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Com a diminuição das descargas de Cahora Bassa, a água vai baixando no Zambeze e a crise parece estar passada.
Volto a louvar o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, pela abordagem prospectiva e atempada da situação.
Comentava hoje um colega, de forma algo blasé, que são previsíveis as zonas que irão alagar. Sê-lo-ão, certamente; mas para transformar essa previsibilidade em resposta eficaz é necessária planificação, organização e competência.
No dia em que (dream on...) essas características passem a estar presentes, ao nível exigível, nas instituições públicas - aqui ou noutros países, incluindo as estruturas de protecção civil - deixarei de me sentir na obrigação de as louvar.
A partir de agora, lá voltará o pessoal a casa - nuns 20.000 casos, segundo as estimativas iniciais, a reconstruir.
Voltarão também as polémicas citadinas acerca da suposta "burrice" e "casmurrice" das populações zambezianas.
Depois de cada cheia nesta zona, as instituições estatais costumam dar apoio em cimento, chapas de zinco e comida, a quem construa casas em alvenaria nas zonas altas. As pessoas têm, pelo seu lado, que fazer os tijolos e construir, o que não é complicado face às tipologias de habitação e aos saberes existentes.
Acontece que grande parte das pessoas costumam receber os materiais e ir construir em zonas alagáveis, apesar das acções de sensibilização.
Para alguma gente discutindo o assunto na poltrona da sua sala, afinal, «eles (e/ou os respectivos régulos) estão mesmo a pedi-las».
É esquecer, para além das razões simbólicas e micro-políticas, uma coisa simples: Sobretudo para populações ribeirinhas, porque é que se havia de partir os rins a cultivar terras secas e pouco férteis, quando estão ali disponíveis terrenos de aluvião, já bem conhecidos?
Depois, já mostrava Adolfo Yañez -Casal, no seu livro Antropologia e Desenvolvimento: as aldeias comunais de Moçambique, quando uma pessoa se desloca a pé para fazer trabalhos agrícolas, a distância é uma variável essencial da racionalidade económica. A partir de certa altura, o tempo gasto na ida e vinda à machamba torna-se contraproducente. Ou seja, cultivar à beira rio implica não morar a grande distância da margem.
Com tanto dinheiro correndo para tantos estudos (quer os das sucessivas "modas" academico-oénegéticas, sempre repetitivos entre si, quer os mais absurdos que imaginar se possa), talvez fosse esse o estudo que realmente valesse a pena: como resolver este problema, a contento da segurança e das necessidades das populações?
Talvez se viesse a ver que alguns saberes antigos, como a dupla residência sazonal, mereceriam ser recuperados. Ou talvez se descobrisse, entre as pessoas, o germe de novas soluções.
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