casal foi detido na fronteira na posse de panfletos anarquistas contra as forças policiais (descritas, pasme-se, como "chulos e prepotentes" e que "torturam, maltratam, matam e ficam impunes"), para além de um arsenal de armas brancas composto por um estilete, uma navalha e uma "catana de 40 centímetros".
(O que entre outras coisas prova, como verificarão os leitores africanos, que as catanas encolhem com o frio, ao chegarem a climas europeus.)
E dei comigo a perguntar:
Será que notícias destas são o custo de se ter o mais conspícuo ex-chefe da secreta a exercer as funções de Ministro da Administração Interna?
Mas uma outra dúvida existencial me assalta:
Escrevia o velho das barbas que a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.
Mas, se a primeira já era farsa, o que é que o seu remake nos reserva?
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
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