Acabou o alerta vermelho relativo às cheias do Zambeze e, segundo parece, o balanço das vítimas é infelizmente superior ao da altura em que o assunto fazia as manchetes dos jornais.
É tempo de reconstrução e (esperemos, a bem das populações ribeirinhas) de reflexão.
O engenheiro José Lopes, de quem já transcrevi aqui um artigo, coloca no Xitizap uma pergunta essencial: «Quando em duas estações de chuva seguidas (2007/08) duas tragédias hídricas muito similares ocorrem no Vale do Zambeze, haverá ou não conclusões a tirar quanto à imediata reformulação da gestão hidrológica da Hidroeléctrica de Cahora Bassa?»
Conforme tive oportunidade de comentar por aqui, a resposta parece evidente, mas os interesses em jogo (sobretudo sob pressão do reembolso da dívida contraída para pagar a reversão da HCB) não justificam grandes optimismos de que ela seja sequer equacionada.
Num quase desabafo, lamento que esta questão não tenha tido suficiente visibilidade pública quando o estado português ainda era o sócio maioritário. Nessa altura, até a retórica da "insensibilidade de Portugal" para com o sofrimento das populações poderia ter sido mobilizada - e com uma certa razão, pois se "Portugal" nem sequer sabe do assunto, seria justo apontar essa insensibilidade à administração da empresa. Talvez até, nessa altura, o estado moçambicano pudesse ficar desse lado da barricada.
Agora, temo bem que uma questão e reivindicação como esta venham a suscitar, dos poderes oficiais, as correntes retóricas do anti-patriotismo, do interesse nacional e das mãos invisíveis.
Mas quem sabe? Por vezes, os períodos eleitorais fazem milagres bem desejáveis.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário