quinta-feira, 22 de maio de 2008

A bola vista de Maputo


Acabada a final da Liga dos Campeões europeus, com a vitória do Manchester United, começaram a soar nos prédios à volta, aqui em Maputo, cornetas e buzinas.
Adeptos do Manchester por terem alguma coisa a ver com a cidade, só conheço o meu amigo Alexandre. De onde vem este entusiasmo, então?

A principal ligação que hoje existe entre Moçambique e Portugal (desculpem-me os cooperantes, óénegistas, saudosistas, divulgadores culturais e empresários) é o futebol.
À segunda-feira, em todo o lado se discutem os jogos da Liga portuguesa, incluindo entre professores universitários.
O facto de não ter sido transmitida a final da Taça de Portugal foi visto como uma enorme falha de serviço público, por parte da RTP África e dos canais locais.
Toda a gente é do Sporting, do Benfica ou do Porto, tirando alguns exóticos cujo coração bate por outras lusas cores. Por vezes, há relação entre isso e ser dos ex-Sporting e Benfica de Lourenço Marques, mesmo se os equipamentos pós-independência procuraram cortar os cordões umbilicais (o Maxaquene tem todas as cores dos principais clubes portugueses menos o verde, o Desportivo virou alvi-negro, embora subliminarmente com o desenho da bandeira de Lisboa), outras vezes não. Numa curiosa transposição geográfica, a maioria dos adeptos moçambicanos do Porto nasceram no norte do país.

Mas... o Manchester e o Chelsea?
O pessoal gosta muito, por aqui, do Eto (Barcelona) e do Drogba (Chelsea), o que leva a simpatias pelos seus clubes.
Mas, neste caso, o assunto era outro - ou, creio, outros dois.

Tirando alguns indefectíveis, havia muito moçambicano que não queria ver o Chelsea ganhar sem o Mourinho.
Eram mais ainda aqueles que não queriam ver o Cristiano Ronaldo perder.

Eu, que sou mais da linha Figo (embora me maravilhe com a genica e habilidade do puto), fico um pouco surpreendido com a rapidez e profundidade com que o Cristiano Ronaldo ocupou os corações moçambicanos.
Pensando bem, no entanto, a sua forma de jogar criativa e vistosa tem muito com que os moçambicanos se gostem de identificar.

É a parte imaginada de Portugal de que gostam, numa relação sempre dúbia e ambígua.
Lamento escrevê-lo, mas esse puto mal educado e genial com a bola é, hoje em dia, o principal embaixador de Portugal por estes lados.
Mesmo quando falha.

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