terça-feira, 18 de março de 2008

Sarna para nos coçarmos

Portugal quer preparar legislação que criminaliza a apologia do terrorismo.

"E então?", perguntam vocês. O terrorismo não é uma coisa execrável? A sua apologia não é e não deve ser considerada em si mesma um crime, mesmo que potencial?
É, sim senhor! O "então" está na necessidade e pertinência.

A igreja católica, velha e experiente senhora dos nossos fazeres colectivos, sempre teve o bom senso de saber que só se proíbe aquilo que as pessoas fazem ou querem fazer.
(Aliás, por causa disso é que podemos ter hoje preciosas informações históricas acerca das práticas sociais e sexuais de há centenas de anos, com base nos manuais de confissão feitos para os padres.)
Mas, se a possível infracção só existe de facto na nossa cabeça de reguladores, pensava ela, não vamos dar ideias à maltosa.

Estes proibicionistas caloiros, sem a experiência e sabedoria da velha senhora, são de outra cêpa.
A coisa vai ser criminalizada na Europa onde isso é um problema? Também queremos! Também queremos!

Não interessa se o terrorismo não é problema em Portugal desde as FP25 - que, segundo me lembro, nem faziam apologia; achavam que toda a gente ia gostar tanto que os havia de seguir em gloriosas hordas até à vitória final...
Não interessa se não há um "problema religioso" em Portugal, se os muçulmanos (os novos eternos suspeitos de terrorismo) vivem, por lá, a religião "na sua" - tal como os católicos locais, embora estes metendo-se um pouco mais na vida dos outros.
Não interessa se a principal comunidade islâmica no país tem, internacionalmente, como princípio de conduta religiosa respeitar as leis e princípios dos países onde se radica.
Não interessa se os líderes maometanos locais têm uma evidente conduta de pedagogia da tolerância e coexistência religiosa, dentro do quadro de um estado de direito.
Nada disso interessa, porque "a gente também quer".

Esta iniciativa legislativa é desnecessária e absurda.
É, no quadro actual, insultuosa para os muçulmanos portugueses e vivendo em Portugal.
E, como diria a velha e experiente igreja católica, é perigosa.

Mas que esperar de um Ministro da Administração Interna que foi chefe da "secreta" e (a julgar pela foto) de um velho Ministro das Colónias fascista que, embora cultivando uma imagem de moderado entre os "ultras", escrevia, em tempos de plena retórica da "Nação Multirracial", que o estatuto de assimilado não se herdava, que os africanos filhos de cidadãos nasciam indígenas (Administração da Justiça a Indígenas, p. 28)?
Ficam bem na fotografia.

Sem comentários: