quinta-feira, 13 de março de 2008

Excertos de "Um Amor Colonial" (2)


«Mas um dia encontrei-a! Encontrei-a em Algés, porque eu comecei a bater a zona de Algés até ao Dafundo para ver se descobria a miúda. Numa loja de brinquedos, vejo a miúda a sair. Pronto! A miúda não me viu, apanha o eléctrico e eu apanhei também o eléctrico. Só que ela não sabia que eu ia no eléctrico e, então, vejo que ela desce no Dafundo. E quando desce do eléctrico, porque vai para casa, encaminha-se para uma zona residencial. Quando ela entra na rua dela, eu vejo que entra num prédio, só que o prédio tinha três andares e eu fiquei logo: «Agora, qual será o andar?».
Resolvi ficar cá em baixo à espera. E então, quando passados aí dez minutos da miúda entrar vem uma senhora à janela olhar para vários sítios, eu pensei: «É ali que ela mora, porque é a mãe que veio ver quem é o tipo que vem atrás da miúda». Pronto, tomei nota daquilo e fui-me embora.
Entretanto, eu queria comunicar com ela, mas não sabia como. Então, comecei-lhe a escrever cartas, mas sem nome, porque eu desconhecia o nome dela. Eh pá, cartas simples, não é? A dizer que gostaria de falar com ela e tal... Mas, quando eu endereçava a carta era sempre «Menina...?» e mandava para a morada que eu conhecia. É claro, a família teve conhecimento porque a carta ia através dos correios.
(…)
Na última carta que eu lhe escrevi (porque estava cansado já da situação, isto já ia lá a caminho dos dois meses e eu sempre a persegui-la), na última carta eu disse-lhe mesmo: «Olhe, esta é a última carta que eu lhe vou escrever. Se não me der uma chance de um pequeno diálogo, pelo menos para me conhecer, ou para me mandar para qualquer lado assim menos agradável», disse-lhe eu, «é a última vez que eu venho ao Dafundo». E então eu disse-lhe que no dia tantos, às tantas horas, eu estaria no Café Lobito.»
(capítulo 4)

Sem comentários: