terça-feira, 1 de novembro de 2011

Coisas que a gente aprende com a polvorosa de hoje nas chancelarias europeias, nos tais de mercados e nos media



Parece que o primeiro-ministro grego finalmente se lembrou (com um ano e tal de atraso) de um filme norte-americano que ambos devemos ter visto há uns 20 anos atrás, e em que a rechunchuda protagonista tinha como avisado lema que «se devemos 10.000 dólares ao banco, o problema é nosso; se devemos 10 milhões, o problema é do banco».

Parece que, para a “Europa” política de directórios, acordos de pistola na nuca e oportunas visitas de banqueiros a reuniões dos conselhos de ministros, essa coisa de convocar os mecanismos democráticos (mesmo que meramente formais) para que a populaça diga qualquer coisinha acerca do tipo de corda que preferem lhes aperte a garganta é uma inacreditável traição e subversão das regras do jogo, jogado entre gentleman que não ligam a esse lixo humano que nós somos.

Parece que, a julgar pelas declarações de dealers entrevistados pelas televisões, afinal os teis de “mercados” só querem o nosso bem e a estabilidade, andando frustrados, coitadinhos, com qualquer obstáculo às medidas para ultrapassar a crise a bem dos povos. Fica provado que só más-línguas verrinosas (entre as quais me incluo) podem achar que a sua preocupação é poderem continuar a recuperar especulativamente, em nome da crise, das perdas resultantes das suas asneiras que a causaram.

Parece, já sem ironias, que os lugares-comuns dominantes acerca da natureza da crise, da imposta resposta a ela e das (ausências de ) possibilidades futuras estão tão arreigadas, mesmo entre pessoas inteligentes e com provas passadas de espírito crítico, que a única justificação que encontram para este tardio ataque de democracia do primeiro-ministro grego é a ideia de que o homem está obcecado por se perpetuar no poder.

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