O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida emitiu um parecer considerando que o Ministério da saúde «pode e deve» racionar o acesso aos tratamentos mais caros para pessoas com cancro, sida e doenças reumáticas, para além do acesso a meios de diagnóstico como TACs, ecografias e ressonâncias magnéticas.A justificação para tão ético e humano parecer é a «luta contra o desperdício e a ineficiência, que é (sic) enorme em saúde».
A lógica da decisão, para tratar as pessoas ou as deixar morrer (e/ou deixar sofrer e degradar a qualidade do resto da sua vida quando tal é evitável) é um critério resultante de uma criativa reelaboração do Juramento de Hipócrates: a relação custo/benefício.
«Tudo depende do custo dos tratamentos e da avaliação de se prolongam a vida durante tempo suficiente para justificar os gastos.»
Um critério, é verdade, já alegado pelo negócio das seguradoras para evitarem diminuir os lucros - o que não espantará muito, já que o actual Ministro da Saúde foi figura central na instauração de tais empreendedoras actividades em Portugal, e certamente para elas voltará quando o despedirmos das suas actuais funções, ou acabar de desmantelar o SNS.
Supõe-se que se seguirá a definição burocraticamente justificada de a quantos euros temos direito para cada mês de vida que possamos conquistar ou, no caso das doenças reumáticas, por cada intensidade de dor e grau de imobilização que nos possa ser evitado.
Isto para que seja com total racionalidade de gestão financeira que nos venham um dia a anunciar:
«A senhora desculpe, mas a sua esperança de vida não justifica o dinheirão que a gente podia gastar consigo. Olhe... encomende a alma a deus e prepare-se para bater a bota, que a sua vida não vale o que custa.»
Que gente é esta, cujas mães certamente não merecem os mesmos insultos que os filhos?
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