Paulo Langa parecia ainda mais novo do que era. Talvez ajudasse a essa impressão a sua permanente curiosidade que, por exemplo, o fazia meter conversa acerca de assuntos de antropologia e epistemologia, com um ar de juvenil urgência, sempre que me encontrava. E, durante a minha última estada em Moçambique, isso acabou por acontecer muitas vezes.
Bastante alto e magro, fui-me habituando tanto a essas suas características que tiveram que ser os colegas mais novos, do Departamento de Antropologia da UEM, a alertar-me para a sua crescente magreza. As suas chamadas de atenção para que ele procurasse apoio médico parecem, no entanto, ter chegado tarde de mais.
Nunca foi meu assistente – coisa que, aliás, me pediu que acontecesse na minha próxima ida a Maputo - mas, apesar disso, tivemos um longo caminho comum.
Como todos os antropólogos formados na UEM, foi meu aluno e, numa das cadeiras em que isso aconteceu, apresentou um trabalho de elevada qualidade, citado no artigo que aqui afixei em 18 de Fevereiro– um artigo que, de forma perturbante, dediquei a um irmão que tinha acabado de falecer.
Mais tarde, fui orientador da sua tese de licenciatura, acerca de um caso muito interessante de efeitos perversos de um projecto de ONG internacional. Também esse seu trabalho, para além do prazer que nos deu a discutir durante a sua feitura, veio a ser premiado com uma nota elevada.
Procurarei sintetizá-lo em artigo, para que seja tornado público, como merece.
Lido mal com a morte.
Sobretudo com a morte de um homem de 31 anos que, há poucas semanas, se entusiasmava com a perspectiva de, avançando para mestrado, poder fazer pesquisa fora da lógica das consultorias. E que se preparava para o fazer.
Um ex-aluno não é, obviamente, como um filho. Mas, tal como a raposa da nossa infância tardia, é difícil não nos sentirmos responsáveis por aqueles que cativámos.
quarta-feira, 4 de julho de 2007
Paulo Langa – 1976/2007
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