quarta-feira, 30 de abril de 2008

Malhar em ferro frio

O PCP anunciou que vai apresentar uma moção de censura ao Governo.

O que não falta ao governo são, certamente, razões para ser censurado.
Se outras não houvesse, bastaria um primeiro-ministro que reage a essa notícia dizendo que se trata de uma "moção de censura contra o diálogo na concertação social"...

Mas, realmente, o novo Código de Trabalho (pois há alterações que transformam as coisas em algo qualitativamente diferente) merece toda a censura e toda a oposição - tal como o tinha merecido, em Janeiro, a ratificação do Tratado de Lisboa sem referendo, contra o próprio programa eleitoral do governo.
Assim como na altura dessa moção de censura do BE, parece que para o nosso primeiro a política (nas grandes questões nacionais, e não apenas para ganhar a concelhia do partido lá na santa terrinha) se resolve e reduz a umas cambalhotas hermenêuticas e a umas bojardas bombásticas em que nem sequer acreditam o próprio e os acessores que as escreveram.

Por parte dos censurantes, ainda percebo que uma questão de Estado como a ratificação do Tratado possa levar à apresentação de uma moção que se sabe, à partida, ir ser derrotada.
Não dou menos importância à precarização do emprego. Mas fazer, agora, uma moção de censura para «transportar o descontentamento, a angústia e o protesto» para o parlamento soa-me a leviandade.

Porque há muitas outras formas de fazer esse transporte.
Porque se banaliza a figura da moção de censura.
Porque um gesto simbólico votado à derrota vai ser apresentado como um grande combate político.
Porque vai ser olhado pelas pessoas, mais do que como uma luta do PCP com o PS, como um "não ficar atrás" do BE («e, vejam, não nessas mariquices das Europas, mas nos problemas concretos dos trabalhadores!»).
Porque o pessoal, ao fim e ao cabo, se está nas tintas para que o assunto seja abordado numa moção de censura para perder.
Porque se vai dar oportunidade ao nosso primeiro para dizer, enquanto nos lixa a vida, que a "democracia falou" e que a legitimidade das "alterações" saiu reforçada.

Claro que, se estivesse lá sentado, votaria a favor da moção de censura - ingloriamente, como os outros que o vão fazer.
Claro que gosto de cantar «Glória a todas as lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais». Mas convém escolhê-las.
Claro que tenho plena consciência da importância política dos gestos simbólicos. Mas eles podem simbolizar impotência.
Ao fim e ao cabo, parecem-me demasiados "porques" para que alguém alce esta moção em bandeira. E fazê-lo levanta mais um:
Porque parece que não se sabe que raio mais fazer.

Vistas de longe, esta encenação e deixas (opositoras e primeirísticas) parecem um bocado ridículas e bastante confrangedoras.
Digam-me: vistas de Portugal perdem essas características?
Ou só quando são vistas de dentro dos aparelhos partidários?

5 comentários:

Anónimo disse...

É uma pena.
O PS já não merece a confiança das pessoas.
Só querem governar para as grandes empresas, para que estas concedam boas reformas: Pina Moura e Jorge Coelho são 2 bons exemplos de quais são as prioridades do PS actualmente.
Vitalino fez bem o seu papel, piorou a legislação do Trabalho Temporário e é pago por estas empresas, para ser o Provedor dos Trabalhadores que nunca defendeu na Assembleia da República.
Vieira da Silva liberaliza o Código e ainda um dia estará à frente de uma Empresa de Trabalho Temporário, o novo esclavagismo.

(Paulo Granjo) disse...

É.
Mas, ainda mais que a desfaçatez na "recolha de prémios", impressiona-me que haja quem faça o servicinho às empresas independentemente de tráficos de influências, acreditando realmente que o faz a bem da "economia" e do "país" (assim, entidades etéreas, abstractas e vagamente divinas), enquanto lixa as pessoas que fazem essa economia e esse país.
Farto-me de dizer que só vemos aquilo que estamos preparados para ver. Mas porra! Há gente a governar-nos que quando aprendeu às pressas uma cartilha (se fossem de um outro partido, dir-se-ia uma "cassete") não consegue ver mesmo mais nada.

Ana Mandillo disse...

Diga- me conhece, o Mário Barradas????

(Paulo Granjo) disse...

Só de nome (refiro-me àquele que foi organizar teatro na minha terra sulista). Porquê?

Ana Mandillo disse...

Exacto, é esse mesmo, O homem do Teatro!!!!!
O pai das minhas filhas e os meus cunhados são de Moçambique, Lourenço Marques, e o pai andava lá a exrecer advocacia, mas também, a fazer teatro por tudo o que era lado.
E é um homem, de quem gosto muito,sempre fiel aos seus ideais, mas extremamente inteligente.
Pensei que se conhecessem!