Quando a filha do chefe, que "não faz política" mas dirige calmamente uma instituição oficial de âmbito cívico, vem dizer a jornais estrangeiros que os cubanos devem poder sair livremente do país, isso não é a mera constatação de uma evidência, uma acaso, ou muito menos uma rebeldia da senhora.
É um anúncio oficioso, feito uns tempos antes da sua concretização.
Com demasiada frequência, a caturrice e a crença de que ser libertador legitima tudo, e para sempre, leva a coisas muito difíceis de compreender (e mais ainda de aceitar) pelo comum dos mortais.
Veja-se a atitude das lideranças da África austral para com Mugabe.
Veja-se a recusa da Frente Sandinista em realizar as eleições que o seu programa previa e que teria ganho "na boa", nos idos de 1980.
São coisas com custos muito altos. Mais ainda do que para "a causa", para as pessoas cuja libertação (e, logo, liberdade) justificaram e justificam essa causa.
Mas são coisas que dão sempre para justificar, com base numa qualquer retórica muito convincente. Como, em última instância, se pode fazer com tudo.
E a justificação retórica do injustificável cria um círculo vicioso, onde mandam a necessidade de coerência com o que foi dito e a reacção, quantas vezes repressiva e imitadora de outros tempos, ao desencanto desses ingratos que libertámos e que acham que isso de controlo e restrições de todo o tipo não são bem uma libertação.
Por vezes, o círculo vicioso pode e tem que ser quebrado.
Parece-me bem que este é um sinal disso.
domingo, 11 de maio de 2008
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